Ineffable

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Ineffable: incrível demas para ser expresso em palavras.

POV. LAUREN

NA MANHÃ seguinte, Lauren estava escrevendo alguns pontos da trama no quadro branco quando viu pela janela o carro prateado de Camila passar.

Estacou, com o pincel no ar, e a observou manobrar para a vaga marcada no estacionamento. Tentou desviar o olhar em vão. Os olhos teimavam em permanecer cravados na cena que se descortinava além da janela. Baixou o braço, admitindo, relutante, para si mesma que queria observá-la. Nunca mais fariam sexo, mas precisava deixar o olhar vagar por aquele corpo sexy e viu-se incapaz de se conter.

Dez segundos se passaram, mas Camila não saiu do carro. Estava simplesmente sentada atrás do volante, com o olhar fixo à frente. Ela franziu a testa, tampando o pincel e se aproximando da janela.

– Ei, Lauren! – uma voz soou atrás dela. Era Kim, uma roteirista de sua equipe, pronta para começar a reunião de apresentação do dia. Sem girar, ela ergueu a mão para devolver a saudação, os olhos e pensamentos grudados em Camila. O que ela estava fazendo?

Enquanto Lauren observava, ela sacudiu a cabeça impaciente e entreabriu a porta do carro. Porém, voltou a fechá-la e se deixou afundar no assento outra vez, batendo com a palma da mão aberta contra a testa em um gesto clássico que queria dizer: “sua idiota”.

Curiosa. As linhas que vincavam a testa de Lauren se aprofundaram. De todos os cenários que imaginara após a sessão de sexo sobre a mesa com a irascível chefe, aquele decididamente não era um deles. Havia se recriminado durante toda a noite por ter dado corda para Camila enforcá-la.

Desde que o sexo fora descoberto, as mulheres o usavam para controlar. E Lauren havia lhe dado a ferramenta perfeita para torturá-la: o desejo que sentia por Camila. Resignara-se com o fato de que passaria seis meses pagando o preço por permitir que seu corpo tivesse o que desejava.

Mas agora… Agora a convicção de que Camila usaria friamente o que acontecera entre ambas em vantagem própria estava passando por uma grande reformulação. Ela não parecia fria, mas sim… confusa. Envergonhada. Insegura.

Do lado de fora, dentro do carro, os lábios de Camila se moveram. Estava fazendo um sermão para si mesma. Naquele momento, ela estava a milhões de milhas da mulher inacessível e reservada que a estivera minando de todas as maneiras possíveis durante toda a semana e tramando em segredo oferecer o cargo que ela ocupava a Justin. Camila parecia humana, acessível, vulnerável. Até mesmo… atraente.

Lauren xingou em silêncio quando se deu conta dos próprios pensamentos. Bastara que fizessem sexo para Camila virar a Madre Tereza de Calcutá. Que tipo de idiota era ela?

Havia se esquecido da verdadeira personalidade de Camila? Estaria mesmo disposta a apagar a raiva cultivada por anos apenas porque aquele corpo parecera seda sob suas mãos?

A mente de Lauren retrocedeu àquele dia fatídico na sala de aula. A lembrança estava marcada a ferro e fogo em sua alma. Tão vívida como no dia que acontecera.

Era sua vez de comentar um capítulo do livro de textos que estavam estudando. Como sempre, suara baldes tentando entender as linhas sinuosas do texto ou juntar as poucas palavras que conseguia reconhecer na página. Desesperado, fizera anotações durante a explanação de outro aluno, tentando se lembrar das frases exatas para que pudesse regurgitá-las usando as próprias palavras. Um velho truque que aprendera para sobreviver às aulas. “Nunca ser a Primeira a Falar” era seu lema e até então lhe fora muito útil.

Porém, daquela vez, seu precioso tempo de preparação fora interrompido pela afetada Camila Cabello, que se inclinara sobre a mesa na direção dela.

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