Se nós havíamos pensado em algum momento que a vida de Popstars seria fácil, nós pensamos errado. E muito. Essa constatação se provou cada vez mais verdadeira com o passar dos anos por inúmeras razões, mas por ora, era somente pelo fato da produção ter nos acordado muito cedo após uma longa madrugada repleta de comemorações e conversas jogadas fora. Acredito que no meu caso e da Lu era ainda pior, visto que já não havíamos dormido na noite anterior... eram tempos muitos difíceis para se conseguir dormir tranquilamente, com a cabeça e a ansiedade a mil por hora a todo instante, disputando por pedacinhos da nossa sanidade.
De qualquer modo, o nosso primeiro dia como Popstars havia chegado. O nosso primeiro dia de Rouge. O meu sono acumulado era tanto, que eu me levantei da cama e fiquei vagando pelo meu quarto abraçada a um travesseiro fofo, como que em forma de protesto. Aline esfregava os olhos ao me ver sob a quase claridade que adentrava o ambiente.
— Credo, eu já acordo vendo fantasma. Gasparzinho, é você? — Ela se sentou na cama e bocejou largamente.
— Engraçadinha. Eu tô com sono, só queria dormir mais um pouquinho. — Me agarrei ainda mais forte ao travesseiro, fazendo uma voz cheia de manha.
— Eu também tô, mas hoje é um novo dia e não tem mais eliminatória que mude isso. — Ela se levantou num pulo, com uma disposição invejável e seu sorriso de sempre. — Eu vou tomar um banho pra acordar e recomendo que você faça o mesmo.
— Tá bem, eu vou depois de ti. — Respondi um pouco mais conformada, afinal Aline estava certa, aquele era um novo dia de uma nova vida. Esse pensamento, por si só, afastou todo o meu sono pra bem longe.
Quando Aline saiu do chuveiro depois de alguns minutos, eu estava tomando uma xícara de café que havia levado até o quarto para acelerar o processo de despertar a mente. Ela passou por mim enrolada em sua toalha de banho, sentou-se na sua cama e me observou em silêncio. Lancei um olhar interrogativo a ela, que não alterou sua expressão.
— O que é que foi, Aline? Tá tudo bem? — Eu já estava ficando preocupada. Não é normal a Wirley ficar em silêncio por muito tempo.
— Eu tô esperando, dona Fantine. — Agora ele apresentava alguns traços de inquietação.
— Esperando o que? — Eu não fazia a menor ideia do que ela estava falando, e ela estava começando a atiçar a minha curiosidade.
— Não faz a dissimulada não, querida. Quero ouvir sobre como foi sair de dentro daquele armário com a Luciana e o que foi que aconteceu lá dentro, garota. — Eu engasguei com o meu gole de café. Ela sabia pegar os outros de surpresa. — Aliás, de nada por ter tirado vocês duas do armário. Finalmente, Brasil! — Ela exclamou e sorriu convencida com o seu trocadilho, como se acabasse de ter sido reverenciada. Enquanto isso, eu me controlava para não rir alto demais, jogando um dos meus travesseiros nela em seguida.
Eu realmente não conseguia esconder nada da Aline, e por isso acabei contando tudo o que havia acontecido no dia anterior, incluindo o pequeno incidente do armário. Ela ouviu atentamente e, ao fim, adotou uma falsa expressão de decepção.
— Quer dizer que enquanto havia o risco da minha pessoa nem ter sido aprovada no programa, as duas madames só queriam saber de se agarrar? E a preocupação comigo, cadê? — Ela forçava uma cara de indignação. — Isso é inadmissível, Lutine. — Bufou e cruzou os braços, me fazendo cair na gargalhada.
— Lu o que? Lutine? — Mais uma onda de gargalhadas me atingiu e ela se segurava para não rir junto comigo.
— Não reclama não, é melhor do que Fantiana. — Ela revirou os olhos enquanto eu perdia o pouco de ar que me restava e sentia a minha barriga doer. — Tá achando graça, é? Pois eu não quero mais papo com você. — Ela inclinou o rosto para cima, mantendo a pose de orgulhosa e evitando o contato visual, pois sabia que estava prestes a se desmanchar em risos comigo. Precisei respirar fundo e me concentrar antes de tentar respondê-la.
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Memoires
Fanfiction"Eu me lembro como tudo começou como se fosse ainda ontem, uma memória tão vívida que parece ser quase palpável, do exato instante em que senti algo dentro de mim queimar, quando os meus olhos cruzaram com os dela pela primeira vez. " *Memoires: mem...