12. Recado.

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Tive uma noite de sono extremamente péssima, toda vez que eu pegava no sono sonhava com a cena do estacionamento. Estava acordado desde as cinco da manhã, vi o dia clarear da sacada do meu quarto. Gabriel dormia enquanto eu me arrumava para ir ao trabalho, peguei um papel e escrevi um recado para ele dizendo que tinha pegado o carro dele. Só o fato de pensar em ter que descer outra vez até a garagem para pegar meu carro não me agradava em nada. Deixe o papel em cima da mesa e saí de casa. Meus olhos ardiam, minha cabeça latejava quando entrei na minha sala. Coloquei minhas coisas sobre a mesa apoiando a cabeça também. Fiquei uns poucos minutos com os olhos fechados quando o Antônio entrou.

— Bom dia, Benjamim, chegou cedo.

— Pois é.

Encostei-me na cadeira e fiquei olhando para o teto enquanto o ele falava de algo que eu não prestava atenção.

— Ben, tá tudo certo com você?

— O que? — olhei para o Antônio — Aconteceu algo?

— Eu falei com você três vezes sobre o relatório que o Júlio pediu pra você fazer. Ele gostaria de vê-lo.

— Que relatório? — então lembrei do que ele se referia — Puta que pariu, eu esqueci de fazer.

Levantei da cadeira e comecei a andar de um lado para o outro quando o Antônio tocou no meu ombro.

— Calma, Benjamim é só um relatório.

— Não, Antônio, não é só um relatório — olhei para ele.

— Tá acontecendo alguma coisa, Ben? Se você quiser conversar...

— Desculpa, Antônio, mas não é nada com você e nem com o trabalho — peguei meu celular em cima da mesa — Vou falar com o Júlio.

Fui até a sala do Júlio e falei que tinha ocorrido um problema pessoal não expliquei o que, mas disse que amanhã mesmo ele teria o que pediu.

— Sabe, Benjamim, você tem quase a idade do meu filho mais velho e você tem responsabilidades muito maiores que ele. O relatório não tem problema, não tenho pressa com ele, mas você me preocupa, seu rosto demonstra que você tá cansado e talvez eu seja responsável por isso, por te lhe dado tamanha responsabilidade.

— Não! — falei rapidamente — Eu tô bem, só não tive uma noite boa — me levantei — Mas se você quiser eu o faço agora mesmo e já te entrego.

— Benjamim, você não ouviu o que eu falei? O relatório não me importa, mas você sim. Você já parou pra pensar que pode tá querendo abraçar o mundo de uma única vez? Priorizando demais o trabalho e deixando você de lado?

— Eu dou conta...

— Eu sei muito bem que você é capaz — levantou-se — Por isso mesmo eu quero que você vá embora.

— Como, você tá me demitindo? — meu coração acelerou.

— Não — riu — Eu não sou louco em fazer isso, mas eu estou lhe dando folga. Vá pra casa, descanse esses dias, sim esses dias, quero que você só apareça aqui na segunda, relaxado e tranquilo, e sobre esse relatório peço pra outra pessoa fazer — segurou meu ombro — Agora vá pra casa, Ben.

— Brigado, Júlio.

Voltei a minha sala e recolhi minhas coisas, saí do escritório por volta das oito e meia da manhã, o trajeto de volta para casa foi tranquilo. Cheguei em frente ao meu prédio onde estacionei o carro do Gabriel. Só em pensar a cena da noite anterior me fazia mal.

Entrei em casa e não ouvi barulho algum, fui até a cozinha e peguei um comprimido pra dor de cabeça e o tomei. Caminhei até meu quarto, abrir à porta e ver o Gabriel dormindo me acalmou. Tirei minha roupa ficando somente de cueca deitei ao seu lado. Ele resmungou algo, mas logo me abraçou, respirei aliviado de certa forma a presença dele ao meu lado me deixava protegido, em questão de minutos adormeci. Quando acordei e ele não estava mais na cama, fiquei olhando para o teto por um tempo quando decidi levantar, saí do quarto e pude ouvi vozes, caminhei até elas. Gabriel, Pedro e Kadu conversavam na sala.

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