Uma semana após o nascimento – Seis meses de viagem
Ella balançava Dylan de um lado para o outro, inutilmente, pois o bebê não parava de chorar. Eram quase três da manhã e ele estava chorando desde um pouco depois de meia noite. Olhou para as flores que começavam a murchar na sua mesa de cabeceira. Daniel tinha comprado antes de voltar para a Alemanha. Ele ficou ao seu lado por todos os momentos que ela lembra, só tinha saído do hospital para tomar um banho na casa dos pais e seguir para o aeroporto. Daniel tinha ficado cerca de vinte horas apenas em Nova Jersey, não tinha sido o bastante para matar as saudades, mas Ella tinha ficado mais do que feliz apenas por ele ter estado lá. Significou mais do que qualquer coisa, qualquer ato. Ela queria que ele ficasse, mas não falou nada. Ele, provavelmente, sabia disso, mas não tinha muito o que fazer. Agora Ella tinha lidar com o peso das suas escolhas sozinha, como deveria ser, de fato. Mas ter Daniel ao seu lado tornava tudo tão mais fácil, ela estava tão acostumada com isso, que era difícil pensar de outra forma. Talvez ele tivesse uma ideia de como acalmar Dylan, talvez ele tivesse um colo mais receptível ou mais jeito com crianças. Todas essas perguntas ficariam no talvez, eles nunca teriam uma resposta para elas.
A menina estava exausta, mal tinha dormido na noite passada e cochilado pouco durante o dia. Suas costas doíam, os seis estavam doloridos e inchados e Dylan não parecia que iria parar de chorar em breve. Já tinha trocado a fralda, tentado amamentar, mas nada faziam com que ele se acalmasse. Provavelmente era fome, porque ele ainda não conseguia mamar direito, como se não tivesse força, e ela não conseguia tirar leite o bastante com a bomba que a mãe tinha lhe dado. Ela estava nervosa, porque não conseguia acalmar o seu próprio filho. Será que seria sempre assim? Será que seria sempre assim difícil? Ella queria gritar, queria correr e, principalmente, queria chorar junto com o seu bebê. Sentia-se completamente incapaz. Por isso não conseguiu conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto, enquanto trazia seu filho para mais perto, deixando-o bem juntinho ao seu corpo.
- Dylan, meu bem, a mamãe tá fazendo o que pode. – murmurou, com a voz baixa e embargada. – Diz pra mim o que você tá sentindo, o que você quer. – pediu, inutilmente. – Por favor, meu filho, se acalma.
- Ely... – Lena entrou no quarto, vendo a filha parada no meio do mesmo, com o bebê nos braços, os olhos vermelhos e o rosto molhado pelas lágrimas. – Minha filha, o que foi?
- Eu não consigo, mãe. Eu não consigo. – ela disse, encarando a mãe com a expressão arrasada. – Eu não consigo acalmar meu próprio filho. – Lena viu nos olhos da filha como se gritasse por ajuda. E era pra isso que ela estava ali.
- Querida, calma. – falou, se aproximando. Passou as mãos pelo rosto de Ella, secando suas lágrimas e pegou o neto com cuidado. – Vai no banheiro, lava o rosto e se acalma, é assim mesmo. – pediu, vendo a filha obedecer aos seus comandos quase que de forma robotizada. Ela voltou e sentou na cama, com a expressão derrotada de antes. – Vocês estão se conhecendo, então é normal que tenham esses problemas, ainda mais que o Dylan ainda não está conseguindo se alimentar direito. O complemento que disseram para dar em caso de necessidade costuma dar gases, pode ser isso, talvez seja fome ou até mesmo manha, porque está com sono. – Lena deitou o bebê na cama, colocando as mãos sobre a barriga dele, fazendo uma massagem leve. – Pega aquele óleo que compramos, vamos fazer uma massagem nele, pra ver se relaxa um pouco. – Ella foi até o quarto do filho e voltou com o vidro nas mãos, sentando ao lado da mãe, que já tinha tirado o casaquinho que o bebê usado e levantado sua blusa, deixando a pele da barriga exposta. – Coloca um pouco do óleo nas mãos e esfrega bem, pra deixá-la bem quente, e depois faz uma massagem na barriga dele, movimentando a mão em círculos, de leve, para ajudar caso ele esteja com gases. – instruiu a filha, que fez o que ela disse, passando uma mão na outra por várias vezes. Quando sentiu que estava quente, começou a fazer a massagem do jeito que a mãe ensinou, vendo Dylan se acalmar um pouco. – Eu aprendi isso com a sua avó, não sei se eles ficam mais tranquilos apenas pelo contato, pelo toque, pelo carinho, mas sempre funciona. – Lena completou, sorrindo para o neto entre as palavras. Dylan ainda parecia desconfortável com alguma coisa, mas o toque da mãe pareceu ter acalmado e amenizado um pouco o que ele sentia. Ella continuou a massagem por alguns minutos, descendo os movimentos para as perninhas do bebê e indo até em cima, no tronco. Só parou quando percebeu que ele tinha pegado no sono. Ele estava tranquilo, com a respiração leve, como se estivesse relaxado e, também, cansado. Ela ficou com medo de mexer nele e acabar acordando-o, então ajeitou as almofadas ao redor dele na cama, para que ficasse protegido. Ele era muito novinho para rolar ou algo do tipo, mas era melhor prevenir. Assim que se permitiu respirar de novo, sentiu o choro querer voltar com força total, mas não queria desmoronar na frente da mãe. A menina estava sentindo o peso da maternidade em seus ombros e temia não aguentar. Foi algo que ela mesma escolheu, pesou todos os prós e contras e pensou apenas no sonho que tinha de ser mãe. Mas "ser mãe" é algo altamente romantizado, porque essas partes difíceis são não mostrada na TV, nos filmes ou comentada em conversas casuais. Como se as pessoas quisessem esconder esse pequeno segredo sujo, mas que não deveria ser segredo para ninguém. Ser mãe é difícil. Ter um filho é difícil. Provavelmente a função mais trabalhosa e complexa de todo o mundo. E Ella estava questionando suas habilidades e a sua capacidade.
- O que foi? – Lena perguntou, como se pudesse ler a mente da filha. Ou ela apenas conhecia Ella tão bem, que podia perceber quando algo não ia bem, apenas pela expressão no rosto da menina.
- Eu não sou uma boa mãe. – confessou, suspirando profundamente e deixando o corpo cair contra os travesseiros na cama.
- Como você pode ter tanta certeza disso? Por uma semana de experiência? Minha filha, ao contrário do que falam por aí, ninguém nasce sabendo ser mãe. É algo que vamos aprendendo. Erramos, acertamos, erramos novamente e depois mais uma vez. Não é uma ciência lógica, nós vamos nos adaptando, vamos nos conhecendo. – a mais velha sorriu, segurando a mão da filha e a puxando suavemente, para que ela deitasse em seu colo, da mesma forma que fazia quando ela era mais nova, porque algumas coisas nunca mudam. – Vocês são novidades um para o outro, estão juntos há alguns meses, sim, mas essa relação de mãe e filho ainda está sendo construída. Dê tempo ao tempo e, principalmente, dê um tempo a você mesma, não se cobre tanto. Tem coisas que estão além da sua capacidade ainda.
- Mas nem amamentar direito eu consigo. – Ella murmurou, com os lábios pressionados contra a almofada que Lena havia colocado em seu colo.
- Mas amamentar não te faz mais ou menos mãe, querida. – a mais velha passou a mão pelos cabelos desarrumados da filha, tentando colocar alguns fios no lugar. – Seu corpo está se adaptando a essa nova fase, ele pode começar a produzir leite o suficiente amanhã, depois ou semana que vem, assim como pode secar no próximo mês. Como eu disse, não é uma ciência exata. Você disse que o Dylan ainda não consegue sugar direito, dê um tempo a ele também, quando ele estiver com um pouco mais de força, talvez consiga.
- Mais força? – a mais nova exclamou, fazendo a mãe rir baixo. – Se ele usar mais força, é capaz do bico dos meus peitos saírem na boca dele. É sério, eu não imaginei que doesse tanto.
- Vai passar, Ely, vai passar. Nada nessa vida é permanente. – Lena disse, mas Ella não sabia que ela se referia à dor ou a tudo. A menina levantou o corpo, encarando a mãe. Elas nunca estiveram tão próximas como nos últimos meses. Ela sabia que a mãe adoraria a ideia de ser avó, mas não tinha imaginado como isso seria bom para a relação delas como mãe e filha. – As dores vão passar, assim como os seus medos, suas angustias e a sua certeza de que é uma péssima mãe. Mas os medos de hoje, serão substituídos por outros, assim como as suas angustias e certezas. – Lena esticou a mão e pegou a escova de cabelo que estava na mesa de cabeceira e pediu para que a filha se virasse, para pentear seu cabelo. Coisa que ela tinha começado a fazer antes de Dylan pôr-se a chorar. – Nós temos que nos adaptar. Você tem que aprender a primeira lei das mães: a da adaptação. Essa é uma das habilidades que nós adquirimos assim que nossos filhos nascem, porque nos vemos capazes de fazer coisas que não sabíamos que conseguíamos antes. Seja alterando nosso corpo, rotina e modo de viver de acordo com as necessidades que a vida impõe. Sempre tentando fazer o nosso melhor, mesmo que ele não seja o melhor para os nossos filhos. É a vida de uma mãe: sempre se preocupar, sempre pensar no filho, sempre se questionar se está sendo boa o bastante.
Ella ficou sem perguntando se Lena tinha esses questionamentos em sua cabeça, se ela pensava que não era uma mãe boa o bastante para ela. E se sentiu culpada por não deixar isso claro o bastante sempre. Elas poderiam ter suas diferenças, Lena poderia não ser a pessoa mais sã que a menina conhecia, mas ela sempre foi uma mãe incrível. Sempre esteve ao seu lado quando precisou, segurou sua barra e a apoiou, independente do que fosse. E esperava que conseguisse ser assim com Dylan também.
- Mãe... – a menina murmurou, virando um pouco a cabeça para olhá-la. – Eu acho que nunca falei como você foi e é incrível, não é? Mesmo com esse seu jeitinho louco e único. – Ella sorriu de lado, vendo a mais velha imitar seu gesto. – Eu sempre me senti segura ao seu lado, porque sabia que tinha alguém para me apoiar, independente do que acontecesse. Você foi minha mãe e meu pai. É os melhores pais que eu poderia ter. E agora, como se não bastasse, está sendo maravilhosa com o Dylan também. Então se eu conseguir ser um terço da mãe que você é, já estarei mais do que satisfeita, porque você é incrível. Eu amo você, demais.
- Ah, minha querida... – Lena disse, puxando a filha para um abraço apertado. – Você é a coisa mais importante que eu tenho na minha vida, nunca se esqueça disso.
Depois da dificuldade que tiveram na noite anterior, Dylan dormiu até a manhã seguinte, permitindo que Ella descansasse também. A menina acordou por volta das nove da manhã, vendo que o bebê não estava ao seu lado na cama, como havia deixado. Desceu até a cozinha, onde tinha escutado vozes e viu Lena conversando com o neto, enquanto preparava o café da manhã. Se pegou sorrindo sozinha observando a cena. Nunca tinha parado para pensar como aquela casa tinha ficado grande e silenciosa depois que foi embora. Sua mãe sempre foi uma pessoa alegre, que gostava de falar, ficar sozinha deve ter sido difícil pra ela, mesmo tendo Kathy e John morando logo ao lado. Uma coisa é você ter bons amigos como vizinhos, mas outra totalmente diferente é ter alguém por perto sempre, no café da manhã, almoço e jantar. Ela não ligava pra isso, mas Lena se importava e muito.
- Aposto que quando ele estiver grande o bastante para conversar com dessa forma, você vai cansar e não vai querer papo. – Ella falou, se apoiando no batente da porta e vendo a mãe virar o corpo para encará-la. Lena sorriu de lado, balançando a cabeça, como se negasse.
- Claro que não, vou ouvir cada palavra e frase confusa com toda a paciência do mundo. Porque é pra isso que uma avó serve, não é meu amorzinho? – perguntou de forma retórica, abaixando o corpo para ficar da altura do carrinho onde Dylan estava.
- Tá na hora dele comer, ou pelo tentar. A última vez foi ontem, quando ele tava chorando. – a menina disse, se aproximando dos dois e pegando o filho no colo.
- Não esqueça que temos pediatra hoje. – a mãe lembrou, vendo a filha assentir, como se lembrasse. – Noah vai nos levar como disse ou pegamos um táxi?
- Eu não sei, mas acho que podemos ir de táxi, já abusamos demais do Noah nesses dias. – Ella comentou, caminhando para fora da cozinha. – Vou ver se ele consegue mamar, depois já deixo ele pronto para irmos. Aí você pode ir tomar banho, que depois você fica com ele enquanto eu me arrumo. Tudo bem?
- Tudo bem, mas não esquece de tomar café. Se você não se alimentar, não vai conseguir...
- Produzir leite. – a menina completou a frase, revirando os olhos. – Eu sei, mãe, você já me disse isso cinquenta milhões de vezes. Mas eu estou sentindo meus peitos a ponto de explodirem aqui, então acho que não preciso e nem posso produzir mais agora. Antes de sairmos eu como, tudo bem?
- Tá bom... – Lena disse, fazendo um sinal com a mão, para que ela fosse logo.
Ella subiu as escadas, indo para o quarto de Dylan. Sentou na poltrona que tinha perto da janela e encarou o filho, que ainda parecia meio sonolento. Ela o ajeitou em seu colo tentou amamentar mais uma vez. Uma a mão livre, ela apertava suavemente o próprio seio, como se tentasse ajudar a fazer o leite sair. Depois de mais algumas tentativas fracassadas, Ella percebeu que Dylan tinha conseguido pegar da forma certa e estava, de fato, mamando. Ela arregalou os olhos, sem querer se mexer muito, nem para comemorar um pouquinho que fosse, para não atrapalhar. Apenas ficou lá sentindo todas as emoções que aquela ação lhe propiciava. Era o momento mais íntimo da breve relação de mãe e filho que compartilhavam. E ela estava feliz de, finalmente, conseguir alimentá-lo da forma que queria. Era um sofrimento para os dois, já que ele ficava com fome, se irritava por não conseguir mamar e depois sentia gases pelo complemento; e ela ficava com os seios inchados, doloridos, cheios de leite, mas não conseguia tirar com a bombinha. Só sentia algum alívio quando Lena lhe permitia algum tempo livre para que ela tomasse um banho e ela relaxava debaixo da água quente e o calor ajudava no seu desconforto. Esperava que agora fosse o início de tempos mais tranquilos para ambos.
A menina passou a mão livre, de forma leve, pelo rosto do bebê. Dylan esticou sua pequena mão, envolvendo um dos dedos da mãe e segurando com força, enquanto fechava os olhos e comia seu "café da manhã". Ella sorriu de lado, mordendo o lábio inferior e se sentindo mais emocionada do que deveria. Ela ainda não tinha se acostumado com esses pequenos gestos do seu bebê, talvez um dia deixasse de ser uma novidade, talvez deixasse de ser emocionante. Mas, muito provavelmente, esse gesto só seria substituído por outro. Depois por outro. E assim sucessivamente, pelo tempo em que ela estivesse viva.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dylan
Roman d'amourElla e Daniel se conhecem desde os cinco anos de idade, melhores amigos desde que se entendem por gente, não poderiam ser mais diferentes e se amar mais. Ele é todo metódico e organizado. Ela é desprendida e sonhadora. Ele pensa no futuro. Ela quer...