Capítulo Dezesseis - O Pai do Dylan

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56 Moris Ave, Morristown, Nova Jersey, Estados Unidos – 19:23 PM


Estavam todos sentados na mesa da sala de jantar, Daniel e Ella de um lado, Kathy e John do outro. Os mais velhos não apenas estranharam o fato do filho ainda estar na cidade, como não falar que estava. Mas algo na expressão dos dois jovens, dizia que aquela não era a preocupação principal.
Ella estava preocupada que eles ficassem chateados com o fato deles terem escondido algo tão grande e importante como isso. Fazendo com que convivessem com o Dylan, criassem laços e sem saber que eram, na verdade, avós da criança. Ela sempre teve uma relação tão boa como o casal, que estava com medo de que isso se perdesse de alguma forma.
Já Daniel estava com medo da reação da mãe, não com o fato de que ele escondeu tudo o que fizeram, mas porque ele foi embora e deixou o bebê para trás. Aquilo, na cabeça dele, em qualquer circunstância, seria inaceitável.

- Acho que vocês têm algo para nos contar, certo? – John perguntou, já nervoso com o suspense. Daniel olhou na direção da amiga, como se perguntasse sem palavras se ele falava, ou ela queria ter essa honra complicada. Com um gesto com a cabeça, Ella sinalizou que aquele problema seria todo dele. Ela teria outros para lidar depois.
- Temos. – Daniel disse por fim, respirando fundo alguma vezes. – Só queria que vocês não surtassem antes de ouvir tudo, ok? Principalmente você, mãe.
- Tudo bem... – Kathy respondeu, confusa com o pedido direcionado apenas a ela.
- Bem, não tem como enrolar muito para dizer isso, então serei direto: o Dylan é meu filho. – assim que o rapaz falou, percebeu o choque no olhar do pai, vendo seu rosto perder a cor por alguns segundos, até que a surpresa foi substituída pela alegria, conforme ele absorvia a informação. Já Kathy estava com a mesma expressão de antes, não demostrando nenhuma surpresa. Até porque ela já sabia.
- O que? Como assim? O que? Explica isso direito. – John gaguejou, enquanto olhava na direção da sala, tentando enxergar o bebê que dormia tranquilamente no cercadinho. – Por que vocês só falaram isso agora? Por que eu sou o único falando? Por que você está tão calma? – ele girou o corpo na direção da esposa, perguntando.
- Porque eu já sabia. – Kathy respondeu, dando de ombros, vendo os dois mais jovens se assustarem dessa vez. Daniel olhou pra mãe e depois para a amiga, como se perguntasse: como? – Tem coisas que uma mãe, ou melhor, uma avó sabe. O Dylan é a sua cara, Daniel. Vocês acham mesmo que eu nunca ia reparar isso? – ele deu sorriso de canto, como se estivesse se sentindo a pessoa mais esperta do lugar. – Fora que ele tem um sinal de nascença igual ao seu. Seria muita coincidência os olhos azuis, a marca e todos os traços que ele puxou de você.
- Por que você nunca falou nada? – foi a vez de Ella perguntar. – Deixou que eu achasse que estava enganando todo mundo até agora.
- Porque eu sabia que vocês falariam quando estivessem prontos para isso. Não sei o motivo de escolherem esconder tudo, mas resolvi respeitar a decisão de vocês. Até porque eu tinha contato com o Dylan, podia mimá-lo como toda avó faz de qualquer forma.
- E por que você não me falou? – John perguntou, visivelmente ofendido.
- Não me entenda mal, querido, mas você é péssimo com segredos. – Kathy falou, arrancando risadas de todos, que até então estavam terrivelmente nervosos.
- Tem mais algumas coisas que vocês precisam saber. – Daniel continuou. – Eu vou assumir o Dylan, registrar no meu nome e vou ficar de vez aqui, não vou voltar pra Berlin. – o sorriso que Kathy deu foi extremamente sincero, pois por mais que ela quisesse que o filho realizasse os seus sonhos, ela também tinha um desejo, quase egoísta, de querer manter seu menino por perto.
- Isso significa que vocês dois são um casal agora?
- Não! – Ella respondeu, antes que ele pudesse ter ideias mais desenvolvidas a respeito disso. – Acho que, antes de qualquer coisa, é muito importante explicar o que aconteceu. – a menina falou, sentindo o rosto ficar vermelho, não sabendo o real motivo, se era porque acharam que eles dormiram juntos ou se era a ideia de serem um casal. – Dylan é fruto de uma inseminação artificial, que o Danny foi o doador. Eu tinha o sonho de ser mãe e decidi que iria realizar, independente de não ter um marido ou qualquer coisa do tipo. E o Daniel aceitou fazer parte dessa loucura. – a expressão no rosto dos mais velhos era mais confusa do que antes, quando acreditavam que eles tinham dormido juntos.
- Hmm, agora sim isso ficou estranho. – John comentou, meio sem pensar. – Não querendo julgar, claro. – se apressou em dizer. – Mas é que...
- Meu bem, não temos nada a ver com a decisão deles. – Kathy o interrompeu, mas sua ação pareceu mais uma tentativa para evitar que o marido falasse qualquer coisa que não deveria. – O que realmente importa é que agora temos um neto. Nunca pensei que esse dia chegaria.
A situação era tão bizarra, que Ella sentiu vontade de rir por acharem mais estranho ela ter feito uma inseminação artificial, do que tem rolado alguma coisa entre eles. Afinal eram eles... Na cabeça da menina, John e Kathy os viam como irmãos, então qualquer ideia de envolvimento seria além do errado. Mas, pelo visto, não era bem isso que achavam.
- Enfim, o que importa é que estou de volta e agora vocês tem um netinho. Mesmo que antes o Dylan já fosse quase isso, agora é de forma oficial. Eu não tenho o mínimo de experiência nessa nova função de ser pai, então espero que vocês dois possam me apoiar no começo, porque quero muito estar por perto, dividir o trabalho com a Ella, participar ativamente da criação dele.
- Você terá mais que o meu apoio, Danny, eu estarei ao seu lado. Quer dizer, nós estaremos. – Kathy se apressou em dizer, colocando a mão sobre a do filho.
- Eu sempre quis ser avô, então estou mais do que pronto para mimar esse menino.
- Fico feliz, então. Seremos uma família grande e diferente...
- Meu filho, e a Eileen? Ela sabe? – a mais velha perguntou, percebendo a expressão de Ella se alterar um pouco. Ela não conseguia evitar qualquer reação diferente ao escutar esse nome.
- Ela sabe. Eu contei antes dela viajar, na verdade, contei quando tomei a decisão e disse que ficaria. Ela foi incrível, aceitou numa boa, disse que eu deveria fazer o que o meu coração pedisse. Mas isso não significou nada entre nós dois, não terminamos, a gente vai ficar longe agora, mas depois pensamos no que podemos fazer no futuro. – o rapaz deu de ombros. – Por isso que eu falei que éramos uma família grande e diferente, porque tem a Eileen e ainda tem o Benjamin. – comentou, apontando para Ella, vendo ela apenas balançar a cabeça, afirmando. Só que em nenhum momento, em suas contas, aquela família que eles estavam "construindo" incluía a Eileen. Mas se não fosse ela, seria qualquer outra no futuro. Ela precisava aceitar logo isso.
Ella estava calada há bastante tempo e Daniel percebeu que algo estava errado, só não sabia dizer o que.
- Tá tudo bem? – ele perguntou baixo, vendo a menina assentir com a cabeça algumas vezes, afirmando.
- Só estou preocupada com o momento de contar para a minha mãe, não vai ser assim tão fácil. – mentiu. Essa era uma preocupação real, mas não era o que estava a chateando no momento. E o mais engraçado é que ela estava chateada por estar chateada. E era tudo por causa do Daniel, porque ela não queria sentir as coisas que sentia quando escutava o nome da Eileen. Não queria ter a sensação de perda pesando em seu peito toda vez que lembrava que ela existia.
Ela não queria sentir nada disso.
- Eu estarei lá com você. – Daniel disse.
- Não, eu preciso lidar com a Senhora Lena Passero sozinha. – respondeu, forçando um sorriso.
- Certeza? Eu sei que posso lidar com o que vier. – ele pareceu mais confiante do que deveria, passando a mão pelos ombros da amiga e a puxando para mais perto, num abraço estranho. Ella sentiu aquele incômodo desaparecer pelo breve instante que fechou os olhos e apenas pensou nos braços de Daniel ao seu redor. Mas tudo logo voltou e a atingiu de uma vez, trazendo-a para a realidade.
Ela não podia sentir nada disso.
Ela não podia lidar com o que viesse.
Independente do que fosse.

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