O dia seguinte era um domingo. Anahi arrastou-se para fora da cama e foi assistir à missa das onze, desejando ardentemente apagar a enorme culpa pelo seu comportamento na festa de casamento a que fora com Alfonso. Achou que já tinha se reconciliado com Deus, pelo menos até certo ponto. Mas depois, durante a viagem de ônibus à loja onde mandara arrumar o telefone, ainda lutava para se esquecer de Alfonso. O problema era que seu corpo não podia tão facilmente ignorar o modo como ele a fizera se sentir viva. Sem que fossem convidadas, as imagens das cenas de amor surgiam-lhe à mente, enviando um calor violento a suas faces e coxas. E quando pensava em Manuel, sentia-se ainda pior.
Depois que Alfonso abrira a porta do depósito com um pontapé, ela correra à procura do tal escritório que vira antes. Encontrara-o, duas portas adiante.
Entrara e fechara-a, fugindo de todos e em especial de Alfonso. E, apesar de haver encontrado o telefone, interrompera a discagem antes de terminar.
Primeiro por estar ainda chocada pelo sucedido e sem saber o que dizer a Manuel.
Depois, porque Manuel merecia mais do que um telefonema apressado ou uma visita rápida enquanto o odor de outro homem ainda permanecesse em seu corpo.
Por isso resolvera esperar até a mente clarear, embora achando que, a se julgar pelo modo como se sentia naquela manhã, isso demoraria muito.
Olhava pela janela do ônibus mas não enxergava quase nada. Vira muitas fotos de família no apartamento de Alfonso. Que família maravilhosa, e grande também. Todos sorriam e passavam os braços uns nos ombros dos outros.
Exatamente o tipo de família da qual ela desejaria fazer parte. E se perguntava por que motivo Alfonso não parecia querer a mesma coisa para si. Talvez ele desejasse ter uma grande família algum dia, mas não com o tipo de mulher que aceitasse ser amada num depósito de móveis usados.
Ela fechou os olhos, dizendo a si mesma que merecia seu próprio escárnio. Alfonso Herrera não a obrigara a fazer nada contra a vontade. Não era culpa de Alfonso ela não poder parar de pensar nele, devaneando sobre o homem desde que se conheceram. Não era culpa de Alfonso ele ser tão atraente. Não era culpa de Alfonso ela estar procurando algo que ele não lhe poderia oferecer.
Na realidade, ele sempre fora muito claro quanto ao fato de não querer compromissos. Anahi suspirou. Não, não poderia pôr em dúvida a honestidade do homem.
Ao descer do ônibus, ainda não tinha resolvido seu problema emocional. A única coisa que sabia era que precisava se entender com Manuel, e logo. Sofrerá por ele não ter comparecido ao casamento mas, por outro lado, concluiu que a razão fora o trabalho. Mas não era possível achar que na ausência de Manuel residia toda a culpa de seu comportamento indigno com Alfonso. Homens não se trocam assim, ao menos em se tratando de uma mulher com um mínimo de auto-estima.Anahi suspirou ao entrar na loja. Teve de esperar em fila durante algum tempo antes de poder ser atendida pelo mesmo rapaz que recebera seu telefone para conserto, na véspera.
— Oh, sim, lembro-me bem da senhora — ele disse com um sorriso. — Estava furiosa porque não tinha nenhum recado. Não foi?
— Meu telefone ficou pronto? — Anahi perguntou, cortando a conversa.
— Aqui está, esperando pela dona. Os técnicos que o verificaram e eu rimos muito.
— E por que riram, posso saber?
— Porque — o rapaz respondeu, ligando o aparelho na tomada do balcão — é preciso saber como lidar com a máquina. Além de apertar o botão número 1 é necessário ajustar o volume numa direção ou noutra para antes apagar a mensagem de boas-vindas.
— E o que significa isso? — Anahi perguntou.
— Significa que a senhora tem um monte de mensagens, lady. — Ele apertou o botão e uma voz anunciou:
"Você... tem... doze... mensagens."
Doze? Anahi ficou gelada. E se ela perdeu algum telefonema importante do hospital ou de sua família?
"Recado... um... terça-feira... oito... e trinta e quatro da tarde."
— Oi, Anahi, aqui é Manuel. Você recebeu seu novo aparelho? Quero informá-la de que fui convocado para uma reunião em Columbus, Ohio. Não sei quanto tempo ficarei lá. Deixei um recado no hospital hoje, com uma pessoa chamada Melanie, porém não tenho certeza se você o recebeu. Espero que se divirta com suas amigas. Voltarei no último vôo desta noite. Telefonarei quando chegar. Ok?
Anahi ficou furiosa. Melanie só lhe dera o recado de Manuel na quarta-feira.
Porém, talvez ele só tivesse telefonado para o hospital na terça depois de Melanie ter saído. Um momento. Ele dissera que voltaria na terça à noite.
Certo? Estranho, Manuel estava em casa quando ela lhe telefonara ao voltar do
clube, à tarde.
"Recado... dois... quarta-feira... seis... e quarenta e sete da noite."
— Anahi, como vai? É Manuel de novo. Só para dizer que talvez fique aqui por mais alguns dias. Se quiser se comunicar comigo, ligue para a secretária eletrônica do escritório. Sinto muito não ter encontrado você em casa. — Ele riu. — Espero que não tenha feito nenhuma loucura ontem à noite depois de ter saído do clube.
Anahi franziu a testa. Estaria Manuel tão perturbado com os telefonemas de sexo a ponto de querer fingir que nunca os recebera? Ou ele deve ter ficado doente logo depois do telefonema de quarta à noite.
"Recado... três... quarta-feira... sete... e vinte da noite."
— Aqui é Dulce. Quero saber se você telefonou para Manuel sobre imagina-oque, e qual foi a reação dele. Ligue para mim.
O recado quatro foi um telegrama.
"Recado... cinco... quinta-feira... cinco... e dezenove da tarde."
— Oi, aqui é Manuel. Pensei encontrá-la em casa. Li que Birmingham continua sob o efeito da onda de calor. Você está fazendo hora extra no hospital? Ainda não sei quando voltarei, mas espero que a tempo de ir ao casamento de Maite e Neil. Falarei com você em breve.
O coração de Anahi acelerou. Algo estava errado. Manuel não parecia doente. Na verdade, ela tivera a impressão de que ele se encontrava ainda em Columbus. Engoliu em seco. Mas isso era impossível, pois falara com Manuel em casa na quarta-feira à noite e na terça-feira, também à noite.
— Olhe, madame — o funcionário da loja chamou-lhe a atenção. — A fila está aumentando. Não pode terminar com essa verificação em sua casa?
— Um minuto mais — Anahi protestou, a mente perturbada. As mensagens seis e sete eram de telegramas. A mensagem oito, do hospital; do dr. Story sobre o caso do cachorro atendido lá. A mensagem nove era do supervisor do prédio dizendo que consertariam o termostato de novo na segunda-feira. "Recado... dez... sexta-feira... seis... e vinte da noite."
— Olá, Anahi, é Manuel outra vez. Acho que não poderei ir ao casamento.
Dê um abraço meu a Maite e a Neil. Telefonarei a você assim que chegar, provavelmente no domingo à tarde. Estou com muita saudade.
Anahi respirava ofegante. Os jornais de Manuel estavam na entrada, a grama crescida. Se não tivesse falado com ele mesmo, acreditaria que se encontrava ainda em Columbus ao fazer os telefonemas. Estaria Manuel brincando? Sendo a resposta afirmativa, tratava-se de brincadeira de muito mau gosto.
"Recado... onze... sexta-feira... dez... e dezesseis da noite."
— Anahi, é sua mãe. Apenas para lhe desejar que se divirta no casamento, querida. E que pegue o buquê da noiva.
Anahi fechou brevemente os olhos, pensando que, sem dúvida, quando o buquê fora jogado ela estava fazendo amor, um amor apenas físico, num quartinho de depósito e com um homem que jamais entraria numa igreja para se casar.
"Recado... doze... sábado... oito... e quarenta da manhã."
— Aqui é Manuel mais uma vez. — Ele parecia aborrecido, e Anahi se perguntava se a razão era por ela não ter recebido nenhum dos telefonemas.
— Eu estava começando a ficar preocupado, pois não falo com você há tanto tempo! Espero que tudo esteja ok.
— Ei, lady — o rapaz gritou. — Preciso atender outras pessoas.
— Como se faz para rever números já programados? — Anahi perguntou.
Ele suspirou e pressionou uma série de botões.
— Pode ver apenas três de cada vez.
Os olhos dela se fixaram no primeiro número que programara: 205-555-6252. Errado. O número de Manuel era 6225. Discara o número errado o tempo todo.—-
A grande revelação! Kkkk imagina só a cabeça da nossa Any quando percebeu? Curtam e comentem ;)
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Muito quente para dormir AyA - ADP (Finalizada)
RomanceQuente demais... O calor excessivo não deixava Anahi Portilla dormir. Entediada com sua vida amorosa insípida, ela decide fazer uma brincadeira com o namorado: flertar pelo telefone... e algo mais! Sua ousada experiência é um sucesso. Só que Anahi...