Capítulo 18

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—Acho que sim.

—Mas no fundo, Louis, seu objetivo principal foi lhe dar um lar, uma experiência de vida verdadeira. Não quis deixá-lo no colégio, que quase se equivale a um orfanato.

—A senhora sabia disso?

—Oh, sim! Como eu já disse, conversamos várias vezes sobre sua presença aqui. Deixe-me ser honesta, Louis. Harry e eu já nos conhecemos há muitos anos. Não intimamente, você compreende; ele era muito amigo de Pierre, a ponto de ambos trocarem confidências. Acho que Harry sentiu pena de você, pois, a seu ver, seu pai não foi justo com você. O sr. Farriday poderia muito bem ter trazido você para cá antes, se não estivesse tão preocupado em manter as aparências. Afinal, como você reagiria ao descobrir que sua governanta fora a mulher que ele seduzira há muitos anos e que Harry era seu filho ilegítimo?

—Não sei.

—Exatamente. Você começaria a ter dúvidas sobre ele e sobre sua generosidade. Sua vida sempre foi muito atribulada e só com você ele se sentia redimido de seus pecados.

—Acho que sim -concordou Louis.—Quanto a seu futuro, tenho o pressentimento de que Harry vai participar ativamente dele. Você se tornou parte dessa família, e eu não acredito que ele desista de suas responsabilidades até você se tornar maior, você não acha?

—Na verdade tenho que participar também dessa decisão, pois legalmente serei independente.

—Legalmente! Legalmente! -repetiu Camille, desdenhosa. —Isso é para advogados, e não para seres humanos com sentimentos! - Inclinou-se para a frente e pegou a mão de Louis. —Não seja tão agressivo com Harry. Você poderia ter se dado mal se tivesse caído nas mãos de outro homem. . . como direi. . . alguém pouco escrupuloso.

Louis levantou-se da poltrona, incapaz de discutir seus sentimentos mais íntimos, e  Camille pareceu ter entendido que a conversa chegara ao fim. Levantou-se também e disse:

—Bom, tenho que ir. Acho que vou me oferecer para ajudar a sra. Styles nos afazeres da casa, então talvez ela não me ache tão chata. -Sorriu. —Vista o casaco, Louis, e penteie o cabelo.

  Então saiu do quarto, deixando Louis sozinho. Após ela ter saído, Louis olhou para o casaco com prazer. Era lindo e fora muita gentileza de Camille ter-lhe dado. De fato, ela não era de toda má. Se Harry tencionasse casar-se com ela, com certeza ela o faria muito feliz. Louis enterrou o rosto na maciez do tecido e achou que aquela não era a hora para pensar no casamento de  Harry. Estava muito fraco para pensar em tal desgraça. Então fez o que Camille sugeriu: experimentou o casaco. Era tão lindo, tão macio! Escovou depois o cabelo e passou um pouco de spray. Que diferença! O casaco caía-lhe maravilhosamente bem. Lembrou-se do que  Camille lhe dissera sobre parecer bonito e sorriu. Nunca seria lindo, mas agora estava um pouco mais atraente.

 Mais tarde Harry veio vê-lo e, embora o examinasse atentamente, não fez nenhum comentário sobre sua aparência. Louis ficou frustrado com sua falta de sensibilidade e, quando ele colocou uma poltrona perto da dele e começou a falar de uma cena com a qual estava tendo problemas, Louis teve vontade de pegar o manuscrito e rasgá-lo em pedacinhos. Mas, em vez disso, controlou-se e ficou ouvindo ele falar de seus problemas. A peça fazia parte de uma série da seis que iria ser apresentada na televisão sob o título de "Os Devassos". Era para ser uma série controvertida sobre a devassidão em todas as suas formas, desde o vício, a perversão, até as mais estranhas orgias. A peça na qual Harry estava trabalhando tinha como personagem central um filho depravado e vadio de pais pobres e trabalhadores. Seu comportamento destruía a vida de toda a família. Era uma peça triste, nada agradável, mas Louis envolveu-se com o texto e, a partir daí, começou a apreciar melhor seu grande talento, pois graças a ele o trabalho de Harry Styles era tão elogiado. Seu diálogo era marcante e decisivo; seus personagens eram fortes, mas em todos existiam as fraquezas humanas. Nenhum dos personagens era totalmente bom, ou totalmente mau, e era isso que tornava a peça real, viva. A despeito de sua irritação, Louis ficou interessado como sempre ficava quando Harry falava assim com ele, e foi somente no fim, quando acabaram de discutir a cena, que Louis sentiu voltar sua indignação provocada pela falta de sensibilidade dele em não notar seu casaco novo. De repente ele olhou para seu relógio e viu que passava das nove e meia. Ao vê-lo levantar-se para sair, Louis disse, petulante:

Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora