V

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Se naquela noite alguém me dissesse que após essa longa semana de sensações conturbadas eu veria a imagem de Luciana Andrade na porta do meu quarto, eu jamais acreditaria. Eu estava em um momento onde não podia esperar muito vindo dela, e isso fazia com que qualquer sinal de iniciativa e atitude de sua parte me deixasse incrédula. Enquanto andávamos pelo corredor do andar dos nossos quartos, eu me perguntava o que a teria levado até lá e, ainda por cima, não ter desistido da ideia quando Aline disse que não iria conosco. Pelo menos, ela não deveria estar se sentindo tão desconfortável na minha presença e isso era bom, estava com saudades de sua companhia. O percurso até o elevador foi feito em silêncio, que dessa vez não foi nada constrangedor. Chamei o elevador e a olhei enquanto esperávamos, vendo aquela curva tão bonita de seus lábios desenhando um sorriso em seu rosto. O elevador enfim chegou e nós entramos. 

— E agora, para onde vamos? — Perguntei, encarando os botões do painel. Ela aparentava estar um pouco inquieta.

— Eu não sei...  você foi a convidada, pode escolher o destino . — Ela respondeu sem fazer sentido algum. A cabeça dela deveria estar trabalhando numa velocidade alta.

— Uau, eu pensava que as pessoas que convidam é que decidiam o destino, mas tudo bem, talvez as coisas sejam assim lá no seu planeta de Varginha. — Respondi tirando sarro e ela lançou um olhar furioso, seguido de um tapa no meu ombro.  

— Olha aqui dona Fantine, não fala assim da minha terra e vê se trata de apertar algum botão logo. — Ela disse mantendo sua pose de brava, contendo um riso internamente.

— Tá bom, já que você insiste. — Falei, ainda rindo de sua reação e apertando o botão correspondente ao térreo. — Já tive uma ideia mesmo.

— Ah, é? E qual foi? — Ela perguntou enquanto arrumava o cabelo no espelho do elevador, até que ele parou e a porta se abriu.

— Vamos lá fora, você já vai ver. — Respondi com um olhar convidativo ao qual ela assentiu com um sorriso. Passamos pelo hall do hotel e cruzamos a porta de entrada, chegando na área externa. A noite era de um céu estrelado e de uma lua crescente radiante. Aquele lugar era incrível durante a noite.

— Será que nós podemos estar aqui fora? Eu tinha pensado em ficarmos lá dentro. — Ela perguntou olhando para os lados, como se estivesse sendo vigiada. 

— Ah, Luciana, você não me engana querendo ser certinha. E se por acaso tivermos algum problema, é só eu dizer a verdade: que você que me arrastou pra cá. — Respondi, sorrindo convencida. 

— Palhaça. Quero ver quem é que vai acreditar em você, com um anjinho como eu por perto. — Ela disse, espelhando a minha expressão convencida. Bastavam apenas alguns minutos perto dela pra eu ficar assim, toda boba e cheia de graça. Seguimos caminhando pela área externa do resort até chegarmos no campo de golfe, onde eu havia planejado ir. 

— E então, o que acha? — Perguntei, quando chegamos no gramado.

— Que lugar lindo! — Ela exclamou, se aproximando um pouco mais de mim. — Sabia que tem uma coisa que eu sempre quis fazer em um campo de golfe? — Ela falou mais baixo, ainda próxima de mim e eu engoli em seco. Não pensa besteira, Fantine, se controla. 

T-tem? — Diacho, mais uma vez que me deixo gaguejar perto dela.

— Sim, e eu vou fazer isso agora mesmo. — Ela disse entusiasmada enquanto eu sentia uma onda de eletricidade passar pelo meu corpo, quando de repente vejo ela sair correndo em direção a uma parte mais elevada do campo. — Você não me alcança, Fantine! — Ela gritou enquanto corria e eu saí correndo atrás dela. Quando consegui chegar perto de alcançá-la, ela rapidamente se jogou contra o gramado, descendo a pequena montanha do campo, rolando até que parasse. — Viu? Eu venci! — Ela disse gargalhando com uma mão sobre a barriga, ainda deitada no gramado. 

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