Capítulo Sete - Müllerstraße 178

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18 semanas de gestação - Primeira semana de viagem

Platz vor dem Neuen Tor 6, Berlin, Alemanha - 07:05 AM

Daniel estranhou acordar num quarto que não era o seu. Num apartamento que não era o seu. Numa cidade que não era a sua. Demoraria algum tempo para ele se acostumar a nova rotina, mas não era como se ele não estivesse tentando. Quando chegou no dia anterior, tratou de procurar a representante da empresa, uma moça chamada Susan, que o ajudaria em sua acomodação, e depois foi atrás de Connor, porque não queria ficar sozinho. Não que fosse muito amigo do sobrinho do chefe, mas era bom ter um rosto conhecido em meio a tanta novidade. O outro rapaz tinha chegado dois dias antes, então já estava um pouco menos confuso.
Quando olhou pela janela, vendo uma paisagem estranha, meio nublada, com as pessoas bem agasalhas para escapar do frio intenso e pensou logo em Ella, ela sempre reclamava de sair de casa quando estava muito frio. Ele não poderia ligar pra ela agora, nem muito menos vê-la. Não tinha nem 24 horas que tinha chegado e ele já queria voltar. Daniel sabia que não servia para essas coisas de ficar longe das pessoas que gostava. Falaram que era questão de costume, que com o tempo ele iria sentir saudades, sim, mas saberia lidar. Mas naquele momento, o rapaz só queria saber, mais ou menos, quanto tempo demorava pra isso.
Tomou um banho e foi se arrumar para o seu primeiro dia. Connor disse que passaria em seu quarto às sete e meia da manhã e já eram sete e dez. Olhou entre as opções que tinha, pegando uma blusa de botões azul, de mangas longas, sua mãe tinha lhe dado aquela camisa no Natal. Sorriu com a lembrança de Kathy, sentindo o coração apertar um pouco. Suspirou, pensando:
- Espero aguentar vinte e quatro horas, pelo menos.
Ajeitou os cabelos, colocando todos os documentos que haviam mandado da empresa numa pasta e a pasta em sua bolsa. Olhou no relógio, faltavam cinco minutos para o horário marcado por Connor, então apenas se sentou na cama novamente, esperando o rapaz chegar. Pegou o celular, olhando as últimas coisas que postaram nas redes sociais. Noah tinha postado uma foto de todos os amigos na despedida de Daniel, colocando na legenda: "o real significado da palavra amizade."
- Isso é a cara do Noah. - Daniel falou para si mesmo, subindo a linha do tempo da rede social, vendo se tinha algo mais de interessante, mas nem encontrou. Olhou para frente, vendo o envelope que Ella havia lhe entregado um pouco antes de embarcar, com as cartas que ela disse que escreveu. Ele ainda não tinha lido nenhuma, talvez não tivesse coragem, porque sabia que não aguentaria. Mas quando percebeu, já tinha aberto o mesmo e puxado uma folha lá de dentro, só que antes que pudesse ler, ouviu batidas da porta. Era Connor. Deixou o envelope em cima da cama, leria algo quando voltasse. Pegou o celular, sua bolsa, o casaco grosso que tinha trazido, as luvas e caminhou até a porta.
Os rapazes pararam numa cafeteria perto de uma estação de metrô e Daniel ficou nervoso, tentando falar o pouco de alemão que sabia. Ele tinha feito curso durante vários anos, na expectativa de um dia conseguir essa oportunidade, mas falar a língua numa aula é totalmente diferente de conversar com nativos. Ele teve algumas dificuldades com a pronuncia, mas ficou feliz de conseguir entender tudo. Fizeram seus pedidos e se sentaram numa mesa mais ao fundo, ainda tinham tempo até o horário do trabalho.

- É coisa de cinco minutos daqui até o prédio, não precisa se preocupar. - Connor comentou, bebendo um pouco do seu cappuccino. Daniel olhou em seu relógio e faltava cerca de trinta e cinco minutos para o horário que pediram que ele chegasse lá. Então se permitiu relaxar um pouco.
- Você não tá nervoso ou ansioso, qualquer coisa? - Daniel perguntou, vendo o rapaz sorrir de lado, torcendo os lábios de um jeito estranho.
- Eu nunca fiquei tão ansioso pra uma coisa na minha vida. - confessou, dando uma risadinha e vendo Daniel o imitar. - Mas eu tento não deixar isso me abalar. Estou aqui tem três dias, estou tentando em adaptar ao ambiente, deixar tudo menos estranho. Deve estar confuso demais pra você ainda, né?
- Sim, ontem eu estava em casa, com minha família, meus amigos e hoje eu estou aqui, sozinho, num país estranho, onde a maioria das pessoas não entende o que eu falo e eu não os entendo também. - Daniel parou de falar por um instante, respirando fundo. - É um pouco mais do que confuso.
- Você é muito próximo da sua família, né? - Connor perguntou, vendo o outro rapaz balançar a cabeça, afirmando. - Pra mim é mais fácil, porque não tenho tanta convivência com ninguém. Moro sozinho há anos, meus pais moram outro estado, a gente se via em feriados prolongados, essas coisas, o mais próximo de família que tinha lá em Morristown é o meu tio Stephan, então não é como se eu estivesse perdendo muita coisa.
- Não, eu sou muito próximo da minha família. Meus pais moram lá cidade, há alguns minutos do meu antigo apartamento, tenho meus amigos que estão na minha vida desde o ensino médio. E tem minha amiga, minha melhor amiga, a gente se conhece desde os cinco anos, sempre fizemos tudo juntos. Agora ela tá grávida e eu tive que vir pra cá, então vou perder tudo. É muito difícil. Por mim, eu tinha desistido, mas ela me obrigou. - Daniel viu Connor sorrindo de lado e repetiu o gesto. - É uma excelente oportunidade, busquei por isso nos últimos quatro anos, mas agora que aconteceu, que é real, eu tô com um pouco de medo.
- Sem medo. - Connor respondeu rapidamente, fazendo um gesto com as mãos, como se afastasse algo. - Você não pode começar nada novo com medo. Nervoso e ansioso, tudo bem, porque faz parte. Mas medo eu vejo como um sentimento que atrai coisas boas, porque você tende a se afastar quando está com medo e aqui você precisa aproveitar tudo o que puder.
- Todo mundo me falou isso. Meus amigos foram bem enfáticos até, disseram que eu deveria aproveitar todas as oportunidades que aparecessem. - Daniel disse, lembrando as recomendações de seus amigos.
- Então você não pode contrariá-los. - Connor sorriu de lado, bebendo um pouco mais de seu cappuccino.

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