Capítulo 3

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Durante alguns minutos observou a chuva. Quando houvesse tempestade sempre se lembraria dessa tarde! Harry não lhe dirigiu a palavra de pronto. Dava-lhe tempo para recobrar o controle. Depois de manobrar o carro para fora dos portões, tomou a direção da estrada. O Colégio interno Sagrado Coração estava situado a mais ou menos cinco quilômetros de Guildford e Harry só falou com ele quando pegaram a estrada que os levaria a Londres.

—Como é? Vai chorar ou está guardando as lágrimas para derramá-las na cama esta noite?

Louis olhou-o, espantado. Não estava acostumado com esse modo rude de falar e, tentando ser delicado, respondeu:

—Não vou chorar agora, sr. Styles, e quanto a esta noite nem mesmo sei onde vou passá-la. -Mordeu os lábios para evitar que tremessem.

—Não sabe mesmo? O procurador não lhe explicou?

—Eu não me encontrei com o procurador.

—Então é isso! Quer dizer que tudo foi feito por correspondência?

 —Claro. Por outro lado, o que o procurador poderia haver me dito? Pelo tom de sua carta, parecia tão surpreso quanto eu.

—E por que você está surpreso, Louis? -perguntou Harry, franzindo o cenho. —Você esperava ser o herdeiro de Henry?

—Acho que o senhor é bem do contra, sr. Styles! -exclamou. —Eu não imaginei nada. Tio Henry não era muito velho. Eu esperava ir para a universidade quando completasse dezoito anos, e depois. . . bem. . . pretendia arrumar um emprego e um lugar para morar.

Harry o olhou friamente.

—Certo, eu entendo e aceito isso.

—O senhor ainda não respondeu a minha pergunta. Onde vou ficar? Onde vou morar?

Harry  tirou novamente a garrafinha de bolso e bebericou antes de responder:

—Hoje você vai ficar em meu apartamento em Londres. Amanhã iremos para Yorkshire.

—Para Grey Witches? -perguntou Louis, surpreso.

—Lógico! Para Grey Witches! Não pretendo vender a casa, você sabe. O que é que há? Não a atrai a ideia de ir para lá?

Louis sacudiu a cabeça.

—Ainda não pensei nisso. -respondeu, sentindo-se excitado ao pensar como seria maravilhoso ter uma casa, um lar depois de todos esses anos.

Estavam chegando a Londres. As vias de acesso à cidade estavam congestionadas. Harry voltou sua atenção para o tráfego. Louis olhou ao redor com interesse, pois não conhecia Londres. Quando morava em Nottingham com seus pais, nunca sentiu interesse. Depois com o tio-avô Henry, que evitava Londres como se fosse uma praga, essa possibilidade deixou de existir. O apartamento de Harry era no último andar de um prédio de luxo. Uma vez no saguão,Louis esqueceu o tempo horrível que fazia lá fora. O elevador subiu lentamente, chegando finalmente ao trigésimo andar. Assim que entraram no apartamento, apareceu um empregado. Harry apresentou-o a Louis. Era Graham, seu mordomo. Louis sorriu, apertaram-se as mãos e Harry observou:

—Graham é um grande cavalheiro. Foi empregado de lorde Bestingcot anos atrás, mas está comigo há dez anos mais ou menos, não é, Graham? Ele está tentando dar os atributos de um cavalheiro a uma pessoa rude como eu -concluiu, sorrindo.

Louis espantou-se com a mudança de sua atitude. Estava começando a ver Harry com outros olhos. Havia de fato algo particularmente excitante naquele homem. Sua rudeza, pensou, deveria ser o maior de seus charmes. Após apanhar a capa de Louis, Graham perguntou-lhes se gostariam de tomar um café. Mas como o jantar logo seria servido, Harry disse-lhe que não.

Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora