IX

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A primeira noite na Casa Pop não poderia ter começado melhor: depois de explorarmos e descobrirmos todos os cantos da casa, nos reunimos na cozinha para fazer um jantar de comemoração, afinal, não sabíamos quando seria o nosso último dia no programa. 

Melissa se direcionou aos armários da cozinha, procurando por uma travessa de vidro onde a comida seria servida, enquanto Karin remexia uma enorme panela de água fervente com macarrão, até que ficasse no ponto certo de cozimento. O molho de tomate ficou por conta da Aline, que conversava com os tomates enquanto os cortava para depois jogá-los no liquidificador. 

— Tchau, tomatinho número um, foi um prazer te conhecer. Agora é a vez do seu irmãozinho. — Ela dizia num tom de pena, enquanto preparava a faca para assassinar mais um tomate pro seu molho, recebendo um olhar debochado de Karin em resposta. 

— Que cheiro maravilhoso! Quanto falta pra comida ficar pronta? — Patrícia disse ofegante, depois de vir correndo da sala até a cozinha. 

— Ih, chegou a saco sem fundo... — Karin respondeu, voltando a se concentrar na sua panela de macarronada. 

— Eu não tenho culpa, gente, é que o dia foi muito emocionante e isso me dá vontade de comer. — Ela disse baixando os olhos, como uma criança justificando algo que acabara de aprontar.

— Então você deve passar por muitas emoções todos os dias, né? — Karin rebateu novamente e Aline soltou uma gargalhada que poderia ser ouvia a alguns quilômetros dali. 

— Vocês não perdoam nada, hein? — Ela revirou os olhos e prosseguiu. — Já que vocês pensam que eu sou uma ameaça à cozinha de vocês, eu vou voltar pra sala com as meninas. Estamos assistindo clipes na TV e dançando. Você quer vir, Fanta? — Agora Patrícia tinha se voltado a mim, num simpático convite. 

— Obrigada, Pati! Vou ajudar as meninas a arrumar a mesa para o jantar e logo apareço por lá. — Respondi numa piscadela, tentando corresponder ao seu nível de simpatia. Patrícia era uma pessoa querida, e o fato de ser a mais nova dentre todas as meninas a fazia parecer uma irmã caçula de todo o grupo. 

Fui até a sala de jantar equilibrando nos braços uma pilha de  oito pratos de porcelana, tomando todo o cuidado para não deixar que nada caísse. Sobre os pratos estavam oito pares de talheres um tanto quanto sofisticados e reluzentes. Eu andava lentamente até chegar à mesa de jantar, quando senti duas mãos pressionando cada lado da minha cintura num movimento súbito, seguido de um grito perto do meu ouvido.

— SEGURA, FANTINE! — A voz de Luciana me fez soltar um grito de susto acompanhado da falta de ar  causada pelo meu coração, que errou uma batida com o balançar dos pratos sobre os meus braços. Numa fração de segundo, alcancei a mesa e depositei todos os pratos e talheres ali de uma vez só, antes que eu realmente os deixasse cair. Só consegui dizer algo quando voltei a respirar.

— Você é uma maluca, Lu! — Eu disse enquanto ela ainda gargalhava da minha reação, ficando com o rosto vermelho e levando as mãos até a boca pra abafar o som. — E você acha graça, né? — Fiz uma falsa cara de brava. 

— É porque você não viu a sua cara, parecia que tava fugindo de um tsunami. — Ela imitou a minha reação exagerando na expressão de susto. 

Ha Ha Ha, pois eu duvido que tenha sido assim. — Disse num tom irônico, cruzando os braços. — E se eu quebro todos os pratos?  

— Aí eu teria que sair correndo e as meninas iam pensar que você tá doida. — Sua cara de convencida era tão fofa que eu precisei me concentrar muito pra não esmagar ela ali mesmo.

— Mas é uma palhaça mesmo. — Neguei com a cabeça enquanto deixava um sorriso bobo escapar. Era difícil resistir ao jeito de Luciana. — Vem, pelo menos me ajuda a arrumar essa mesa. De preferência sem quebrar nada, por favor. 

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