Prólogo

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Abri meus olhos, esse simples geste fez a dor voltar instantaneamente ao meu corpo. O barulho na porta significava que aquele seria mais um dia longo naquele inferno. Já havia perdido a noção do tempo. Até a primeira semana eu conseguir distinguir o que era dia e noite mesmo o local sendo completamente isolado de qualquer contato com o mundo que existia fora daquele quadrado. A claridade entrou fazendo meus olhos se fecharem, sentia sua presença cada vez mais perto de mim. Mesmo com os olhos fechados eu sabia o que ele fazia aquilo acabou se tornando um ritual que acontecia duas vezes ao dia. Ele saiu outra vez do quarto, mas logo retornou. Aos poucos fui abrindo os olhos e a sua imagem foi ser tornando nítida na minha frente. Ele segurava um prato em das mãos, e com a outra ele mexia a colher no fundo do prato fazendo o barulho típico do atrito entre os dois matérias.

— Abra! — sua voz saiu doce.

— Por favor... — supliquei.

— Abra, por favor! — dessa vez sua voz foi firme — Você precisa se alimentar.

Então assim fiz. Ele depositou o líquido salgado que não estava nem quente e nem frio.

— Ai...

Reclamei devido à dor que o salgado provocou em contato com os cortes que existiam em meus lábios.

— Temos que cuidar disso — falou demonstrando certa preocupação — Mas antes você precisa se alimentar, percebo que está perdendo peso.

Terminou de falar e colocou outra vez a colher com a sopa em minha boca.

— Ao menos eu poderia comer por contra própria? — olhei para o seu rosto que aparentava uma calma impressionante.

Ele sorriu e não me respondeu, voltou a mexer a colher fazendo barulho no fundo do prato.

— Outra vez eles virem aqui — falou aquilo com um sorriso nos lábios — Mas eles nunca irão te encontrar! – colocou outra colher dentro da minha boca.

— Me desculpa! Se eu fiz algo que te magoou. Eu não queria fazer isso...

Ele segurou meu rosto com força fazendo com que eu parasse de falar, olhou nos meus olhos demonstrando toda sua insanidade.

— Você é tão lindo, Benjamim pra ficar com o rosto todo marcado — soltou meu maxilar e chegou perto cheirando-me — O cheiro do seu medo é tão doce e o doce é a minha comida favorita — riu.

Em um momento de raiva, desespero, nojo, acabei acertando seu rosto com a minha própria cabeça fazendo com que ele levasse as mãos ao rosto e deixasse o prato cair no chão. O soco veio tão forte e rápido que me fez cair no chão gritando de dor. Ele aproximou-se e segurou meu cabelo com força o que me fez gritar.

— Olha só o que você me obriga a fazer? — disse olhando pra mim — Eu juro que tudo o que faço aqui é para o seu bem, eu criei esse lugar pra ser nosso, mas você não liga pro meu esforço. Minha paciência com você está acabando e isso não será bom se um dia vier a acontecer.

Ele soltou meu cabelo e levantou—se me deixando caído ali no chão amarrado na cadeira. Começou a recolher os cacos do vidro do prato e assim feito foi se deslocando para a saída do quarto.

— Não, por favor... Não me deixa aqui, eu não aguento mais isso — implorei — Eu vou acabar ficando doido nesse local... — à porta foi se fechando ao poucos – Me deixa sair daqui seu psicopata, filho da puta, eu vou te matar quando eu sair daqui!

À porta que estava quase fechada voltou a ser aberta, ele colocou metade do seu corpo para dento do quarto e riu.

— Se um dia você sair desse local vai ser em uma única condição — fez uma pausa e sorriu — Morto!

Fechou a porta me fazendo voltar para a escuridão que a minha vida tinha se transformado. 

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