Capítulo 1

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A chuva caía incessantemente, batendo contra a vidraça, embaçando e prejudicando a visão lá de fora. O céu estava escuro e de vez em quando um raio iluminava o quarto, seguido pelo som de um trovão. Um muro alto cercava o jardim. Aquele lugar era como uma prisão para Louis, mas agora nesta situação parecia protege-lo.Por que ele não veio?, perguntou-se outra vez. O que será que o teria feito atrasar-se?Levantou-se da cadeira ao lado da janela e começou a andar apreensivo pelo quarto. Olhou para o relógio de pulso. Seria mesmo somente três e meia da tarde? Parecia haver passado muito mais tempo desde que o almoço terminara. Se pelo menos o dia não estivesse tão escuro e triste, ele talvez se sentisse melhor. Voltou a sentar-se perto da janela, colando o nariz na vidraça e deixando-a embaçada. Desenhou então com o dedo o rosto de um palhaço. Antigamente seria castigado por isso. Apagou então o desenho e suspirou. Estava impaciente. Quanto mais teria que esperar?Pegou sua mochila e tirou o maço de cigarros. Era estranho pensar que agora ninguém se importava com o fato dele fumar ou não. Só Harry Styles era contra cigarros. Só de pensar nele ficava nervoso. Mas era preciso se controlar! Rapidamente riscou um fósforo e acendeu o cigarro. Deu uma tragada profunda e imaginou que irmã Teresa não ia gostar de surpreendê-lo fumando. Mas era difícil abandonar o vício!


Espiou pela janela outra vez. Agora podia ver os jardins e mais adiante, à direita, o caminho que levava à entrada principal do Colégio interno Sagrado Coração. Seu nervosismo voltou quando ouviu o ronco forte do motor de um carro. Mas o som foi diminuindo aos poucos e ele concluiu que, fosse quem fosse, passara reto. Louis continuava nervoso. Certamente não teria que esperar muito mais. Será que Harry Styles não percebia o quanto ele estava triste e transtornado? Será que pensava que Louis iria aceitar passivamente essa situação nova sem ao menos considerar quais seriam suas reações?Levantou-se novamente e, caminhando em direção à lareira, apagou o cigarro. Então se olhou no pequeno espelho pendurado na parede de seu quarto. Nem todos os espelhos haviam sido proibidos naquele colégio. Sua imagem não lhe pareceu muito nítida. O que Harry Styles  pensaria dele? E o que deveria pensar de Harry Styles? O que se pode pensar de um desconhecido? 

 Tornara-se responsável por ele, embora para Louis, Harry fosse ainda uma incógnita. Puxou para trás os cabelos em desalinho que lhe caíam sobre a testa. Não via nada de extraordinário em sua pele bronzeada e em seus grandes olhos azuis. Suas sobrancelhas e cílios eram escuros. Seu cabelo castanho era sedoso e estava sempre bem bagunçado, apesar da reprovação dos irmãos. Começou a pensar no que diria a Harry Styles quando ele chegasse. Era difícil saber como deveria tratá-lo, pois quase nada sabia a seu respeito. Como ele havia sido amigo de seu pai, deveria ter agora mais de quarenta anos. Era um médico-cirurgião muito bem sucedido e provavelmente muito sofisticado. Imaginava que ele devia falar pomposamente como os estudiosos intelectuais  que costumava ouvir conversando em um bar da cidade onde Louis e mais um ou dois amigos costumavam ir em ocasiões especiais como, por exemplo, o aniversário de um deles. Considerava-o como uma espécie de tio, sem saber por quê. Por que seu tio Henry fizera isso? O que ele pretendia? Durante todos esses anos se recusara a reconhecê-lo como filho, para depois fazê-lo seu herdeiro! Louis balançou a cabeça. Não se importava com o dinheiro, porém se fosse seis meses mais velho as coisas teriam sido mais fáceis. Já teria então dezoito anos, e poderia recusar qualquer tipo de caridade. Porém, sendo menor, tinha que concordar com os termos do testamento de seu tio . Não assistiu ao enterro, mas não se sentiu culpado por isso. Afinal, em todos esses anos que esteve sob sua tutela, jamais visitara Grey Witches, a casa que seu tio tinha em Yorkshire e onde passava nove meses por ano. Os outros três meses ele ficava com Louis. Iam para um hotel em Bognor que se tornou uma espécie de segundo lar para ele. Lá passaram a Páscoa, o verão e o Natal nos últimos nove anos. Estava pensando no que lhe teria acontecido nove anos atrás se seu tio Henry não o tivesse ajudado. Ainda podia se lembrar do horrível desastre de trem que matou seus pais, ouvir os rangidos dos freios, o barulho das ferragens se retorcendo, os gritos das mulheres e o choro das crianças. Estremeceu. Ah! Sim, ainda tinha pesadelos sobre tudo aquilo que provocara uma mudança repentina em sua vida.

Tio Henry poupou-o da solidão e da miséria quando tinha apenas oito anos. Graças a ele, em vez de um orfanato, foi para o Colégio Interno do Sagrado Coração. Ele não era um homem religioso, mas respeitava a Igreja. Na ocasião, dissera-lhe que Louis não poderia morar com ele, mas que passariam parte do ano juntos. Louis agora esperava deixar o colégio para concluir o secundário e depois talvez tentar uma faculdade. Ele era inteligente e os irmãos tinham certeza de que se sairia bem. Mas tudo mudou com a morte de seu tio. Como não tinha filhos, ou pelo menos assim dizia, dera a Louis até então educação necessária e estabilidade econômica. Agora, porém. . .


Quando a porta se abriu e irmã Teresa entrou, Louis levantou-se. 

—Então, Louis. - disse ela, sorrindo. —está pronto? 

Louis arregalou os olhos.

—A senhora quer dizer que ele está aqui?- Seu coração batia descompassadamente.


—Sim, o sr. Styles chegou-disse a irmã. —Acho que ele teve alguma dificuldade em localizar o colégio com essa chuva. Além do mais, as estradas não são nada bem sinalizadas, não é?


Louis balançou a cabeça.


—Eu... eu não ouvi o carro. -gaguejou.

—Não ouviu? Bem, talvez por causa da tempestade.-admitiu irmã Teresa gentilmente.


Louis estivera tão imerso em seus pensamentos que não percebera o que se passara a sua volta. Levantou-se, pegou sua mochila e ajeitou sua camisa. Era jovem e gostaria de estar usando uma roupa mais bonita. Mas talvez fosse melhor assim. Qualquer tentativa de parecer sofisticado poderia parecer ridícula. Seguiu a irmã pelo corredor, descendo depois um lance de escadas até o andar térreo. No saguão, uma linda imagem de Nossa Senhora e do Menino Jesus dava um pouco de calor ao ambiente. Louis estava nervoso e torcia as mãos. Não era católico e, até então, mantivera-se afastado de qualquer credo religioso, mas de repente se sentiu envolvido pela força da fé. Irmã Teresa bateu na porta do escritório onde o Diretor e também Padre aguardava. Louis entrou devagar, olhando imediatamente para a figura do homem que estava imóvel ao lado da escrivaninha do Padre. Ele estava de costas para a porta, olhando para a mesma paisagem que Louis estivera contemplando minutos atrás. A chuva ainda não havia parado e as luzes do escritório haviam sido acesas, fazendo com que o ambiente se tornasse menos sombrio. Quando irmã Teresa fechou a porta, ele se virou e olhou fixamente para Louis. Seus olhos tinham um estranho tom de verde. Olhar frio. Pensou Louis. Era um homem muito bonito: suas feições era bem marcadas, seu rosto era quase como uma arte, sua pele era bem branca e a boca, extremamente sensual. Era alto, magro e tinha ombros largos. Seu cabelo era castanho, meio cacheado e liso ao mesmo tempo. Louis não conseguia adivinhar sua idade, embora fosse mais jovem do que tinha imaginado. Era certamente mais jovem do que seu pai. Não parecia um daqueles intelectuais como ele havia pensado. Vestia-se como um homem de negócios: terno escuro com colete. Estava com as mãos enfiadas nos bolsos e gotas de chuva brilhavam em seus cabelos. Louis percebeu que ele não perdera tempo fazendo perguntas sobre ele ao Diretor. Gostaria de saber o que o Padre achava dele, porém, pela sua expressão, percebeu a dúvida do religioso em entregá-lo aquele desconhecido.



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Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora