Capítulo 2

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—Ah, cá está você, meu filho! Como pode ver, o sr. Styles finalmente chegou para levá-lo para casa.

Casa? Domine surpreendeu-se. Onde seria sua casa agora? Algum lugar que pertencesse a esse homem? Ou o hotel em Bognor? Ou finalmente Grey Witches?

—Sim...gaguejou. —Muito. . . muito prazer.

Estendeu a mão desajeitadamente e Harry Styles apertou-a com ligeira indiferença. Suas mãos eram o iguais a de um artista, não um médico, pensou Louis. Eram longas e magras e com unhas bem tratadas.

—Olá, Louis! -disse, sem emoção. —Está pronto para partir?

-Oh, mas. . . -interveio o diretor, olhando ora para Louis, ora para Harry. —Quero dizer, não gostaria de ficar e tomar chá conosco? Isso daria a Louis a chance de conhecê-lo um pouco. Afinal o senhor é um completo estranho para ele, não é?

Harry Styles comprimiu os lábios por um momento.

—Sim, somos estranhos um ao outro, Padre.-concordou. —Mas não creio que possamos começar a nos conhecer com uma terceira pessoa presente. Por outro lado, o senhor sabe que me atrasei por causa do tempo e que gostaria de voltar a Londres antes da hora do jantar.

Louis sentiu um aperto horrível no estômago. Até o momento, tinha pensado tanto nesse encontro, que não avaliara o significado de ficar sob sua tutela. Estaria obviamente sujeito a suas vontades, a suas ordens. Ao se dar conta disso, não escondeu seu nervosismo e o Padre, percebendo, disse:

—De qualquer forma, sr. Styles, insisto que tome chá conosco. Como o senhor também é um estranho para nós, gostaria que pudéssemos discutir o futuro de Louis. É natural que queiramos saber quais são seus planos para ele, e que providências foram tomadas para que ele continue seus estudos. Louis sempre foi um dos nossos melhores alunos e seria uma pena que ele tivesse que interrompê-los agora.

Harry Styles tirou uma garrafa de bolso, onde geralmente colocava bebidas alcoólicas  e olhou astutamente para  o diretor antes de colocá-la na boca.

—Muito bem, vamos ao chá! Espero que não se importe que eu beba um pouco.

Não foi um pedido de permissão , pensou Louis. Harry Styles pareceu-lhe um homem muito independente e concluiu que ele beberia fosse qual fosse a resposta do diretor. O Padre foi então até a porta e chamou:

—Irmã Teresa! Pode trazer o chá agora, por favor?

Louis continuava no meio da sala, sentindo os olhos de Harry sobre ele. Não conseguia entender como esse homem se tornara seu tutor. Harry aceitou a sugestão do diretor e sentou-se perto da janela. Louis acomodou-se em uma cadeira ao lado da escrivaninha do Padre. Irmã Teresa trouxe um carrinho de chá com bolo e sanduíches. Louis viu-se forçado a comer um dos sanduíches, embora não tivesse vontade. O dia parecia ainda mais melancólico e ele mal podia acreditar que aquilo estivesse realmente acontecendo. Pela primeira vez pensou na reação daquele homem, ao lhe ser legada a tutela de um adolescente que nada conhecia do mundo além dos muros do colégio.Por um instante, tomou consciência de sua inexperiência de vida e sentiu uma certa ansiedade. Se pelo menos fosse um outro tipo de garoto, como Mark Johnson, por exemplo, um de seus amigos, seria capaz de enfrentar com mais coragem a situação. Mas Mark tinha um lar normal, dois irmãos mais velhos para poder sair, trocar experiências.  Louis, porém não contara com ninguém nesses nove anos a não ser seu tio-avô, cujas ideias sobre diversão se restringiam a fazer viagens, ir a um cinema ou teatro, e ocasionalmente fazer uma visita a alguma instituição de caridade. Ele ouvira outros garotos conversando sobre roupas, música pop e namoradas, mas fora isso nada mais sabia sobre o mundo deles. O diretor começou então a perguntar a Harry Styles sobre seus planos para Louis, mas suas respostas eram lacônicas. Depois de algum tempo, percebeu que não conseguiria nada desse jeito. Então, voltando sua atenção para Louis, perguntou:

—Já fez algum plano, Louis? Já pensou num tipo de ocupação para você?

Louis hesitou, ao perceber o interesse de Harry Styles.

—É muito cedo para fazer qualquer plano -respondeu desajeitadamente.—Porém, daqui a seis meses, quando terminar a responsabilidade do sr. Styles sobre mim, espero não ter muita dificuldade em arranjar um emprego em algum escritório. Os resultados de meus exames foram bons e estou qualificado para trabalhar num banco ou numa biblioteca, se necessário.

Harry inclinou-se para a frente, olhando demoradamente para sua xícara de chá.

—Ora, vamos! Isto não é um leilão, Padre. Louis foi entregue a meus cuidados e o senhor não precisa temer quanto a seu futuro. 

O padre assustou-se e Louis corou com suas palavras.

—Não se trata disso, sr. Styles -observou o Padre, com voz tensa. —Somos pessoas simples aqui, com crenças simples e possivelmente uma atitude errada em relação ao mundo lá de fora, mas apesar de tudo estamos certos de que um garoto da idade dele precise ter as qualificações necessárias para conseguir um emprego adequado.

O olhar de Harry estava gelado quando perguntou:

—E o que o senhor considera um emprego adequado?

—Não creio que seja obrigado a responder suas perguntas, sr. Styles. Mas como o senhor perguntou, qualquer um dos empregos que Louis mencionou me parece aceitável.

Harry Styles balançou a cabeça.

—Certamente o senhor está eliminando qualquer outro emprego que não observe as regras rígidas desse colégio religioso -disse asperamente. —Se Louis está bem qualificado, talvez prefira um emprego melhor. Há a publicidade ou algo mais degradante como o teatro, por exemplo.

—Obviamente estamos falando de coisas diferentes, sr. Styles-respondeu-lhe o Padre, com um tom magoado na voz. —Devo entender que Louis vai ser encaminhado ao teatro só porque este é o seu mundo?

Como assim? Ele não era médico-cirurgião? pensou, Louis.

—Claro que não!  -disse Harry, levantando-se. —Concordo que estamos falando de coisas diferentes, contudo não me parece que isso interesse muito por enquanto. Por ora, Louis não vai trabalhar.

—Por quê? -perguntou o garoto, olhando para ele.

—Veremos. -Afivelou seu casaco e continuou: —Não creio que essa discussão leve a alguma coisa. É muito cedo para se chegar a uma conclusão. -Olhou então para o Padre e acrescentou: —Eu o manterei informado sobre os passos de Louis, se é isso que deseja. Mas o tempo está passando e, como disse, quero estar em Londres antes do jantar. O senhor nos dá licença?

O Padre não teve outra alternativa senão concordar. Antes, porém, sugeriu a Louis que fosse pegar suas coisas e dissesse adeus a seus amigos. Depois disse adeus a irmã Teresa e depois ao Padre, reprimindo o choro, correu para o automóvel. Harry foi despedir-se dos irmãos e depois retornou ao carro, sentando-se ao lado dele. Deu então a partida no motor e, após acenarem adeus, começaram a viagem. Louis, recostado em seu assento, sentia-se indefeso. Tudo o que lhe era familiar ficara para trás! 


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Tempestade (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora