Capítulo Quinze - Família

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42 Moris Ave, Morristown, Nova Jersey, Estados Unidos – 10:03 PM


- Acho que precisamos conversar sobre isso. – Ella falou, vendo que Daniel se mantinha firme em sua decisão.
- Eu me expressei mal, até porque não vou fazer nada contra a sua vontade. Mas queria que você parasse para pensar um pouco, porque vai ver que não há nenhum problema nisso. As únicas mudanças na vida do Dylan seriam boas. Qual é o real problema dele ter um pai? – o rapaz perguntou e a menina ficou sem silêncio, porque ela não tinha resposta. Realmente não havia nada de errado nisso, muito pelo contrário, Dylan teria mais alguém para ter como apoio, para cuidar dele, dar amor, atenção. Mas por que ela não estava muito contente com essa ideia? Por que parecia tão relutante a aceitar essa proposta tão boa?
- Não tem nenhum problema do Dylan ter um pai. – respondeu, depois de permanecer em silêncio por alguns minutos.
Sentou-se no sofá, apoiando os cotovelos na perna e encarando as mãos, pensando no que faria a seguir.
A realidade é que Ella não estava nada à vontade com o fato de ter que mudar os planos, de ter que dar o braço a torcer, aceitar que toda a sua ideia inicial estava fadada a dar errado, ao fracasso. Fora que aceitar que Daniel era pai de Dylan e deixar isso exposto para todo mundo, faria com que tudo mudasse. O relacionamento deles mudaria por completo. Não seriam mais amigos, apenas amigos. Teriam um filho juntos. Uma criança que os ligaria para sempre. Que faria com que eles convivessem mais e de forma mais direta e intensa. E agora que tudo estava tão estranho, essa convivência quase forçada não parecia uma boa ideia. Só que ela não podia pensar nela. Há um ano, Ella não tinha mais o poder de pensar apenas em si e de como as consequências de tudo iriam atingi-la. Ela precisava pensar no filho, pensar no Dylan.
- A questão, pra mim, é por quê? Por que você resolveu que quer ser pai do Dylan? Eu lembro muito bem que você me disse que não queria ser pai do meu filho, quando te convidei para ser meu doador. Nunca ouvi você falar sobre ter filhos, constituir uma família e tudo mais. Então pergunto de novo: por quê?
- Se fosse o contrário, se você tivesse sido minha barriga de aluguel. Só olhar para o Dylan não seria motivo o bastante? Eu me vejo nele, Ely. Mais do que eu imaginava. E não apenas fisicamente, é como uma extensão de mim. Você deve me entender, porque, provavelmente, também se sente assim. E acompanhando o crescimento dele de longe, era difícil criar esse vínculo, de despertar esse sentimento. Mas bastou olhar pra ele uma vez... – Daniel sentou ao lado da amiga, tentando fazer com que ela entendesse. – Foi como se tudo fizesse sentido, sabe?
- Mas você entende que isso é difícil pra mim, não é? Entende que vai contra tudo o que eu pensei, desejei, quando escolhi ser mãe.
- Talvez esse seja o ponto, a maior diferença entre nós dois. Você se preparou pra isso, sua mente, seu espírito, tudo. E quando o Dylan chegou, por mais que tenha passado por mudanças, você já esperava todas elas, sabia o que estava escolhendo. Mas eu não tive isso. Não escolhi, não estava preparado. A ideia era ser um tio, padrinho, amigo... qualquer coisa. – o rapaz parou por um segundo, olhando na direção da amiga, que o olhou de volta. – Qualquer coisa menos pai. Eu nem sabia se queria ser pai um dia, nunca tinha passado pela minha cabeça. Mas algumas coisas acontecem sem explicação.
- E tudo mudou? – Ella perguntou, continuando a insistir em perguntas óbvias, mas ela precisava de tempo para pensar.
- Tudo. – foi a única palavra que Daniel disse, mas o suficiente para responder.
- Eu preciso de um tempo para pensar, são muitas coisas para pensar, para entender. Isso, realmente, muda tudo. Muda toda a dinâmica da minha vida, da sua vida e, mais ainda, a do Dylan. Acredito que você queira estar presente, passar tempo com ele e tudo mais. E isso não estava nos planos. A gente precisa pensar muito bem antes de fazer qualquer coisa, para que não tenha um impacto ruim ao Dylan...
- Eu espero o tempo que for necessário. Só queria que você pensasse nisso tudo, levando em consideração as coisas boas que isso pode trazer pra vida dele.
- Eu sei, tenho plena noção de todas as coisas boas que isso pode trazer a ele. Só que também penso nas ruins, e elas são mais para mim do que pra ele. – sua voz soou sem vida no final da frase, como se estivesse se preparando para algo ruim.
- Como assim? – o rapaz perguntou, confuso. Ele não entendia como isso poderia ser um problema para ela.
- É difícil, muito difícil mesmo, criar um filho sozinha. Nem posso dizer que estava conseguindo, porque eu tinha minha mãe, que do jeito louco e torto dela, me ajuda em tudo o que é possível. E eu sempre sustentei o discurso que o Dylan aconteceu, o pai não quis saber e morreu nisso. Sempre morreu nisso, o assunto nunca prosseguia. Agora eu terei que olhar para cada pessoa que ouviu essa minha história, com elas sabendo que era tudo mentira. No momento em que souberem que o Dylan é seu filho também, você sabe o que vão pensar, não é? – o rapaz balançou a cabeça, ciente que todo mundo imaginará que eles dormiram juntos. – E o que virá depois disso? Vão achar que você me abandonou grávida depois de uma noite de sexo casual entre amigos? Com toda a certeza não, porque eles te conhecem e sabem que você não faria isso. Muito provavelmente vão encontrar uma forma de colocar a culpa em mim. Porque sempre colocam a culpa na mulher, de tudo. – ela parou, passando a mão pelos cabelos e deixando as costas caírem contra o sofá. – Deve ser fácil acreditar que não se deve se importar com o que os outros vão pensar, mas quando se é mulher, infelizmente, a gente tem que levar isso com consideração. Imagina a cabeça das pessoas ao descobrirem que eu, aos 28 anos, fiz uma inseminação artificial. Serei a louca e você o herói que me salvou de ter um filho de um desconhecido. Ou eu serei a amiga sem noção e você o amigo que aceitou um pedido absurdo. Ou o homem maravilhoso que quer assumir um filho que, teoricamente, não é seu. Está preparado para os tapinhas nas costas e para ouvir como você é incrível?
- Eu poderia dizer que entendo ou imagino o que você está sentindo. Ou falar que esse seu medo é irracional. Mas não é verdade, porque eu nunca poderei ter noção das coisas que você sente, dos seus medos, das suas preocupações. – Daniel olhou para frente, sem olhar para algo específico, só pensando nas coisas que ouviu.
O receio da amiga era sincero e fazia muito sentido, porque ela era cobrada de todas as formas e por todos os lados. Ele nunca receberia uma cobrança assim, nunca teria que passar por isso. Ela passou por muitas coisas que ele nunca passaria ou nunca passará. Teve que lidar com o fato de ser mãe solteira por um ano, sem ninguém para dividir as responsabilidades. Agora ele surge querendo ter alguma participação, algum poder, contrariando tudo que tinham combinado. E isso não estava certo.
- Eu não sou cobrado dessa forma, as pessoas não me julgam. Sei que tudo o que você falou é verdade, que as pessoas vão ver o meu lado, tentar enaltecer o fato de eu estar fazendo algo que, pra mim, é básico. Só que isso não significa nada, sei da sua força, do que você abriu mão. Sei do que passou. – ele disse, tentando mostrar que entendia o lado da amiga e que não queria piorar a situação. – Eu não quis que soasse como se estivesse impondo algo, só estava muito nervoso e ansioso. Tinha acabado de tomar uma das decisões mais importantes da minha vida e isso torna um pouco difícil fazer as coisas da forma certa. Mas se isso ainda importar pra você, eu tô do seu lado. Como sempre estive ou deveria estar.
- Vai ser difícil, Danny.
- Bem... – Daniel colocou sua mão sobre a da amiga, com um sorriso fraco no canto dos lábios. – Que bom que estamos juntos então.
- Vai ser difícil pra mim. Você será quase um super-herói aos olhos das pessoas. – a menina complementou, arrancando uma risada do rapaz. Ali ele percebeu que o clima estava menos pesado entre eles.
- Posso tentar bancar o vilão, se você quiser... – deu de ombros, como se não se importasse com nada, se isso deixasse a amiga mais tranquila.
Ella sorriu, sendo como se a barreira que existia entre eles há meses estava começando a ruir. Ela sentia falta dessa proximidade deles, da intimidade, do companheirismo. O fato deles se entenderem de forma rápida e sempre se apoiando.
- Ok, então me deixa pensar, colocar as ideias em ordem. Você atropelou as coisas, me jogou essa informação de repente. Preciso respirar e entender o que está acontecendo. – disse, vendo o rapaz balançar a cabeça lentamente, como se entendesse o que ela falava.
- Você tem todo o tempo do mundo.

Assim que fechou a porta depois que Daniel saiu, Ella sentiu o real peso da situação. Tudo dali para frente iria mudar em sua vida e de uma forma que ela não tinha se preparado e nem mesmo estava esperando. Pra ela, Daniel voltaria para Alemanha, seguiria sua vida, talvez construiria uma em conjunto com a Eileen. Agora tudo seria diferente e ela precisava se acostumar com isso.
Na verdade, mais do que se acostumar, Ella precisava conversar com alguém, tirar toda a dúvida que carrega em sua mente e o peso que estava em seu coração. E ela só tinha uma pessoa que poderia chamar. Apenas uma a entenderia naquele momento.

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DylanOnde histórias criam vida. Descubra agora