Capítulo 3

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Depois de ter trabalhado durante seis anos na polícia, o oficial Alfonso Herrera devia estar acostumado a telefonemas a altas horas da noite.
Contudo, apesar disso, teve problemas em se concentrar ao ouvir a voz do outro lado da linha. Estendeu a mão para acender a luz de cabeceira, mas, ao ouvir o clique, lembrou-se de que se esquecera de trocar a lâmpada
queimada.
A mulher lhe dissera o nome? Anahi? Ele olhou o relógio. Uma e meia.
Diabos! A última vez em que verificara a hora fora a menos de uma hora. Sua constante insônia se agravara nos últimos tempos devido com certeza ao calor.
E agora, com essa interrupção...
— Manuel, sei que é tarde, mas estive pensando sobre... nós... a noite inteira.
A mulher com voz quente fez uma pausa e Alfonso abriu a boca para lhe dizer que era engano.
— Não estou usando calcinha, sabe? — ela disse. Alfonso fechou a boca e estremeceu.
Uma risada suave se fez ouvir.
— Sempre me perguntei que tipo de cueca você usava — a mulher continuou.
Qual seria a intenção daquela criatura misteriosa? Conversar com o tal Manuel para induzi-lo a alguma coisa?
— Uso cueca bem curta — ele respondeu.
Perdera o juízo?, Alfonso se perguntou. Ou, mais apropriadamente, perdera a vergonha?
— Um... você dorme de cueca?
Quando durmo. Alfonso não podia se lembrar de uma interrupção tão agradável. Poucos de seus sonhos foram assim bons.
Talvez se tratasse de uma brincadeira de seu companheiro de trabalho, porém nem mesmo Klone iria tão longe. E a mulher parecia sincera, real. O trabalho que ele fazia requeria julgamentos rápidos; no entanto, de repente, ficara indeciso.
Mas seu corpo tomou a decisão; uma onda de desejo invadiu-o da cabeça aos pés. Afinal, que mal havia em sucumbir a um impulso selvagem, a um impulso violento? Achando que a mulher iria reconhecer seu engano logo, afastou o fone da boca. Por outro lado, se não sabia nem mesmo que tipo de cueca o tal do Manuel usava, quem sabe decidira se encontrar com outro homem?
Ou talvez se tratasse de uma prostituta... Ou de uma amiga... Ele morara no Sul durante anos de sua vida adulta, e não se lembrava de mulher chamada Anahi.
— Achei que estava na hora de você saber como me sinto — a desconhecida declarou.
— Ok — ele disse. — Fale, então.
— Não, se isso o incomoda.
Saberia a moça como tinha uma voz sexy?, Alfonso se perguntava. A única coisa que o incomodava no momento era sua ereção.
— Estou bem. Isso não me incomoda de forma alguma. Continue.
— Pode tirar a cueca? — ela sussurrou.
Alfonso enfiou as mãos por baixo das cobertas e livrou-se da cueca em três segundos. Não que fosse um trabalho fácil enquanto segurava o fone. O controle remoto da TV, que deixara sobre a cama, caiu no chão.
— Pronto. Tirei a cueca — Alfonso informou-a. — E você. Está... nua?
— Ainda não. Uso apenas uma blusa e um sutiã, ambos brancos.
Alfonso fechou os olhos.
— Tire-os. Tire-os já.
Pelo ruído do tecido Alfonso concluiu que ela se despia. A mente dele entrou em rodamoinho, tentando adivinhar como era essa criatura que se chamava Anahi. Seria ruiva? Morena? Loura? De olhos castanhos? Azuis? Gris? Cabelos longos? Curtos? Pedaços da fantasia se juntaram numa mulher, como ladrilhos numa parede. Alta, cabelos escuros, olhos azuis, um sorriso maravilhoso, cheia de curvas no corpo. E se despindo no momento.
— Pronto, já estou nua — ela o informou.
Alfonso mordeu a língua para não fazer mais perguntas, o que poderia terminar com a ligação telefônica. Imaginou Anahi entrando na cama a seu lado.
— Faz calor aqui — ela continuou. — E ainda não consegui dormir depois que saí do clube. Aquela nudez me afetou.
Estaria ela fazendo parte de um desfile de strip-tease? Alfonso sentiu de repente sua consciência mais tranqüila. Ao menos não se tratava de uma garota inocente abandonando sua modéstia pela primeira vez. E devia ter um corpo excepcional. Pelo sotaque não era sulista, mas na mente era tão exuberante como o nome Anahi sugeria.
— Preciso relaxar — ela disse, suspirando. Alfonso quase pôde sentir o hálito quente dela no pescoço. E sua resposta foi um gemido de encorajamento.
— Ultimamente venho achando que deveríamos ser mais... íntimos — ela ousou sugerir.
— Eu não havia pensado... — Alfonso respondeu, num sussurro.
A verdade, afinal?
— Somos ambos tímidos, por isso é mais fácil comunicarmos nossas fantasias desse jeito, por telefone.
Alfonso corou e disse:
— Continue.
— Meus seios...
Redondos? Altos? Firmes? Ele os visualizou.
— São sensíveis, muito sensíveis. — Anahi respirava com dificuldade agora. — Meus cabelos estão soltos e tocam os seios.
Obrigado, obrigado, obrigado por mais essa imagem.
— Pode me imaginar deitada a seu lado? — ela perguntou.
Se ele podia?! Um... Anahi quase o matava.
— Claro que posso!
Um raio de luar penetrava pela fresta da janela, perto da cama, transformando os lençóis amarfanhados num corpo de mulher. Um corpo macio e dourado. Lindo! Os dois se acariciavam.
— Toque-me mais abaixo — Anahi murmurou. Na imaginação de Alfonso, o hálito dela aquecia seu peito.
— Mais abaixo ainda — Anahi insistia. Logo Alfonso gemia, imaginando-se com os dedos entre as coxas macias da mulher.
— Aí — Anahi gemeu, grata. — Sim, aí.
— Não posso esperar muito mais. — Ele estava tenso, com a voz cheia de emoção.
— Sim... agora!
Ele imaginou-se então sobre o corpo da mulher, os gemidos se misturando. Anahi enroscou-se em Alfonso que agora penetrava mais profundamente, mais profundamente, no calor delicioso do corpo feminino.
— Fale alguma coisa — ele pediu.
— Oh... Com mais força... Mais depressa...
— Quando estiver pronta, diga-me. Vamos entrar nesse paraíso juntos. Leve-me com você.
— Sim — ela gaguejou. — Juntos... agora... oh, sim.
As vozes de ambos culminaram em gritos, passando depois a gemidos suaves. Suspiros de satisfação permearam o ar quando os dois procuraram normalizar a respiração.
— Foi... maravilhoso... — Alfonso conseguiu enfim falar, sentindo-se exausto.
— Um... — Anahi concordou, com uma risada suave. E em seguida disse: — Acho... que devo permitir que você durma um pouco agora. — Ela sentiu que sua timidez voltava. — Boa noite, Manuel. Telefone-me amanhã. — E desligou o aparelho.

Alfonso sentou-se na cama derrubando o telefone e algumas outras coisas da mesa de cabeceira. Pôs os pés no chão, o coração ainda se recuperando do estranho telefonema. Ele vira, fizera e ouvira muito durante seus anos de policial, mas o que acabara de lhe acontecer fora algo novo.
Aquele dia, não, a véspera, havia sido um dos piores dias de que podia se lembrar. Nada de mortes, graças ao bom Deus, mas atendera a enorme número de telefonemas sobre violências domésticas e crimes envolvendo menores.
Ele resolvera se tornar um policial em parte porque desejava um mundo melhor para seus sobrinhos, e em parte por achar que, com o maravilhoso corpo físico e disciplina mental que Deus lhe dera, poderia exigir o cumprimento da lei a qualquer preço. Mas não levara em consideração a maldade com que as pessoas se tratavam, até no caso de membros da própria família.
Os policiais passavam por momentos difíceis, e de tal forma decepcionantes, que às vezes não tinham vontade de se levantar da cama para ir trabalhar. Alfonso sofrerá pensando nisso ao se deitar naquela noite. E embora seu corpo agora sentisse enorme fadiga muscular, o espírito cantava com nova vitalidade. Ele achou que estava na hora de decidir como orientar sua vida para encontrar uma boa esposa. Talvez saísse da tristeza de cada dia.
E talvez não se sentisse tentado a roubar o orgasmo pertencente a outro homem.
Sua consciência o perturbava. Mas... o que fazer agora? Nada, ele resolveu depressa, indo para o banheiro. Culpar-se por ter atendido a um telefonema errado, coisa que lhe acontecera uma vez na vida, seria ridículo. No dia seguinte Anahi e Manuel, quem quer que fossem eles, ririam muito ao saber que o número errado a conduzira a um orgasmo.
Alfonso inclinou-se na pia e passou a mão nos cabelos, pensando na timidez que às vezes transparecera na voz de Anahi. E se ela se sentisse humilhada, preferindo esconder seu segredo? E se se preocupasse com a identidade da pessoa com a qual partilhara de experiência tão íntima?
Não.
Lavou o rosto e voltou para a cama, sorrindo. Bocejou ao encostar a cabeça no travesseiro. Uma coisa ele já sabia com antecedência. Nada de insônia naquela noite.

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Capítulo de quinta feira postado! Boa leitura!

Muito quente para dormir AyA - ADP (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora