Acordei assustado. O local estava todo escuro, o ar entrava com dificuldade. A luz foi acesa, eu olhei para ele que foi se aproximando de mim aos poucos até me abraçar.
— Calma, Ben! — Gabriel tentou me acalmar.
— Ele... Ele — respirava com dificuldade.
— Foi um pesadelo como os outros — beijou minha testa — Não existe mais ele!
— Foi tão real, Biel! A força que ele me tocava, batia...
— Ei... Não pense mais nisso. Isso nunca mais vai voltar a acontecer — acariciou meu rosto — Não existe mais o Júnior. Não existe mais nada de ruim que aconteceu lá...
Coloquei as mãos no meu rosto que estava suado. Fui me encostando aos poucos no travesseiro.
— Faz quatro meses que isso aconteceu, mas é só fechar os olhos que eu consigo ouvir a voz dele. Posso ver as coisas que ele fazia é como se eu ainda estivesse vivendo aquilo, e isso aqui, a gente, o agora fosse um sonho que quando eu acordar estarei lá novamente.
— Ben, tudo que você passou lá foi traumático demais, mas é algo que ficou pra trás. Nada do que aconteceu lá vai voltar a acontecer.
— Eu sei disso, mas esses sentimentos são mais fortes que eu. É como se eu estivesse enlouquecendo, como se eu não soubesse mais ser o eu de antes, eu me perdi com tudo quem aconteceu e agora não to sabendo me reencontra.
— Eu acho que você deveria ouvir seu pai. Talvez seja bom você procurar a ajuda de um profissional, um psicólogo, analista algo do tipo, mas não da pra você continuar tendo esses pesadelos todas as noites, Ben. Desde quando você voltou para casa não tem uma noite que eu não escutei você gemendo de dor, gritando enquanto dorme, acordando assustado.
— Você tem razão... Irei procurar ajuda...
— É o melhor – me deu um beijo — Mas agora vamo tentar dormir, são quatro e meia da manhã daqui a pouco amanhece.
— Tudo bem.
Gabriel desligou a luz e deitou—se ao meu lado. Fiquei na mesma posição por minutos, a luz do poste da rua entrava pelo espaço que a cortina deixava na janela. Lembrei—me de quando era pequeno e tinha medo do escuro das inúmeras vezes que eu saia do meu quarto e ia para o quarto dos meus pais para dormir com eles, até que meu pai decidiu mudar a posição da janela fazendo com que a luz de fora entrasse. Levantei da cama e saí do quarto, mas dessa vez não fui para o quarto deles. Caminhei indo para o quintal onde passei grande parte da minha infância, liguei as luzes, arrastei a porta de vidro e senti uma corrente de vento entrar o que fez meu corpo arrepia—se.
A noite estava estrelada, o verão terminaria naquela semana e com ele faria três mês que eu estava em Santa Luiza. Minha vida tinha "parado" nesse tempo. Havia deixado meu cargo no trabalho à disposição do Júlio que a aceitou minha demissão depois de relutar muito. Nesse período, o Pedro veio me visitar duas vezes, Luan e Camila vieram uma vez, mas sempre nos falávamos por celular, assim como com o Antônio. Fiquei sabendo que dias depois que eles me salvaram do Júnior o Kadu viajou a trabalho e ninguém sabia dele até então.
Sentei a borda da piscina onde coloquei meus pés dentro da água e sorri. Olhei para frente e vi o Gabriel olhando para mim.
— Então é ai que cê tá? — falou sorrindo.
— Não vou consegui dormir — respondi.
— Eu sei disso, mas pensei que você fosse beber água — Sentou—se ao meu lado colocando as pernas dentro da água — Mas vi que você demorou demais.
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Mystery / ThrillerBenjamim viu sua vida se transformar em um grande pesadelo desde aquele final de noite em seu apartamento quando foi surpreendido pela pessoa que passaria a ser seu único contato com o mundo exterior. Toda vez que a porta do pequeno compartimento qu...