Beàrling

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Beàrling: A compreensão inesperada da cura. Um sorriso para as cicatrizes.


LAUREN NÃO desviava o olhar do relógio desde que chegara em casa. Uma hora. Duas. A escuridão da noite havia caído sobre a cidade e ainda assim Camila não telefonara. O que a estava detendo? Pedira para ela lhe telefonar. Estava preocupada com Camila, queria saber se aquele idiota do ex-noivo a deixara arrasada ou conseguira lhe impor algum sentimento de culpa. O que a estava atrasando? Certamente Camila não estava mais conversando com o canalha?

Às 22h, Lauren estava rangendo os dentes, enquanto pensamentos sinistros a assombravam. Imagens de Camila com seu ex-noivo tendo uma discussão acalorada e depois caindo sobre o tapete para se refestelarem em uma seção reconciliatória de sexo. O pensamento de outra pessoa tocando aquele corpo esguio foi o suficiente para lhe fazer ferver o sangue.

Às 23h, estava oficialmente enlouquecendo e esticou o braço na direção do telefone apenas para voltar a pousá-lo ao imaginar o que diria se Shawn atendesse. Só quando os ponteiros do relógio se aproximarambperigosamente da meia-noite, foi que Lauren cedeu ao impulso e discou o número que tanto desejava.

Camila soava sonolenta e exausta quando atendeu, após vários toques.

– Alô?

– Sou eu. – Lauren praticamente rosnou. – Prometeu me ligar.

– Oh, desculpe, esqueci!

– Você está bem? – Lauren se forçou a perguntar, quando na verdade queria exigir um relatório de tudo que se passara desde o instante em que deixara o apartamento.

– Estou – respondeu ela com certa reserva na voz, fazendo o ciúme rastejar nas entranhas de Lauren como uma cobra cascavel.

– Ouça, se ele ainda estiver aí, não quero criar problemas.

– Não está criando problema algum – respondeu ela. – E ele não está aqui. Conversamos por alguns minutos e depois Greg partiu. Estive… refletindo sobre certas coisas.

A tensão abandonou os ombros de Lauren e ela relaxou a mandíbula.

Então ele não conseguira convencê-la a admiti-lo em sua cama.

Ainda.

– O que ele queria? – Lauren revirou os olhos diante da própria indiscrição. Estava se comportando como uma vizinha bisbilhoteira ou uma parente inconveniente. Ou uma amante territorial. – Desculpe, não precisa responder – acrescentou rapidamente. – Não é da minha conta.

Camila permaneceu em silêncio por algum tempo, depois acrescentou, em voz baixa.

– De qualquer forma, obrigada por ter telefonado.

A voz de Camila soava rouca, como se tivesse chorado. Agora ela realmente queria saber o que acontecera, mas havia destruído sua chance. Também desejava acariciar a pequena ruga que lhe vincava, sem sombra de dúvida, a região entre as sobrancelhas naquele momento. Envolvê-la em seus braços até que ela relaxasse e dormisse.

– Tente descansar. Eu a verei amanhã – disse em tom de voz terno.

– Está bem. Até logo.

Lauren permaneceu acordada, com o olhar cravado no teto por um longo tempo, após desligar, incapaz de afastá-la dos pensamentos. Se o ex-noivo não tivesse reaparecido, ela estaria aninhada em seus braços outra vez.

Sentia-se amuada como uma criança privada do brinquedo favorito. Porém era mais que isso. Sentia-se… irritada. Em alerta. Não muito diferente da amante territorial que incorporara durante o telefonema.

A RevancheOnde histórias criam vida. Descubra agora