POV: Luciana
Se uma pessoa qualquer me dissesse que depois de tantos anos eu estaria na cidade de São Paulo, num bar de Rock com ninguém menos que Fantine Thó, eu provavelmente daria risada. Na verdade, se a Luciana do futuro voltasse ao passado pra me dizer isso, eu pensaria que ela é uma farsa. Tudo bem que a iniciativa pra isso acontecer, dessa vez, foi minha: eu queria muito que a Fantine viesse. Mas ao mesmo tempo, sempre me pareceu improvável que eu tomaria as rédeas de qualquer coisa que envolvesse ela na minha vida. A verdade é que eu senti muita saudade, e eu só fui perceber isso quando a reencontrei na casa do Tiago. Ter a presença dela por perto, a sua companhia, o seu olhar e o seu sorriso... era como ter um dia ensolarado depois de uma década vivendo na mais plena chuva. Era revigorante.
Eu estava tão curiosa pra saber como ela estava de verdade, como estava a vida dela, como estavam caminhando os seus projetos... ela sempre foi de ter muitos em mente, com certeza deveria ter dezenas deles acumulados dentro daquela cabeça. E como se não bastasse, ela parecia ter ficado ainda mais bonita com o tempo... que inferno, Fantine. Eu tava com tanta saudades de você e eu nem sabia.
Naquele momento, estávamos indo para um mesmo lugar juntas e eu estava dando o meu melhor para não deixar que a minha gastrite me vencesse pelo nervosismo que sentia. O mais curioso é que esse nervosismo nunca durava por muito tempo por perto dela. Quer dizer, é claro que inicialmente ele estava sempre ali, mas de uma hora pra outra ele desaparecia e uma sensação muito familiar me atingia, até que eu me sentisse completamente confortável. Em casa.
O trajeto até o bar foi todo em silêncio, o que me pegou de surpresa por eu ter pensado que teríamos assunto de sobra. Talvez eu estivesse enganada em tê-la convidado. Talvez ela estivesse desconfortável, embora o sorriso que tenha se formado no rosto dela tenha sido tão sincero e tão bonito. Eu não sabia o que se passava na cabeça dela naquele momento, mas na minha era tudo sobre ela e as minhas infinitas suposições. É, pessoal, parece que eu tô lascada outra vez.
A algumas quadras de distância do bar, o silêncio que se fazia dentro do carro foi interrompido por um som vindo do meu celular. Era uma mensagem da Bia, me perguntando se eu já estava chegando. Eu havia esquecido de contar pra ela que levaria uma companhia...
[20:05] Lu: Estamos quase chegando, aguenta mais uns 5 minutinhos.
[20:05]: Bia: Que história é essa de estamos chegando, dona Andrade? Vai me deixar de vela nessa noite?
[20:06] Lu: Não é nada disso não, muié. Tô chegando com uma amiga. Ela é muito legal, você vai gostar dela.
[20:06] Bia: Hmm, tô de olho. Será que só eu vou gostar dela? ;)Safada. Preferi nem responder a última mensagem dela, ao menos o recado já estava dado sobre a Fantine que, aliás, ergueu uma sobrancelha sugestivamente ao me ver guardando o celular com pressa na bolsa.
— Será que eu posso perguntar o que foi isso? — Fantine parecia se segurar para não rir e eu senti o meu rosto queimando suavemente.
— Era a Bia, a minha amiga. Ela tá impaciente esperando pela gente no bar. — Respondi dando de ombros, enquanto Fantine parecia se divertir com aquilo. Imagina se ela tivesse lido aquelas mensagens...
— Tudo bem. E falta muito para a gente chegar?
— Você é outra impaciente, não é? — Brinquei, tentando compensar o silêncio que havia ficado pelo trajeto todo. — Estamos quase lá, aperta bem o cinto.
Chegando na rua do bar, cheia de luzes, cores, pessoas e o som de músicas misturadas, o carro parou lenta e cuidadosamente em uma vaga, sinalizando o final da corrida. Depois de acertarmos o pagamento e antes que eu pudesse sair do carro, Fantine fitou os meus olhos por um segundo que pareceu durar muito mais do que isso, respirou fundo e saiu do carro. Ela foi tão rápida que eu nem vi quando ela deu a volta por trás do carro, aparecendo do meu lado e, pra minha surpresa, abrindo a porta para que eu saísse. Eu precisava admitir que ela possuía um charme tremendo com esse jeito dela. Desci do carro soltando a ela um agradecimento acanhado e quase mudo. Ela havia me deixado sem jeito. Fantine fechou a porta e me olhou, seus olhos caramelo e cheios de vida.
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Memoires
Fanfiction"Eu me lembro como tudo começou como se fosse ainda ontem, uma memória tão vívida que parece ser quase palpável, do exato instante em que senti algo dentro de mim queimar, quando os meus olhos cruzaram com os dela pela primeira vez. " *Memoires: mem...