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Hoje deveria ser o dia
em que eu não me lembraria.
Simples e claro.
Não me lembraria,
não escreveria mais um lamento em forma de poesia,
não falaria sobre o teu sorriso e sobre como ele me deixa nas nuvens pros quatro cantos do mundo,
não pensaria nas tuas mãos,
nos calos nas pontas dos dedos causados pelo violão,
nas notas que me tocava,
nos versos que me enviava.
Não me recordaria do teu riso alto,
da tua pele morena,
dos teus olhos negros.
Nem ao menos ousaria pegar uma caneta e agredir o papel
com lamentos e lágrimas.
Quase.
Quase te deixei empoeirado na gaveta,
Exceto pelo livro na cabeceira da cama,
pelas rimas que ainda guardo,
pelas rimas que ainda faço,
pelo número que não apaguei,
pelas memórias que repasso a todo momento como um filme antigo que não enjôo de ver.
Te eternizo em cada detalhe do meu ser,
te gravo na pele na esperança de levar comigo teu toque,
paro no tempo como se pudesse me manter contigo,
delírios.
Agora que a madrugada grita junto com teu silêncio,
me perco,
me quebro,
apesar de todos os meus esforços,
não tenho teus olhos,
não tenho teu colo,
quase consigo te sentir
escorregando
entre meus dedos,
e junto contigo,
viro
pó.




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