XVII

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Quanto tempo dura um sonho? 

Por quanto tempo se tem aquela sensação de realização, antes que tudo possa eventualmente se desmanchar? Será que os sonhos realmente tem um fim, ou seria possível vivê-los para sempre?

O quanto você lutaria para alcançar o seu sonho e para mantê-lo em pé? 

A vida nos surpreende dos jeitos mais impensáveis possíveis. Quanto mais pensamos saber alguma coisa, percebemos o quão pouco realmente sabemos. Talvez a maior aflição de todas seja advinda do fato de não existir um controle total sobre as coisas. Nós podemos tomar as nossas próprias decisões, escolher rumos diferentes para seguir, e até mesmo evitar algumas pequenas coisas que estão ao nosso alcance. Não é como se cada pedra no caminho seja exatamente algo predestinado, mas todo esse nosso poder de escolha sobre as coisas talvez seja de uma proporção muito pequena se comparado aos caminhos que o destino tem no seu planejamento. 

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Estar no Rouge era como ter ganhado um bilhete premiado do Willy Wonka, com a pequena diferença de que nós éramos donas da nossa própria fábrica. Ou quase isso. 

No início, tudo parecia ser maravilhoso, e de fato estava sendo. Nós éramos ainda muito jovens e a música fervia em nosso sangue, então se havia algo que não nos faltava, definitivamente, era energia, criatividade e disposição, e nós fazíamos questão de canalizar e  direcionar tudo isso ao nosso grupo sem exceção alguma. 

O nosso primeiro ano de Rouge nos rendeu inúmeras emoções jamais experimentadas antes. As primeiras semanas foram voltadas às transformações visuais pelas quais tínhamos que passar, o que incluiu uma mudança total de figurinos, cabelos e até mesmo os nossos sorrisos; tudo isso para nos enquadrar em um padrão estético pré-determinado pela gravadora e produtora, responsáveis pela venda da nossa imagem.

Depois, vieram as diversas sessões fotográficas e algumas pequenas entrevistas a fim de iniciar a publicidade e divulgação do grupo. E como não poderíamos entrar nessa de mãos abanando, demos início a uma longa maratona de gravações das canções do nosso primeiro CD, juntamente com a gravação de alguns clipes para a televisão. Não demorou muito para que acontecesse o nosso primeiro show de todos, realizado no Via Funchal, em São Paulo, tendo sido também o show de gravação do nosso primeiro DVD. É claro que todos esses acontecimentos estavam diretamente relacionados ao poder da gravadora de promover o grupo em todos os veículos midiáticos possíveis, e assim, o nome Rouge logo ficou conhecido em todo o país.

A atenção da mídia não foi nada menos do que um estouro, e num piscar de olhos nós nos vimos tomadas por uma rotina marcada por uma quantidade enorme de ensaios, entrevistas para rádio e televisão, gravações de todos os tipos, viagens e shows ao redor do país. A nossa agenda parecia ficar cada dia mais preenchida, bem como os nossos ânimos, repletos de felicidade e gratidão pela oportunidade de estar vivendo toda essa aventura ao lado de pessoas que gostávamos como uma família.

Por falar em família, como era de se esperar, a Casa Pop não foi o nosso lar para sempre, e houve um momento onde tivemos de nos separar, ao menos no quesito de moradia.

O fato de nem todas as meninas serem de São Paulo fez com que nós passássemos a morar temporariamente em um mesmo prédio, onde cada uma tinha o seu próprio apartamento. Isso facilitava todo o processo de encontros do grupo nesse período onde seria impossível retornarmos para as nossas próprias casas. Apesar disso, a nossa convivência diária era tão constante que nós passávamos mais tempo juntas do que separadas, o que resultava na sensação de que ainda morávamos sob o mesmo teto, pois os únicos momentos em que tínhamos tempo para ficar a sós em casa era na hora de dormir. Aquela era realmente a única finalidade dos apartamentos.

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