É tanta gente,
são tantas cores,
Tantos cabelos colocados atrás da orelha com diferentes gestos,
São tantos anéis,
Tantos brincos, tantas orelhas,
Por todos os lados,
Todas as horas.
Cada pessoa que passa do teu lado na rua tem uma história,
E são tantas histórias,
Lágrimas e risos,
Detalhes e detalhes,
Joelhos batendo, pés diferentes.
Você reparou na menina de vermelho que passou do teu lado?
Baixa e miúda,
Se vestia de um jeito singular, minha avó acharia estranho,
eu gosto assim.
Reparou em como as armações dos seus óculos eram grandes em contraste com suas feições pequenas?
Em como suas unhas estavam perfeitamente esmaltadas?
Nos anéis cheios de pedras que enfeitavam seus finos desdos?
No cabelo liso cortado na altura dos ombros?
Eu reparei.
E na mulher que acabou de dobrar a esquina? Nela você reparou?
Cabelos levemente grisalhos, presos de um modo descuidado,
Sacolas e sacolas nas mãos,
Marcas de idade no rosto, olhava pra frente e pra baixo,
Postura inclinada, passos pesados.
Pensou sobre o que ela estaria fazendo nesse caos?
O que a teria levado a acordar cedo em pleno sábado para andar por essas ruas confusas?
Não sei.
Dobramos a esquina:
mais pessoas, mais olhares,
mais corações partidos e fotografias guardadas,
mais filmes favoritos e livros inacabados,
sempre mais.
Mais muros cinzas e pichados,
poesia escrita nas ruas que se confunde com vandalismo.
Mais cartazes, em cada poste,
"Vende-se casa tal"
"Simpatia para trazer teu amor de volta"
"Procura-se cachorro desaparecido"
São muitos pedidos e muitas ofertas, muita gente com muita coisa a dizer,
Ninguém vê.
São tantas praças e avenidas,
tantas flores caídas,
tantos carros correndo.
Lanchonetes, cafés e bares.
Mocinhas que anotam e trazem pedidos,
mocinhas com a faculdade por pagar
ou um pai por cuidar,
um filho pra sustentar.
Senhores que trazem cerveja, pinga, cachaça,
Gente bebendo e bebendo, se acabando.
Gente pedindo dinheiro nas ruas,
gente que finge que não vê,
correria por todos os lados,
pessoas lutando para sobreviver.
O caos e suas contradições,
não sei se o moço que passou do meu lado,
É João, Joaquim ou José,
Não sei se João, Joaquim ou José ama alguém, se repara no céu, ou qual estação escolhe no rádio,
mas quando deixei uma nota de cinco cair, tocou no meu ombro e me disse "olha alí"
"Obrigada, tenha um bom dia"
me sorriu e sumiu.
Como sera é a vida de João, Joaquim ou José?
Devia ter perguntado antes de ele sair.
Como será a vida da menina de vermelho ou da mulher de cabelos grisalhos?
Das mocinhas que servem café e dos senhores que trazem cerveja?
Devia ter perguntado antes de cada um deles sumir,
vai que tivesse me rendido uma história de amor, de coração partido ou de emprego perdido.
Vai saber.
A vida é bonita,
só que ninguém vê.
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De Todos Os Textos Que Não Fui Capaz De Te Enviar
PoetryRabiscos de um amor mal vivido que eu não sabia mais onde colocar. Não sei se é prosa, poesia, crônica. Misturo tudo e coloco na mesma caixinha poís não sei desabar de uma maneira que faça sentido, muito menos me expressar de uma forma lógica.