Capítulo 14

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Embora o ventilador houvesse refrescado o quarto razoavelmente, Alfonso continuava acordado, deitado, o corpo exausto porém a mente um verdadeiro rodamoinho. Esforçara-se muito para não ir atrás de Anahi naquele dia.
Nunca um beijo o sacudira tanto. Apaixonara-se por uma mulher tal qual um idiota. Suspirou e cobriu o rosto com a mão. Aquilo não acabaria bem, pelo menos não para ele.
Quando o telefone tocou, Alfonso virou a cabeça e esperou um pouco antes de atender, a fim de rezar uma prece. Enfim pegou o fone e cobriu-o com um lenço, para o caso de ser necessário disfarçar a voz.
— Alô? — Um, dois, três. — Alô? — repetiu.
— Alô. Aqui é Anahi.
Ele deu um suspiro de alívio.
— Que bom, isso me alegra muito.
— Você tentou me telefonar?
— Eu... ia ligar. — Ele não sabia o que responder. Já havia sido passado
para trás por aquela mesma mulher porque ela tinha outro encontro.
— Acabei de sair do chuveiro — Anahi murmurou. — Estava tão quente
aqui, que precisei fazer alguma coisa para me refrescar.
Alfonso gemeu. Só mais uma vez, prometeu a si mesmo. Ela era tão
incrivelmente sexy, e toda essa alegria acabaria no domingo à noite quando o namorado dela voltasse. Se não acabasse antes ainda do domingo.
— E o problema é que continuo morrendo de calor.
— Fica mais quente a cada minuto que passa. O que você está usando? — Alfonso lhe perguntou.
— Uma toalha. E você, Alfonso?
— Nada. Céus, não consegui tirar você de minha cabeça, Anahi.
— Eu estava pensando... O que acha do sexo... oral?
— Sou completamente a favor. — Alfonso engoliu em seco. E ela riu.
Alfonso recostou-se nos travesseiros e fechou os olhos enquanto Anahi pronunciava palavras eróticas. E a cena imaginária começou. Ela ajoelhou-se em cima dele e colocou na própria boca o membro latejante, passando a língua como num beijo profundo. Os cabelos escuros dela caíam tal qual cortina sobre o ventre de Alfonso. Quando estavam próximos do orgasmo, ele a fez mudar de posição para devolver-lhe o prazer, beijando-a também. O clímax chegou, rápido e intenso.
— Foi maravilhoso! — ele gemeu. — Não posso pensar em nada que você faça que eu não ame. Mas que não ame de paixão.
— Juro que pensei que a palavra amar não existisse em seu vocabulário, Manuel — ela sussurrou, em tom de caçoada.
Um... Manuel nunca dissera a Anahi que a amava?
— Eu... mudei de idéia. Nestes últimos dias... — Alfonso gaguejou. Como?
Aquilo talvez não soasse bem. Então, só naqueles últimos dias apaixonara-se por ela? E isso quando personificava Manuel?, Alfonso se perguntou.
— Continue — ela insistiu.
— Sinto-me diferente sobre nosso relacionamento.
— Tive tanto medo de que você não gostasse disto, de sexo oral.
— Está brincando? Mal posso esperar estar com você de novo.
— Você me deixou apavorada hoje, Manuel.
— Quando?
— Quando fui a sua casa — ela disse com um sorriso.
O coração de Alfonso deixou de dar uma batida, duas batidas.
— Quando vi os jornais na porta — ela continuou — tive receio de que você estivesse doente, muito doente. Enxergava-o no quarto, jogado em sua enorme cama. Enfim olhei na garagem e vi que seu carro não estava lá. Foi ao escritório de carro?
Alfonso raciocinou rapidamente, tentando mentir com lógica.
— Sim... Fui.
— Sua voz está muito boa, vejo que não está doente, graças a Deus.
— Ainda continuo um pouco rouco. — Ele insistiu em limpar a garganta.
— Espero que tenha encontrado meu recado.
Ele quase deixou cair o telefone.
— Eu... bem... não...
— Deixei-o no aparador da sala.
— Ah! — Ele fingiu olhar à volta. — Estava escuro quando entrei em casa
e não acendi a luz.
— Oh, bem. Apenas quero preveni-lo de que deixei uma sopa na geladeira.
— Muita amabilidade sua. — Alfonso franziu a testa.
— Foi um prazer para mim. Espero que pelo fato de você estar bem, e não doente como pensei, apareça no casamento amanhã.
— Estou planejando ir. A menos que fique preso no escritório.
— Oh! — ela disse, obviamente desapontada. Manuel a desapontava freqüentemente?
— Diga-me mais uma vez onde fica a igreja.
— St. Míchael, seu bobo. Lembra-se, você conseguiu que se fizesse um bom preço na confecção dos convites.
— Naturalmente que me lembro. Só me esqueci a que horas será a cerimônia.
— Às três e meia. — Ela suspirou.
— Certo. Isso mesmo. Às três e meia.
— Boa noite, Manuel. — E desligou o telefone.

Anahi não se lembrava de ter se sentido tão mal nos últimos tempos. Seu corpo ainda pulsava em conseqüência do orgasmo que partilhara com Manuel... enquanto sua mente fantasiara tudo com outro homem. E, como a mente prega seus truques às vezes, ela até começara a ouvir a voz de Alfonso Herrera na voz bem diferente de Manuel.
Era a mesma sensação que seu pai sentia ao voltar à casa e ao beijar o pescoço da esposa após haver beijado suas amantes? Poderia ela encarar Manuel no dia seguinte, se ele aparecesse no casamento?
Anahi arrumou melhor os travesseiros. Não, Manuel não merecia aquilo.
Não merecia aquele tratamento. Não quando as coisas iam indo tão bem entre eles dois. Ele nunca fora tão despreocupado, tão vulnerável. Durante meses ela esperara por um sinal de que Manuel estava aberto para iniciar um relacionamento mais profundo, mais íntimo. Contudo naquela noite, quando imaginara que Manuel iria lhe dizer que a amava, ela entrara em pânico.

— O que significa isso? — Anahi disse em voz alta, na escuridão.
Significa que você é igual a seu pai. Nunca aprecia o que tem, sempre quer o que está fora de seu alcance, ou coisas que sabe que são más. Ou erradas. Ou prejudiciais. Deseja sacrificar a segurança quente pela paixão que queima. É condescendente demais consigo mesma. Irresponsável. Má.
Anahi suspirou e jogou o lençol longe de seu corpo úmido. Do corpo que queimava.

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Oi pessoal! Essa semana vou postar 5 capítulos seguidos, um por dia! Fiquem com o presentinho :)

Muito quente para dormir AyA - ADP (Finalizada)Onde histórias criam vida. Descubra agora