24 horas.
O elevador parou no térreo, a porta abriu, mas ela não se moveu. Ficou ali de braços cruzados sobre os fartos seios, os cabelos negros presos em um justo rabo de cavalo, pesados óculos escuros cobrindo seus olhos e sobrancelhas como uma venda. Notava alguém ao seu lado pelo reflexo do espelho, no canto do seu olho, mesmo que tenha entrado sozinha no elevador e estado sozinha até chegar ali. Continuou parada, reconhecia a silhueta, sabia quem era, mas não era por isso que estava parada, era porque simplesmente estava entediada. Suspirou e deu um passo à frente impedindo a porta de fechar, e poucos segundos depois um bip incômodo azedou seus ouvidos.
Estava entediada, e isso não era normal, não se sentia entediada a muito tempo, fazia o que? Seis, sete meses?
Era isso então. Enfiou a mão na bolsa Prada e tirou seu celular, viu a última mensagem de Edgar e um sorriso fino riscou seu rosto. Já era hora de voltar? Mordeu o celular e deixou a mente divagar, ele estava ali no canto do seu olho afinal, e talvez, só talvez, voltar faria bem. Ao menos para ele.
Um homem parou em frente a ela, falou algo naquela língua cheia de esses e ques, ela até entendeu uma palavra ou outra, e depois de um instante finalmente saiu da porta e deixou o homem passar, ele resmungou um obrigado, "spasibo", e mais alguma coisa como "Glupaya zhenshchina". É verdade, o frio já havia cansado a algum tempo e se acostumou tanto com os pontos turísticos que mais pareciam a quadra da cidade onde morava no Brasil.
- Não era castigo. – Resmungou para si mesma, a figura ao seu lado se remexeu, uma risada com a boca fechada, parecia dar de ombros. – Não é um jogo de soma zero, era um cenário sem derrotados, ele teve o que quer e eu o que queria.
- Continue mentindo para si mesma – aquilo ao seu lado disse, a voz áspera e rápida. – Continue e talvez você acabe acreditando. – E depois de uma pausa, começou a gritar. – Hospitalizado! Coma! Quase morto! Mentalmente instável! Estuprador!
- Ok, chega!
Respondeu no grito, e as pessoas na recepção do hotel cinco estrelas a olharam por um breve momento, voltando aos seus afazeres em segundos. Conseguia ver ele bem no reflexo do piso negro, um homem alto e magro, mas muito forte, nu com o pênis anormalmente longo chegando ao joelho. Seus cabelos eram pretos e desciam em uma trança até a cintura.
Mas ela sabia porque ele havia aparecido, estava entediada. Ele veio a tirar daquela energia estática que mais parecia uma manhã de domingo, morna, sem sol e sem chuva. Apenas o mormaço.
- O que aconteceu – resmungou baixinho, de costa para a recepção – foi problema dele. De como ele lidou com a situação, não meu. Eu dei a ele o que ele queria, nem mais, nem menos.
- Ah! A mentira! – E voltou a gritar – como é bom mentir! Vejam vocês aí, essa aqui é uma das piores mentirosas! Mente para si mesma, e acredita na sua própria mentira! Vamos todos! Digam a pior das inverdades e ela acreditará, pois é tão tola quanto parece!
- Você não está ajudando. – Resmungou.
- O que? – O homem nu continuou, agora com a mão na orelha. – Não consigo te ouvir, fale mais alto!
- O única coisa que falarei alto são os nomes para te colocar nas rédeas que você merece!
- Você me chamou, Monique, e eu vim. Mas eu não estou afim de confabulações tolas. Admita. E pronto.
Monique encarou o reflexo no piso escuro por um momento, olhando a entidade caminhar para seu lado direito e depois desaparecer em um borrão. Ainda acreditava que o que havia feito não era nada demais, mas se convenceu de que já era hora de voltar, aquele país já estava chato.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Flor Nefasta
HorrorApós uma noite de sexo casual com sua prima, Edgar é atormentado por uma presença maligna que se alimenta de seus desejos mais eróticos e perversos, uma succubus, o levando a uma queda vertiginosa em direção a loucura. Se agarrando ao pouco que rest...