Cap. 16 - Goetia

108 6 2
                                    

Edgar estava voltando da cozinha quando viu a porta da sala abrir e Ariel e Loche entrarem juntas, Loche carregava uma sacola de plástico com garrafas de cerveja que tilintavam umas nas outras. Aquilo o pegou de surpresa, não imaginava as duas juntas, e muito menos chegando juntas em casa depois da carta de Ariel. Elas acenaram um oi, Loche só com a cabeça e Ariel com um aceno com a mão, meio constrangido.

- Vai lá e abraça ela. - A voz de Adrastia escorregou dentro do seu crânio. - Vai, parece que sua amiga salvou o dia.

Edgar obedeceu, viu a bola caída no chão como um bolo podre, a carne estava escura e ligada a Ariel apenas por um apêndice amarrado em seu tornozelo. Quando Edgar a abraçou, fez questão de pisar em cima daquele tentáculo com a intenção de quebrá-lo, e se surpreendeu quando deu certo. A criatura se contorceu e desapareceu em um piscar de olhos, como se nunca tivesse existido em primeiro lugar.

Ele sentia seu cheiro azedo de suor, mas não ligava, nunca ligou. Havia cheiros bem piores na sua mente.

Loche não deixou de sentir uma pontada de ciúmes ao ver os dois abraçados, mas ao invés de ficar assistindo a cena foi até a cozinha e guardou as cervejas, trazendo três delas entre os dedos e as oferecendo, encerrando aquele abraço.

- Você foi me procurar?

- Não. - Respondeu depois de um gole na cerveja que lhe foi entregue. Era forte, amarga e de um laranja escuro, viu o rotulo e logo julgou como cara demais. - Mas pedi o laptop dela emprestado para pegar uma foto em um pen-drive e imprimir para te procurar, e se precisasse fazer um panfleto. Hermes ainda estava no trabalho e não poderia ajudar, mas eu ia te colocar como pessoa desaparecida. - Deu outro gole e franziu a testa. - É essa sua mania de achar que você não importa para ninguém!

- Abaixa o tom Edgar! Eu sei como ela sente. - Loche ficou do lado dela com um sorriso amistoso. - Eu também já me senti assim por muito tempo, não é nada fácil.

- Eu sei, não quis ser grosso. - Edgar se aproximou das duas sorrindo. - Olha, eu sempre vou estar aqui para você, você sabe disso. Eu namorar com alguém ou não, não vai fazer diferença. Você é minha parceira.

"Isso Edgar", a voz vomitou em sua mente.

- Namorar? - Loche sorriu ruborizando. - É isso que somos? Namorados?

Ariel olhou um para outro, e o brilho em seu olhar era tão inocente que ela via ali seus pais, antes de todo os problemas caírem como um meteoro, ali estava seus pais. Duas pessoas que se importavam com ela, em quem poderia contar. Loche, que mal conhecia, foi a procurar até encontrar e Edgar já estava se preparando para procurá-la também. Eles se importavam. Agora queria que namorassem, ela era legal sim, esquisita, mas muito legal. Ela gostava de Edgar, cuidou dele todo esse tempo em que ele esteve doente. Não importa que Edgar tivesse achado ela em um psiquiatra, ela poderia fazer bem a ele, e a ela mesma também.

- Então - pigarreou e virou para Ariel - porque você não vai tomar um banho?

- Não quero agora e... Ah! Claro! Eu estou fedendo, não é?

Ariel deu um risinho e deixou os dois a sós, eles ficaram se encarando, Loche com as mãos na cintura e um sorriso estático, Edgar com a cerveja na altura do peito. Quando ouviram o chuveiro ligar, Loche começou:

- Não somos namorados, não é?

- Não. - Respondeu no ato, dando um gole grande na cerveja e suspirando.

- Você não queria meu laptop para isso, não é?

- Também não.

- Você nem mesmo iria procurá-la, não é?

A Flor NefastaOnde histórias criam vida. Descubra agora