XII

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A fração de segundo é o momento em que a vida acontece.

É numa fração de segundo que alguma situação acontece, que interpretamos o ocorrido e que apresentamos uma reação. Essa é a forma com a qual o cérebro trabalha e processa as informações, além de visar sua autodefesa,  focando em manter-se seguro e não tomar riscos demasiado grandes. 

Reagir. Toda ação causa uma reação e toda causa tem um efeito. Toda expectativa tem consequências. Não se pode brincar com o fogo e esperar que não se saia queimado. É por isso que nem toda decisão tomada nessa fração de segundo é a correta ou a mais apropriada, pois é nesse momento que acabamos por decidir transpassar ou não uma barreira invisível a olho nu. Às vezes, o impulso é quem atropela e toma a nossa voz, e isso pode até acabar sendo muito bom. Ou muito ruim.

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As sobrancelhas de Luciana se estreitaram ao me ouvir, formando um vinco entre elas. Seus olhos se moviam com uma certa velocidade sobre os meus, como se tentassem ler alguma coisa através deles, como se tentassem procurar por algum sinal de brincadeira ou algum rastro de uma pegadinha, mas não havia nada disso neles. Essa foi uma das frações de segundo mais demoradas que eu me lembro de ter vivido. Minha garganta secou logo após eu ter proferido as últimas palavras a ela há alguns instantes, dizendo amá-la. Eu não pensei que essas palavras realmente sairiam de mim naquele momento, e não pensei que palavra alguma sequer sairia de mim após qualquer resposta que ela me desse. Foi como se um grande branco tomasse conta das minhas ideias enquanto ela me olhava. Meus pés já não tocavam o chão; estavam suspensos no ar, vacilando entre um pequeno pedaço de solo firme e um abismo interminável. Meu corpo se conflitava entre a vontade de sair correndo dali e a de permanecer pelo maior período de tempo que pudesse perto dela. Levou alguns segundos até que Luciana enfim dissesse algo.

— Fanta, você... — Ela hesitou, parecendo buscar por palavras que se encaixassem melhor na situação, seus olhos ainda sobre os meus. Racionalidade. Seus lábios se comprimiram em uma linha fina antes de prosseguir. — Você é uma pessoa realmente incrível e eu tenho muita sorte por ter te conhecido. Acho que devia saber disso. — Sua voz saiu, um pouco mais baixa.

Naquele momento eu pude perceber que ela não havia dito tudo o que se passava pela cabeça dela, ali dentro ela deveria estar processando a informação incessantemente. É claro que dentro de mim habitava a vontade de poder conversar brandamente com ela a respeito disso sem medo algum, mas talvez ainda não fosse o momento certo. Ou será que era? Talvez eu tivesse apenas me precipitado, e ela fez o melhor que pôde com as palavras diante do que sentia naquele instante. Senti que quando ela estivesse pronta para falar, eu estaria também, e que seria melhor assim. Luciana voltou a se aninhar no meu peito, me envolvendo em um abraço afetuoso do qual eu gostaria de ficar dentro para sempre, se pudesse. Depositei um beijo leve no topo de sua cabeça e em questão de alguns minutos, adormecemos, num sono incrivelmente sereno e restaurador, apesar das poucas horas de descanso. 

Despertamos com a luz do sol que começou a invadir o quarto de Luciana e nos atingir com suas ondas de calor, anunciando mais um dia quente para a coleção. Abri os olhos e vi a pequena que me envolvia em seu abraço se remexendo aos poucos, como se estivesse num estado de sono leve. Tentei chamá-la enquanto acariciava seus ombros com a ponta dos dedos. 

— Bom dia, Lu. Vamos levantar? — Era totalmente contra a minha vontade, mas eu sabia que precisava sair dali antes que a Karin acordasse e quisesse voltar pro quarto dela. 

— Só mais um pouquinho. — Respondeu manhosa, afundando o rosto ainda mais contra o meu peito. Eu não posso com uma coisa dessas.

Lu, daqui a pouco a Karin vai acordar e querer voltar pro quarto... eu não posso ficar aqui, por mais que eu queira muito. — Ouvi um resmungo em forma de resposta e o aperto de seus braços se afrouxando. 

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