Capítulo 20

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O papel era fino e caro e seu conteúdo era breve e direto. Louis leu a carta de uma vez e, contendo um grito, afundou na poltrona e releu. Estava tremendo quando o fez pela terceira vez. Começava assim:

"Ao Caro sr. Tomlinson Foi-nos comunicado recentemente pelo sr. Amos Lancer, proprietário do Hotel Crompton em Bognor, que seu cliente, o sr. Henry Farriday, não fez a reserva costumeira para suas férias de Natal. Se isso alguma vez acontecesse, ele deu instruções para que nos informassem, e isso nos levou a entrar em contato com a firma Grant, Campbell e Dawson que nos avisou da morte de seu tio e da subsequente leitura do testamento em poder deles. Contudo, é nosso dever informá-lo de que seu tio-avô fez um segundo testamento que está em nosso poder no qual o senhor é o único herdeiro. Como esse documento tem data posterior ao primeiro, em poder da já citada firma Grant, Campbell e Dawson, é o legítimo, anulando desta forma o precedente. Foi esta a última vontade do sr. Henry Farriday"

Havia mais detalhes sobre datas e outras informações, porém Louis estava mais interessado na parte principal da carta que o declarava o único herdeiro de seu tio. Era incrível acontecer uma coisa dessas, mas não o surpreendia o fato de Henry Farriday ter feito isso. As suspeitas da sra. Styles foram confirmadas. Essa era a vingança de seu tio-avô às humilhações que ela o fizera passar. Louis continuava sentado, olhando para a carta, quando Lily o chamou, dizendo que o café estava pronto. Armou-se de coragem, escondeu a carta dentro de sua maleta e desceu as escadas como se nada tivesse acontecido. Durante a refeição Louis comeu muito pouco, sentindo todo o peso do problema. Como dizer à sra. Styles que ela não era mais a dona de Grey Witches? Como ele, Louis, poderia controlar uma propriedade daquele tamanho? Que força estranha se apoderara de seu tio para torná-lo capaz de fazer uma coisa dessas?Servindo-se de uma segunda xícara de café, pediu a Taylor um cigarro. Taylor pareceu surpresa, porém não disse nada, apenas pegou o maço de cigarros e passou-o para Louis. Depois de acendê-lo, ele deu uma tragada profunda e soltou a fumaça com visível esforço. Camille olhou para ele, preocupada, e disse:

—Eu não havia visto você fumar antes. Como foi que lhe deu essa vontade agora?

—Nada em particular -respondeu, indiferente. —Tive vontade. Só isso -acrescentou, sorrindo.

—Alguma coisa está preocupando você, Louis? -interveio a sra. Styles, olhando-o de forma estranha. —Você está com nojo de alguma coisa, por acaso?

—Que horror! -exclamou Taylor, olhando para a tia. —Qual é o problema, tia Anne? Será que está de novo com dor de cabeça?

Louis levantou-se abruptamente da mesa e deixou a sala. Não podia aguentar as mesmas discussões logo de manhã. Precisava falar com alguém. . . mas quem? Em quem poderia confiar? Certamente não na sra. Styles ou em Taylor, por razões óbvias. E Vincent? Não depois da proposta que lhe fizera na noite passada. De alguma forma isso os tinha afastado um pouco. Só restava uma pessoa: Camille Rowe-Bel. Ele relutara em trocar confidências com a francesa, mas nesse momento era a única pessoa com quem poderia conversar objetivamente. Tomando uma decisão repentina, voltou à sala de jantar e disse:

—Sra. Rowe-Bel, posso lhe falar por um momento?

A surpresa estampada nos rostos da sra. Styles e de Taylor era cômica. Camille porém estava séria. Ela simplesmente assentiu, afastou a cadeira e foi até o vestíbulo onde Louis a esperava, nervoso.

—Sim? -disse, curiosa. —O que é?

—Não dá para falar aqui. Não podíamos pegar o carro e dar um passeio?

Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora