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Pessoas e mais pessoas,
Pessoas aglomeradas e ruas vazias.
Deixa eu te contar sobre como o céu estava cinza aquele dia, não um cinza triste, um cinza agradável.
O sol esquentava minha pele por baixo da lã, não precisava mais do suéter.
Algumas pessoas, a maioria, estavam felizes, havia várias delas agrupadas em bares e apenas em bares, risos misturados, olhos vidrados.
As ruas estavam vazias, as lojas estavam fechadas.
Gente bebendo e gente gritando.
Gente trabalhando, levando a cerveja o mais rápido possível.
Gente pulando, roupas dançando no corpo.
Verde e amarelo.
Verde era tua cor favorita, e estava em toda parte, assim como você era minha e também estava em toda parte.
Te vi em todos os lugares, te encontrei em cada uma das aglomerações e ruas fantasmagóricas, o teu, o meu, o nosso silêncio grita.
Arde, queima.
Deixa eu te contar como é passar por cada avenida na esperança de me encontrar no teu abraço e varrer tantos olhares procurando apenas um que sei que não vou encontrar.
Quando fecho meus olhos vejo os teus.
Quando corro é na expectativa de te ver no fim do caminho.
Se estou gastando cada uma das minhas folhas soltas, canetas velhas e noites em claro, é na esperança de poder verbalizar cada um dos sentimentos mais estranhos que você me causou.
E se ando pela porra de uma cidade vazia me mantendo alheia a essa massa informe de gente, é na prece de te encontrar virando a próxima esquina.
Sua lembrança vem e desaparece feito miragem,
Me desencontro de você no meio dessa bagunça, desse silêncio, dessa névoa.
Te reencontro a cada rua pra te perder de novo quando a única parte minha que ainda possui um pingo de sanidade me mostra que tudo não passa de um delírio.
Então eu paro e me deixo partir pedacinho por pedacinho, vejo meus cacos no chão, o sangue escorrendo e se misturando com as lágrimas, as lágrimas se misturando com a carne. Não tenho mais a esperança de cruzar teus olhos na próxima virada, mais uma faca cravada.
Agora sinto sua falta em silêncio enquanto me aproximo da próxima aglomeração vazia,
Verde, amarelo, suor.
Lágrimas, sangue e carne.
Ninguém nota a sujeira que deixei no asfalto.
Olhos, sorrisos, êxtase.
Cinza.
Vou embora do mesmo jeito que comecei, só um pouco mais cinza.

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