Capítulo 8

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Quando Taylor acabou de falar, Louis olhou-a com espanto e incredulidade, sem esconder a mágoa. Por um instante pareceu que Taylor se arrependera por ter sido tão rude e, numa tentativa de contornar a situação, disse:

—Bem, lá está James. Ele vai ficar aliviado ao ver que você voltou sã e salvo.

Louis encarou-a longamente e depois correu em direção à casa. Voou escadas acima e trancou-se em seu quarto. Uma vez lá, se jogou na cama e afundou o rosto no travesseiro. Oh, Deus, pensou, desesperado, era por isso que ele a achava um estorvo. Harry não esperava nem queria ser tutor de  ninguém. E a maneira como ele o tratava, um misto de impaciência e gentileza,era apenas para ocultar seus verdadeiros sentimentos. Hoje mesmo ele já demonstrara isso. Sentiu-se profundamente infeliz. Tanta coisa tinha acontecido desde que deixara o colégio dois dias atrás! Surgiram tantos problemas, tantas coisas estranhas que Louis estava meio perdido, sem saber como enfrentá-los. Além de tudo conhecia Harry tão pouco! Essas três pessoas dentro de cujas vidas fora atirada tinham interesses próprios e ele se tornara um verdadeiro empecilho para elas. Louis levantou-se e assim que o fez teve uma visão múltipla de si mesmo nos vários espelhos da penteadeira. De alguma forma ele estava diferente. Percebeu então que era a calça comprida apertada  de Lily que moldava seu corpo esguio. Olhando-se, percebeu com surpresa que parecia muito vulgar. Será que foi assim que Harry o vira? Será que o fato de não poder mandar e desmandar nele como a uma criança também não o chateava? Saiu da frente do espelho. Fossem quais fossem os seus sentimentos, não poderia permanecer indefinidamente no quarto, pois logo mais alguém viria limpá-lo e fazer a cama. Antes, porém, precisava arrumar-se um pouco.Começou a pentear os cabelos, procurando não pensar nas coisas que Taylor lhe contara. Como poderia permanecer ali sabendo que Harry só sentira pena dele? Precisava ir embora, cuidar de sua vida, arrumar um emprego. Oh, como Henry Farriday havia sido descuidado ao deixá-lo assim desprotegido. Se pelo menos lhe tivesse deixado algum dinheiro para poder terminar seu curso, ele se arranjaria depois. Louis estava pensando no que deveria fazer quando bateram na porta. Pensou que fosse Lily e disse:

-Entre! -Continuou a pentear o cabelo. Grosso e macio.

Mas quando a porta se abriu não foi Lily Manvers quem entrou, e sim Harry, com a cara zangada e os olhos verdes fixos nele. Fechou a porta e Louis levantou-se de um pulo do banquinho da penteadeira, perturbado com sua presença. Ele sabia que estava despenteado e com cara de choro. Afastou então o cabelo do rosto e olhou para ele, apreensivo. Harry passou a mão pelo próprio cabelo e disse asperamente:

—Gostaria de saber o que Taylor lhe falou para fazer você subir correndo para cá, como se estivesse fugindo do diabo.

—Pre. . . prefiro não falar sobre isso agora -disse Louis.— Não tive nem tempo de pensar ainda.

—Oh, pelo amor de Deus! -exclamou. -Eu sei o que ela falou.

—Então por que pergunta? O senhor deve saber como me senti. Ela só esclareceu sua posição em relação a mim, é tudo. Agora eu preciso de tempo para me esclarecer melhor.

—Não há nada para ser esclarecido. Isso não faz a menor diferença.

—Ah, faz sim -retrucou Louis. —Não preciso de sua caridade. Sou capaz de conseguir um emprego. 

—Você acha mesmo? -Seu tom era irônico e frio.

—Eu posso -respondeu, mordendo os lábios para evitar que tremessem.

Houve um momento de silêncio. Louis respirou profundamente. Então Harry, numa voz calma e inflexível, disse:

—Agora vou lhe dizer o que você vai fazer, posso? -Como Louis não deu resposta, continuou:      —Você vai esquecer cada palavra que Taylor lhe disse. Você vai ver que ela não é tão má quando conhecê-la melhor. Como minha mãe, ela está tendo que lutar pelo que quer, e às vezes se esquece que há pessoas no mundo diferentes dela.

Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora