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— Como assim você só tá me contando isso agora, menina?! — Foi a primeira reação que ouvi de Aline ao contar a ela sobre os acontecimentos da noite anterior. Estávamos sentadas na beira da piscina, molhando os pés na água num bom relaxamento para começar o dia.

— Desculpa, Ali. Não tive nenhuma outra brecha para te contar, afinal nós estamos rodeadas de pessoas por aqui.

— Tudo bem. — Suspirou e revirou os olhos se conformando. — Não é como se eu já não soubesse mesmo. Eu bem que vi a carinha que a Luciana tava quando voltou daquela cozinha com você, só não imaginava que era ela quem tava pegando fogo. — Brincou com uma cara maliciosa que me deixava constrangida.

— Besta. Não é pra tanto, né. — Sorri negando com a cabeça. — Apesar de que ela realmente estava diferente... sei lá.

— É isso que eu tô dizendo, mulher, escuta a voz da sabedoria. Ela tá querendo alguma coisa a mais de você e nós sabemos o que é, se vocês estivessem dividindo o mesmo quarto ninguém mais iria dormir nessa casa. — Agora eu estava realmente constrangida.

— Isso é besteira, nós sabemos que ela tem alguém.

Hello! — Estalou os dedos como se tentasse me tirar de algum tipo de feitiço. — Esse alguém dela não tá aqui e faz meses que eles não se veem. Além do mais, não é com ele que ela tem convivido por todos esses dias e o confinamento nessa casa deve estar deixando a bichinha doida pra subir umas paredes. Por que você não ajuda ela? — Aline realmente não conhecia a definição da palavra limites.

— Céus, Aline, tem horas que você é impossível. — Bradei e enfiei os braços na piscina para jogar água na cara dela, que agora me olhava divertida.

— Vai duvidando, dona Fantine. A voz da sabedoria continua aqui, de olho em tudo. — Sorriu convencida, como se já tivesse ganho algum tipo de aposta pessoal.

— Tá bom, tá bom. E o que a voz da sabedoria acha de pararmos com esse assunto porque tem pessoas chegando? — Fiz um gesto discreto com a cabeça, apontando para algumas silhuetas de biquíni que se aproximavam da piscina.

Naquela manhã, algumas das meninas aproveitaram da pequena academia que tínhamos a disposição na casa, visto que em algumas horas seria o nosso primeiro dia de ensaio de coreografia desde muito tempo, e precisávamos voltar a ficar em forma para dar conta de acompanhar o ritmo.

Depois desse início de manhã que teve a mistura do banho de sol, de piscina, exercícios na academia e um café da manhã reforçado, deveríamos nos aprontar para as aulas que levariam o dia todo. Subimos aos quartos para montar uma bolsa onde seria carregado tudo o que fosse necessário para a ocasião, e depois fomos finalmente levadas de van até o local das aulas, que não era muito distante da casa.

Ao chegar lá, nos deparamos com a sensação nostálgica da fase do workshop, onde tínhamos uma sala imensa com uma parede de espelhos para treinarmos e aprendermos as coreografias. Agora estávamos situadas em uma sala ligeiramente menor, com um número total de meninas menor ainda. Nos olhávamos ansiosas enquanto ninguém aparecia, até que uma das portas de madeira da sala se abriu e reconhecemos de imediato Ivan, o nosso professor e coreógrafo, que não havíamos visto desde a viagem a Punta Del Este. Imediatamente, se ouviram gritos e a agitação das meninas que correram para abraçá-lo. Trabalhar com ele novamente trazia uma sensação aconchegante, já que foi ele quem estava conosco desde o primeiro dia.

Ivan começou a aula com algumas séries de alongamentos e breves exercícios de aquecimento, despertando cada parte do corpo para os momentos que se seguiriam. Depois, nos contou que a as primeiras aulas seriam de balé clássico, contextualizando um pouco da sua história, influência e importância para complementar as demais modalidades e estilos de dança contemporâneos. Ivan nos apresentou alguns dos passos básicos e fundamentais, e nos dava assistência para cada dificuldade que tínhamos, que não eram poucas. Logo de início, no movimento do plié, que é feito na barra e consiste na flexão dos joelhos, já se ouviam as reclamações.

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