Liberosis

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Liberosis: O desejo de se importa menos com as coisas.

SELENA ATENDEU a porta na terceira batida, com o robe de seda mal atado e os cabelos desgrenhados.

– Sinto muito, sei que é tarde. Desculpe, sou uma péssima amiga, mas preciso de você. – Camila soluçou assim que se deparou com o rosto sonolento da amiga.

– Camila! – exclamou Selena, dando um passo à frente para envolvê-la em um abraço. – Meu Deus! O que aconteceu?

– Sou uma completa idiota! Como pude permitir que isso acontecesse? Por que não consegui enxergar? – balbuciou Camila, limpando as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto com as duas mãos.

– Acalme-se – disse Selena, acomodando-a em uma cadeira e lhe entregando uma caixa de lenços de papel. – Está se referindo a Shawn? Ele a quer de volta? O que está acontecendo?

Camila fez um movimento negativo com a cabeça, enquanto uma onda de vergonha a invadia ao se lembrar de tudo que estivera escondendo da amiga.

– É Lauren – disse ela. – Tenho dormido com ela. Pensei que a odiava e depois… Oh, Deus! Não posso acreditar que me apaixonei outra vez por aquela mulher.

A preocupação deu lugar à surpresa, que logo foi substituída pela perplexidade no rosto de Selena.

– Bem… agora estou ainda mais confusa.

A conversa foi interrompida por outra batida na porta.

Com um movimento negativo de cabeça, Selena se encaminhou para atender.

– Ela está bem? – perguntou Normani, assim que transpôs a soleira.

Camila dirigiu um olhar confuso à amiga recém-chegada.

– Lauren me telefonou – explicou Mani enquanto retirava o agasalho. – Não queria que você ficasse sozinha. Quando não a encontrei em seu apartamento, deduzi que estivesse aqui. 

Um surto de raiva tomou conta de Camila diante daquela prova adicional da interferência generosa de Lauren em sua vida. Durante dez minutos, ela caminhou de um lado para o outro sobre o chão acarpetado de Selena, xingando, gesticulando e desabafando. De alguma forma, Selena conseguiu juntar as peças do quebra-cabeça. A tristeza estampada nos olhos escuros enquanto observava Camila.

– Gostaria que tivesse me contado. Não consigo acreditar que tudo isso estava se passando sem que eu tivesse a menor ideia.

– Desculpe. Foi a coisa mais antiética que já fiz em toda minha vida. Deveria ter lhe contado tudo naquele primeiro dia, quando você me comunicou que a havia contratado, mas sabia que não tínhamos mais ninguém para o cargo de editor de história. Não queria decepcioná-la e agora a decepcionei ainda mais – disse Camila, sentando-se no sofá e se sentindo, de repente, pequena e estúpida.

A mão de Camila cortou o ar em um gesto frustrado.

– Não seja ridícula! Você dormiu com um colega de trabalho, é só. Não dou a menor importância a isso, o que me incomoda é você ter sofrido tanto e não ter se sentindo à vontade para falar comigo. Você e Mani são minhas melhores amigas. Você é muito mais importante para mim que qualquer emprego idiota.

– Desculpe – disse Camila em tom de voz baixo. – Deveria ter confiado em você. Sei que merece toda minha confiança.

Selena fez um movimento negativo com a cabeça.

– Talvez se eu não estivesse comandando tudo, bancando a superprodutora, tivesse se sentindo à vontade para conversar comigo sobre o assunto.

– Você não tem culpa de nada, Sel! – afirmou Camila.

A RevancheOnde histórias criam vida. Descubra agora