Capítulo 15

717 67 5
                                    

— O que significa isso? — Dulce repetiu ao telefone. — Vou lhe dizer o que significa. Você está se apaixonando pelo oficial.
— Não, não, não — Anahi insistiu, sacudindo a cabeça. — Resposta errada. — Ela sentou-se à mesa e pôs as pernas sobre o sofá. — Só porque alimentei algumas fantasias sem mal algum, acerca do rapaz, não quer dizer que estou me apaixonando por ele.
— Se as fantasias não tivessem mal algum, você não estaria fazendo todo esse escarcéu. Estaria?
Boa pergunta.
— E o beijo? — Dulce a fez lembrar-se.
Anahi começava a se arrepender de ter contado tudo à amiga.
— O beijo aconteceu no calor do momento. Foi algo não planejado. Não significou nada.
— Se é assim, por que todo esse alvoroço?
— Porque sinto-me culpada!
— Se não tivesse feito nada do que se envergonhar, não se sentiria culpada.
— Tenho medo de que Alfonso se encontre com Manuel na academia e mencione o beijo no parque.
— Nesse caso, quando você vir Manuel no casamento mais tarde hoje, contelhe
tudo e faça-o acreditar que não significou nada.
Anahi derramou algumas lágrimas, cheia de remorsos.
— Mas significou, não foi mesmo? — Dulce acrescentou.
— Talvez — Anahi respondeu, assoando o nariz.
— Anahi, minha amiga, encontrar alguém que a faça sentir-se extraordinária é algo para comemorar, não para chorar.
— Mas, e Manuel? As, coisas estavam começando a ir tão bem conosco!
— Acho que seu interesse pelo militar quer dizer que você não está pronta para se comprometer com Manuel. E afinal, isso não é crime. Manuel vai sofrer um
pouco, mas sobreviverá.
— Tem razão. — Anahi ergueu a cabeça, bem mais animada.
— E o que vai fazer agora?
— Não tenho a mínima idéia.
Anahi entrou na igreja pela porta dos fundos e seguiu o barulho das vozes e risadas. Todos estavam reunidos no, salão da igreja onde os noivos tiravam as fotos. Anahi nunca vira tanta roupa bonita, sapatos, bolsas etc.
Maite parecia etérea em seu traje de cetim. A mãe ocupava-se com a cauda do vestido enquanto uma outra senhora arrumava os cabelos ruivos da noiva.
Dulce era uma das damas de honra e usava um conjunto coral.
— Você está linda, Dulce — disse Anahi.
— Que pena você não ter se separado de Manuel antes, e pedido ao oficial que a acompanhasse ao casamento. De farda, imagine só que figurão.
Anahi fez um gesto negativo com a cabeça. Não, queria permanecer um pouco longe dos homens. Não queria saber de encontros, nem mesmo desejava flertar com ninguém. Precisava de tempo e espaço para recuperar seus horizontes.
— Acha que nós duas um dia nos vestiremos de noiva? — Dulce lhe perguntou.
Interessante pergunta. Enfim, Dulce era dois anos mais jovem que ela.
— Provavelmente. Algum dia. Como vai seu relacionamento com o dr. Baxter, Dulce?
— Ainda não lhe contei meu verdadeiro nome.
— Dulce!
— Não tive jeito. Agora ele me chama de Bel Morango. Engraçadinho, não?
— Engraçadinho?! Não vejo nada de sexy nisso.
— Eu sei. Eu sei. Vou contar tudo a ele logo, embora seja embaraçoso.
— Bom. Muito bom. Conte logo.
Anahi deu um jeito nos cabelos de Maite. Depois lançou um olhar invejoso à radiante noiva. Não porque a moça ia se casar, mas porque ia se casar com um homem por quem estava terrivelmente apaixonada. E Neil também parecia apaixonado por ela. Anahi olhava para todos os lados e só via excitação, felicidade, otimismo.
Era aquilo que ela queria. Queria o verdadeiro amor e toda a celebração e aturdimento que o acompanhava. Algum dia teria isso... se esses seus hormônios superativados não se intrometessem no caminho.
Alfonso passou pelo quadro dos boletins uma meia dúzia de vezes, cada vez jurando a si mesmo que não o olharia. E cumpriu sua promessa, não olhou.

Não até a sétima vez. Aí, para satisfazer sua mórbida curiosidade, lançou uma rápida vista d'olhos na lista das igrejas e lojas necessitadas de controle de trânsito e de segurança, naquele dia.
Igreja de St. Michael, casamento de Janus-Baker às 10:30 da manhã; casamento de Alexander-Childers, às 3:30 da tarde; casamento de Piper-Matthews, às 7:30 da noite.
Dois celebrantes. Duas horas para cada cerimônia.
Anahi estaria no casamento das 3:30 da tarde. Talvez se ele pudesse ver Anahi e o namorado juntos, ver o modo como se olhavam, ver se ele a adorava, conseguisse afastar sua paixão. Sentia uma enorme necessidade de
conhecer mais detalhes da vida dela, como tomava o café pela manhã, onde deixava a tampa do tubo da pasta de dente, se pintava as unhas dos pés com freqüência.
Dizendo a si mesmo que agradeceria aos céus se os postos todos para a segurança do tráfego na cidade já estivessem preenchidos, pois assim se afastaria de Anahi, ele dirigiu-se ao encarregado do serviço.
— Os arredores da Igreja de St. Michael já estão com o corpo de guarda completo? — perguntou.
— Falta um militar para dirigir o trânsito durante o casamento da noite, às sete e meia. Interessa a você?
Muito desapontado, Alfonso não deu uma palavra. Dissera que agradeceria aos céus se tivesse um pretexto para se afastar de Anahi. E lá estava o pretexto. Com o tempo, claro, a tiraria de sua cabeça. De qualquer modo,
tratava-se apenas de uma atração física, embora bastante forte. As coisas em sua vida estavam se encaminhando bem. Gostava de ser solteiro e com certeza Anahi haveria de querer um relacionamento mais sério.
— Herrera? — o encarregado do serviço chamou-o. — Você quer ocupar a posição que acabei de mencionar? No casamento das sete e meia?
Desgostoso consigo mesmo por se importar tanto com uma mulher que demonstrara claramente que não tinha interesse nele, Alfonso aceitou a tarefa.
— Claro — respondeu. — E de graça, em benefício da igreja.
— Muita bondade sua — o encarregado comentou. — Alguma penitência a cumprir?
Alfonso sorriu, pegou uma xícara de café e voltou para sua mesa. Sentia-se melhor. Não veria mais Anahi, mas ao menos teria a vantagem de nunca precisar confessar que usufruíra os prazeres sexuais destinados ao namorado dela. Considerando o modo rápido como a situação mudara, ele devia dar graças ao bom Deus por ter escapado incólume.
Acomodou-se na cadeira, resignado.
Sim, feliz, feliz, feliz.
— Ei, Herrera.
Alfonso virou-se e deparou com um colega que se aproximava de sua mesa.
— Como vai, Booker?
— Estou em apuros. Comprometi-me fazer a guarda junto à igreja de St.Michael durante o casamento das três e meia. Mas só agora lembrei-me de que tenho de levar meu sogro ao jogo de golfe. Será que haveria algum
inconveniente para você, se trocasse...
— De forma alguma.

———————
Ei pessoal, o dia foi corrido, mas não estou esquecendo 2/5 seguidos!

Muito quente para dormir AyA - ADP (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora