Marco Antonio e Cassius não podiam acreditar no que seus olhos viam, naquela linda manhã de primavera, bem na porta de sua casa: Um minicarro motorizado, vermelho, com emplacamento e tudo, tinha até um porta-trecos e farol...E chegava a velocidade de 30 Km/h.Igualzinho ao que eles viram na propaganda da TV. Que belo presente de aniversário!
Seu pai, Carlos Roberto, era um homem generoso, um pai atencioso, e sempre teve o coração mole, principalmente se tratando dos filhos. Desde a morte de sua esposa, não podia negar nada, era extremamente devotado tanto aos os meninos, Marco Antonio e Cassius, quanto às meninas Carla, a mais velha, e seu xodó e raspinha do tacho, Carolina.
Carlos era vice-presidente de uma corporação da construção civil, um homem de poucas palavras, sério no trabalho, daqueles que quando abrem a boca, todo mundo para o que estiver fazendo para escutar. Sobrancelhas serradas e olhar agudo sempre ouvia mais, analisava bem antes de dar seu parecer. Quando o fazia, entretanto, era com aquela eloquência típica de um sábio, com frases de efeito, cheio de reticências, conseguindo sempre o que queria, tendo ganhado com isso um imenso respeito em seu meio.
Filho de pai Italiano e mãe brasileira sempre fora um rapaz trabalhador.Embora tenha perdido seu pai ainda garoto,não se intimidou frente as dificuldades,tendo crescido e estudado até se formar em engenharia, uma profissão promissora naqueles tempos. Era ainda novo, quando conheceu Amanda, com quem começou a namorar na mais tenra idade, noivando e casando poucos anos mais tarde. Amanda mal tinha completado 18 anos.Deus como eram apaixonados!Aquele tipo de casal que parece feito à mão, bem raro nos dias de hoje. Ela era uma moça muito bonita e extremamente simpática, e Carlos também, um rapaz muito bem apanhado, napolitano típico, o que fazia com que todos os fitassem quando andavam de mãos dadas, ou trocavam alguns olhares em público. Bem se podia ver que a felicidade dos dois era o tipo de sentimento que possuía uma luz própria.
O casamento foi cercado de gente da alta classe, pois tanto um quanto o outro eram de famílias abastadas, chegou até a sair no noticiário local. Todos estavam presentes, tudo muito lindo, desde as daminhas de honra e o vestido da noiva até a decoração, tudo um luxo. Os pais de Amanda estavam muito felizes, pois sabiam o quanto o casal se amava, além do que Carlos era um verdadeiro cavalheiro e, embora moço, tinha um futuro promissor.A mãe de Carlos,Dona Sâmia, também estava maravilhada, e disse a seu filho com um afável sorriso:
– Seu pai estaria orgulhoso de você.
- É mãe... Estaria se estivesse aqui, se pudesse me ver - Retorquiu Carlos em tom de desamparo.
- Mas ele pode filho... Ele pode. Tenho certeza que ele esta te vendo nesse exato momento, e esta radiante.
- Sabe que não acredito nessas coisas mãe. Amei meu pai o quanto pude enquanto ele estava vivo, e agora que morreu só me resta a saudade. Deixe-me ficar com ela, pois foi só o que sobrou. Eu já me conformei,não entendo porque insistes nisso.
Dona Sâmia, vendo a teimosia do filho mas respeitando seu momento resolveu calar-se, afinal ela mesma não era um poço de fé. Nunca criou seu filho com religião, e não seria agora que iria convencê-lo de alguma coisa, mesmo porque nem ela tinha certeza de nada, então com que autoridade poderia dar conselhos?Preferiu respeitar sua opinião, resignando-se apenas a dizer:
– O fato de não acreditarmos em certas coisas, não elimina o fato de que possamos estar errados a respeito das nossas convicções. Todo paradigma nasce para ser quebrado.Precisa aprender a crer que existem coisas as quais você não tem controle...E,sei lá, quem sabe? Deixar de ser tão teimoso.
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Campos de Algodão
RomanceCarlos Roberto é um homem bem-sucedido do ramo da construção civil.Tem uma bela esposa, lindos filhos, e uma situação financeira que lhe confere comodidade.Mas após o falecimento de sua esposa, seu mundo começa a desmoronar.Sua personalidade cética...