Blupt

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ele focalizou a máquina bem na coluna e ...

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Pronto. O raio invisível lascou uma foto da minha vértebra. Depois de revelada, pedi para me mostrarem, mas nem adiantou. Não entendi nada, eram todas iguais. Mas o cara olhou e falou que minha vértebra estava bem ruinzinha. Fiquei puto. Nao era possível, quase um mês sem levantar a cabeça e essa porra ainda não havia solidificado. Vai ver esse merda não entendia nada. Ou, então, os burros dos médicos campineiros não entendiam nada de vértebra quebrada. É mesmo, sempre soube que, quando quebra um osso, tem que engessar e tomar bastante leite.
Não, besteira minha, engessar porque tem que ficar imóvel. E meu pescoço estava imóvel. "Que bosta, que bosta, que bosta! Eu  quero sentar, sentar. Quero ir para um banheiro, sentar na privada, peidar, roer a unha, bater uma punheta."

A maca começou novamente a andar. Saímos da sala, entramos num elevador bem comprido. Que delícia, o elevador subindo. Eu estava andando por tabela. A máquina fazia vibrar todo o corpo. Sentia até ventinho na cara, como se estivesse guiando um kart.
Subindo, levitando, crescendo, como um anjo escolhendo a mais confortável nuvem para repousar, meditar e viver. Estava indo para meu novo leito, continuaria deitado, fazendo o possível para não enlouquecer.

O elevador parou. Acabou a sensação deliciosa.
Quase pedi pro guia dar mais uma voltinha.  " Aperta o térreo de novo." Mas eu tenho senso do ridículo.
Abre-se a porta, novo corredor. Este, amarelo claro. "Devo estar na parte velha do hospital, pois o teto (pé-direito, na linguagem engenheril) é bem alto, com portas também altas. Cheiro de comida. Provavelmente estou perto de um restaurante. Incrível, mas faz um mês que me alimento de sopas e alguns danones.
Quem sabe não irei comer um filezão com fritas e bastante cebola. Uma salada de cenouras cruas, com azeite e vinagre.

Entramos em um corredor estreito. "Devo estar chegando." Uma mistura de êxtase e nervoso fazia minha barriga doer. Estava curioso pra conhecer o falado quarto. "Será amarelo a cor do teto? " Não, provavelmente seria um quarto todo vermelho, cama redonda giratória, espelho no teto. A enfermeira me receberia vestida com uma camisola transparente preta e, depois de banhar meu corpo com óleo de amêndoa chinesa, deitaria sobre mim, falando baixinho no meu ouvido: -Bem vindo, gostosão".

Marrom-claro, bem clarinho. Nem bonito, nem feio. O pé-direito altíssimo( o teto).
Teto de madeira, com um monte de ripas. No centro, um lustre redondo. Luz normal.
Interessante.

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