Capítulo Dezessete - Nós somos amigos

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Três semanas depois.

50 South St, Morristown, Nova Jersey, Estados Unidos - 11:23 AM

Assim que subiu o último lance de escadas do prédio de Daniel, Ella estranhou a movimentação. Tinham caixas pelo corredor, coisas espalhadas pelo chão, nada que fosse comum para o rapaz. Ela pulou parte da bagunça e caminhou até a porta, que estava.

- Danny? - falou, tentando encontrar o amigo.
- Oi! Tô aqui. - ele respondeu. A voz vinha do outro lado do corredor, do outro apartamento. A menina caminhou até lá, encontrando o rapaz tentando empurrar uma estante, sozinho. Ele estava apenas de bermuda e uma camiseta velha, que estavam sujos de tinta, assim como parte dos seus braços e até mesmo o seu cabelo.
- O que você tá fazendo?
- Me mudando. - ele riu, se permitindo respirar fundo e descansar um pouco.
- Bem, isso eu tinha percebido, só queria saber o motivo mesmo. - Ella falou, dando de ombros, arrancando uma risada dele. Ele pediu que ela entrasse e o acompanhasse. Cruzaram a pequena sala e o corredor, até um quarto no final do mesmo.
- Por isso. - ele acendeu a luz do cômodo, deixando que a menina entrasse antes dele. - A tinta ainda está um pouco úmida, então é melhor não encostar. - Ella estava um pouco confusa, porque olhava para um quarto vazio, mas que pelos tons alegres e coloridos, deveria ser de uma criança.
- Danny?
- O Dylan precisava de um lugar pra ele aqui, estava complicado colocar pra dormir na minha cama ou improvisando qualquer coisa. Então eu vi que estavam alugando esse apartamento e como era na frente do meu, pensei que era perfeito. Dois quartos, mais espaço, um lugar só pra ele e, bem, uma casa de verdade.
- Eu nem sei o que falar. De verdade. - a menina confessou, encarando o amigo. - Você não precisava fazer isso, adorava aquele apartamento.
- Sim, eu adorava o apartamento, mas eu amo o Dylan. - aquela frase terminou de desarmar a menina, que sentiu o coração acelerar de forma estranha. - E tendo um quarto pra ele aqui, posso pedir para a mãe dele mais algumas coisas, tipo umas noites por semana... - brincou, vendo a amiga apertar os olhos, como se estivesse entendendo o seu ponto. - Enfim, só queria que ele sentisse que tem uma casa aqui também.
- Ok, não tenho nem como argumentar depois de tudo isso.
- Mas tá tudo bem por você? - ele perguntou, preocupado. Daniel estava sempre com muito medo de agir de forma errada com a amiga. Todos os seus passos eram sempre milimetricamente pensados e medidos. E isso o deixava muito mal, porque a relação deles sempre foi muito leve e simples.
- Claro, por que não estaria? - Ella se apressou em falar. - Tudo o que eu quero é que vocês se aproximem e criem vínculos, que sejam felizes juntos. Porque eu só quero ver vocês dois felizes.
- Eu também quero que você seja muito feliz, Ely. - Daniel falou, com toda a sinceridade que havia em seu coração. Eles ficaram se encarando durante alguns segundos, talvez pensando nos significados ocultos que tinham aquelas frases, que pareciam tão simples.

Se dias atrás ele estava certo que conversaria com a amiga sobre o que o pai falou, mas acabou não conseguindo, porque Benjamin estava lá, agora ele já não tinha muita certeza se falaria qualquer coisa. Depois de muito pensar, acabou percebendo que muito do que sentiu poderia ser apenas influência do que ouviu de seu pai. E eles estavam tão bem, que Daniel não sabia se valeria a pena trazer um assunto tão complicado à tona só por curiosidade. Ele viveria com aquilo em sua cabeça, como viveu até agora.

- Você precisa de alguma ajuda com a mudança? - a menina perguntou. - Por incrível que pareça, eu sou outra pessoa quando se trata de organização e arrumação agora.
- Hoje não, ainda tenho que pintar alguns cômodos e vai acabar sujando as coisas. Tenho que trabalhar amanhã, então só vou mexer mesmo nessas coisas na sexta.
- Ok, sábado nós podemos fazer um mutirão, um piquenique na sua nova sala. Nós cinco, como nos velhos tempos. - Ella sugeriu, tentando parecer mais disposta a melhorar o relacionamento deles.
- Nós seis. - Daniel corrigiu, vendo a expressão confusa da amiga.
- Não, sem namorados. - falou rapidamente, mesmo que isso a deixasse com um sentimento de culpa.
- Eu estava pensando no Dylan, não no seu na... Não no Benjamin. - o rapaz respondeu, se embolando um pouco, mostrando a dificuldade que tinha em dizer a palavra "namorado" quando se tratava de alguém relacionado a Ella. - Até porque não quero ser o único sozinho. - completou, com medo que parecesse que ele estava fazendo questão que Benjamin não estivesse.
- Ah, sim, claro. Nós seis. - falou, balançando a cabeça lentamente, como estivesse com vergonha de não ter pensado no próprio filho.
- O Dylan faz parte do grupo agora. - Daniel disse, tirando um sorriso dos lábios da amiga.
- Ok, está marcado. Você quer que eu avise os outros?
- Não precisa, vou me encontrar com eles para ver as coisas para o quarto do Dylan.
- Tudo bem, já que você não precisa de ajuda, acho que já vou. - Ella falou, olhando no relógio. - Minha mãe tem que sair e tá me esperando. Tudo certo amanhã?
- Sim, passo lá pra buscar ele no final da tarde, assim que sair do trabalho.
- Certo, já vou deixar tudo dele separado. - Ella falou, sabendo que tinha que ir, mas sem querer realmente ir. Ela deu um passo em direção à porta e parou, olhando o quarto mais uma vez. - O quarto tá muito bonito, Danny.
- Obrigado. - ele sorriu de lado, vendo que a menina ainda estava meio incerta do que fazer a seguir. Ela suspirou e em sua direção, passando os braços ao redor do corpo dele e apoiando a cabeça em seu peito.
- Obrigada. - Ella repetiu suas palavras, mas Daniel não sabia o motivo.
- Pelo o que? - o rapaz perguntou confuso, mas aceitando o abraço, aconchegando a amiga em seus braços. - Só para avisar, um pouco tarde demais: eu estou todo sujo.
- Você tá fazendo mais do que eu imaginava, mais do que precisava, pelo Dylan. Nunca vou poder te agradecer o bastante. - a menina confessou, fechando os olhos e aproveitando o momento, matando as saudades que sentia daquele abraço. - E eu não ligo que você esteja todo sujo.
- Não estou fazendo mais do que minha obrigação como pai, Ely. - Daniel falou, subindo uma das mãos até os cabelos da amiga, fazendo um leve carinho. - E que bom que você não se importa, porque eu estava com saudades disso.
- Eu também... - Ella falou baixinho, como se fosse um segredo.

A menina deixou o prédio com um sorriso bobo nos lábios e uma mancha de tinta verde em sua blusa branca. Quando chegou à calçada, ouviu alguém chamando seu nome, mas não viu ninguém ao redor. Até que olhou para cima e encontrou Daniel apoiado na sacada de seu novo apartamento.
- Deixe seu sábado livre pra mim. - o rapaz pediu, com um sorriso no canto dos lábios. E por mais que ela não quisesse e lutasse contra, Ella sentiu seu coração acelerar de uma forma nova, diferente e inesperada.

DylanOnde histórias criam vida. Descubra agora