Cap. 3 - Silvia, a Cliente

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Edgar não conseguiu discutir o assunto com Ariel, e para ser franco, nem mesmo consigo mesmo. Mais uma noite que preferiu ficar sozinho em seu quarto, ainda que Ariel tenha tentado conversar com ele umas duas vezes, Edgar apenas respondia que só precisava descansar e ficava por isso mesmo.

Mas ele sabia que alguma coisa estava errada.

Desde a sombra, sua mente esta inquieta, e a lembrança de todo o caminho de casa com uma Ariel que não existia o perturbava. Além da inquietude, sentia seu corpo frio, tremulo e fraco. Preferia ficar sentado na cama do que andando para lá e para cá, deixou as luzes do quarto e do banheiro acessas, não queria ter nenhuma surpresa na penumbra. Não podia perder a noção da realidade.

Evitou beber aquela noite, evitou ter devaneios ou qualquer coisa. Assistiu um filme pornô no laptop, se masturbou a exaustão e tomou um analgésico. Isso resolveria a noite de sono, sempre resolvia. Quando finalmente deitou era tarde da noite, e sabia que o dia seguinte estaria cansado demais para estar de bom humor.

Teve uma noite sem sonhos, ou ao menos, nenhum que se lembrou.

...

No dia seguinte, o almoço era macarronada de calabresa. Tinha gosto amargo pelas cebolas que queimaram no fundo da panela e o molho que aqueceu demais nas laterais, mas Ariel se esforçava e, se você fosse otimista, poderia acreditar que ela estava melhorando. Era o terceiro dia que ela usava a camisa branca de Edgar, isso não o incomodava, mas ficava imaginando se ela ao menos tomava banho.

- Cara, você já foi chifrado?

Edgar parou de enrolar o macarrão no garfo e olhou para ela, sentada no outro sofá tentando sem muito sucesso enrolar o macarrão com ajuda de uma colher.

- Se já fui traído?

- Não. – Ariel enfiou um punhado de macarrão na boca e continuou, falando de boca cheia. – Queria saber se um boi já te deu uma chifrada. Claro que tô falando de traição. – Ela engoliu e se pôs a enrolar mais macarrão com a colher. – Vi ontem na televisão que a traição pode gerar neuroses, deixar o cara louco. Você descobriu que sua ex tava te traindo na época? É isso?

Edgar apenas meneou a cabeça negativamente e voltou a comer. Obviamente que não, ao menos, ele acreditava assim. O termino se deu simplesmente porque ele não se sentia mais atraído por sua namorada, chegou a ter duas noites que broxou e a última foda ficou meio bomba. Não se interessava mais por ela como costumava. Uma vez ouviu um padre dizer, "Sem tesão não há solução" e começou a levar isso para sua vida.

- Vê se melhora cara.

- Vou melhorar. – Respondeu sorrindo. – Só preciso descansar. Vou ver se consigo a terça de folga.

Ariel respondeu um "uhum" molhado e meio engasgado, comia parecendo uma morta de fome e sempre enfiava mais comida do que conseguia mastigar, era estranho as vezes. Ela não acreditou em Edgar, e nem ele mesmo acreditava em suas próprias palavras.

...

Durante o expediente de trabalho sentia-se cansado e lento. Seus colegas notaram, alguns perguntavam, outros faziam gozação dizendo que a noite tinha sido boa. Naquele dia seu chefe, o senhor Fukimoto não havia ido e estava sozinho no comando do estabelecimento. Era um sábado, e sábados costumam ser movimentados. Além disso, um dos cozinheiros havia faltado e Edgar ajudava na cozinha montando os potes e caixas de frango frito, as vezes ajudava a montar os sanduiches e em alguns momentos, até mesmo a entregar a comida nas mesas.

Quase no final da noite, se permitiu respirar um pouco, sentou no escritório com o ar condicionado no máximo e tentou se refrescar. Mesmo que o lugar não passasse de uma pequena sala de três por três, com um armário, uma mesa de MDP, uma cadeira simples e, atrás da mesa, uma cadeira maior e mais confortável, giratória. Se recostou na cadeira, soltou a trava e a inclinou, uniu as mãos sobre a barriga e respirou fundo, relaxando e fechando os olhos. A primeira imagem que veio foi de Ariel gemendo em seu sonho, a sensação nos dedos e seus sussurros. Balançou a cabeça, tentou pensar em algo diferente.

A Flor NefastaOnde histórias criam vida. Descubra agora