Cap. 10 - Castigo pela bondade

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A casa de Loche combinava com seu celular caro e com seus gostos de cerveja. Não era grande, mas era um sobrado de dois andares, branco com linhas angulosas modernas e vidros verdes. Ela estava toda sorrisos quando desceram da moto, bem mais embriagada que ele, que já havia parado de beber a algumas horas. Ela puxou sua mão e o trouxe com pressa para a porta grande de vidro, fazendo um sinal com o dedo para não fazer barulho. Se complicou um pouco quando pegou a chave e tentou abrir a porta, o pequeno molho de chaves açoitava o vidro, o barulho agudo tintilando até a porta finalmente abrir, mas não por Loche.

Loche deu um passo trôpego para trás e uma mulher saiu da casa, era mais alta, mais madura, e muito mais feminina que Loche, mas tinha seus mesmos traços estrangeiros. Era loira, mas com os cabelos longos presos em um rabo de cavalo, tinha os mesmos olhos caribenhos, um pouco mais verdes, e era tão branca quanto ela, mas não carregava os traços exóticos da garota, sua beleza era bem mais feminina e, porque não, até mesmo angelical. Lembrava algo sagrado, talvez fosse a luz sobre seus cabelos, talvez fosse apenas a cerveja. Por um momento pensou que fosse sua mãe, mas era muito jovem para isso. Estava vestida com um pijama, um vestido verde que ia até a canela.

- Boa noite para vocês dois. - Ela começou com um sotaque ainda mais marcante. - Estava bebendo até agora, Loche?

- Não te interessa. - Loche mostrou a língua e riu com deboche. - Agora sai da frente que eu tenho...

- É você quem é? - Disse olhando por cima de Loche, para Edgar.

- Eu? Edgar. Sou um amigo da faculdade. - Mentiu rapidamente. - Vim deixar Loche em casa.

- Obrigado Edgar. Ela...

- Ele veio me comer, Leana! Agora sai da frente e para de empatar a foda.

Leana ficou rosa, depois vermelha. Loche a empurrou para o lado e chamou Edgar, mas ele deu um sorriso sem graça encarando Leana, qualquer clima que tivesse ali tinha sido destroçado pela a atitude de Loche, e ficou parado, coçando a cabeça. O álcool já tinha ido quase todo embora e ele nunca foi de se aproveitar de pessoas bêbadas, ainda que uma voz atrás da sua cabeça dissesse para ele continuar, não se importar com aquela mulher ali, como Loche disse, "empatando sua foda".

- Vem logo!

- Loche, eu... - ele olhava para Leana, depois para Loche vermelha de raiva e cerveja. - Depois a gente conversa mais, já está tarde e...

- Para de ser frouxo e vem logo.

- Não. Hoje não. Depois nós continuamos nossa...

- Vá se foder então. Você acha que é o único que eu conheço? Existem um monte de caras que eu posso ligar e eles vão vir voando para cá.

- Leana certo? - Edgar se virou para a mulher, deixando Loche com um olhar ainda mais raivoso. - Olha, não foi minha intenção causar tudo isso, eu não imaginava que isso fosse acontecer. Eu só vim deixar ela em casa.

- Tudo bem, Edgar. - Leana respirou fundo e segurou a porta, Loche apenas bufou e saiu com passos pesados, tirando a blusa de tricô e sumindo em uma porta. - Foi muito legal da sua parte trazê-la aqui e... Bem, não querer entrar.

- Sem problemas. - Edgar voltou à moto colocando o capacete. - Boa noite, deixe um beijo para Loche por mim.

Leana respondeu que sim, acenando um tchau como o de Loche. Era estranho chegar tão perto, nadar e morrer na praia, mas fez o que achou certo. Não havia motivo para apressar as coisas ou mesmo acreditar nas palavras inebriadas de Loche. A noite já tinha acabado no quinto chope. No caminho para casa, ficou imaginando a aflição de Leana, acordada até essa hora esperando Loche chegar em casa, preocupada com a irmã que tomava remédios para controlar o ímpeto, sem saber o que ela poderia aprontar e em que situação poderia se meter. Garota problema, era isso que ela era, mas que ela não era certa isso ele já sabia.

A Flor NefastaOnde histórias criam vida. Descubra agora