Uma semana passou desde que Ella percebeu o que sentia por Daniel e a menina ainda não sabia como lidar com aqueles sentimentos. Estar perto do rapaz era impossível, pois tudo a atingia ainda mais forte, de uma forma que ela não sabia como não transparecer. Tentava de todas as formas tirar aquilo da sua cabeça e o amigo do seu coração, mas não parecia que seria tão fácil. Sempre que estava com Benjamin era ainda pior, pois o sentimento de culpa a matava, como uma ferida que ia a consumindo pouco a pouco, de dentro para fora. Faltava coragem para terminar tudo. Faltava coragem para assumir o que sentia. Faltava coragem para tanta coisa.
Só que ela precisava fazer alguma coisa. Precisava fazer qualquer coisa. Estava naquela situação, mas não precisava trazer mais ninguém para o centro da sua tempestade particular. Não era justo. Benjamin sempre foi sincero e correto com ela. O mínimo que ela poderia fazer era agir da mesma forma. E não adiantava adiar mais uma semana, o tempo que tinha passado parecia o suficiente.
Naquele dia ela parecia determinada. Dylan estaria com o pai durante a noite e Benjamin viria após o trabalho. Com o pouco de coragem que tinha dentro de si, ela poderia, enfim, falar o que estava a matando pouco a pouco. Seu maior medo não era que Ben a odiasse, ela não queria magoá-lo. Ele tinha sido alguém tão especial pra ela durante todo esse tempo e agora parecia que estava o descartando, como se não servisse mais. E não era isso. Não podia deixar transparecer que era isso. Só que ela não mandava em seu coração, não podia controlar por quem se apaixonava. Não podia escolher quem iria amar. E por mais difícil que isso parecesse agora, ela devia dar um ponto final a toda essa confusão, antes que todos saíssem mais machucados. Era fácil pensar em tudo o que iria falar, criar todo um discurso, frases prontas e ter plena noção do que iria dizer a Benjamin. Sendo que Ella tinha certeza que no momento em que ele chegasse, tudo iria desaparecer, inclusive a sua coragem. Mas tinha que colocar em sua cabeça que estava fazendo isso por ele mesmo. Precisava ser sincera, correta. Mesmo que isso trouxesse um pouco de dor num primeiro momento.
Já passava das 22h quando Benjamin chegou. A casa estava tão silenciosa, que Ella conseguia ouvir o barulho dos seus passos ecoando pelas escadas, depois pelo corredor e mesmo antes da porta abrir, ela já sabia que ele estava entrando no quarto. A menina tentou manter um sorriso no rosto, mas sabia que não conseguiria fingir por muito tempo, até porque Benjamin conseguia ler bem as expressões do seu rosto e sabia quando ela estava escondendo alguma coisa. Por isso que as últimas semanas tinham sido cansativas, principalmente a última, porque ela precisava esconder o que estava sentindo de Benjamin, mais do que de qualquer pessoa.
O rapaz entrou no quarto, sorriu na direção da namorada e colocou as coisas que carregava em cima da cômoda perto da porta. Tirou os sapatos e caminhou até a cama, onde Ella o esperava, sentada de forma tão imóvel, que seu único movimento era o leve subir e descer que seu corpo fazia ao respirar. Benjamin logo percebeu que havia algo errado, já que a menina não devolveu seu sorriso e nem falou nada desde o momento que ele entrou no quarto. E assim que colocou os olhos em seu rosto, percebeu que ela tinha algo a dizer e que ele, com certeza, não iria gostar de ouvir.- Precisamos conversar? – Benjamin perguntou, sentando na cama, na frente da menina. Esperou uma resposta, mas Ella encarava as mãos, sem coragem e sem saber como começar, não conseguia nem olhar nos olhos do rapaz. – Ely... – ele chamou sua atenção, colocando uma de suas mãos sobre as dela.
- Ben. – falou, olhando para cima e encarando o rapaz à sua frente. A expressão em seu rosto era de expectativa, ansioso para saber o que ela tinha para lhe dizer. Ella sabia que precisava acabar logo com esse tormento, tanto para ele, quanto para ela. – Eu preciso falar com você, mas não sei como começar.
- Pelo começo, talvez. – o rapaz tentou amenizar o clima fazendo uma piada, mas a menina não pareceu estar muito no clima.
- A gente sempre foi muito sincero um com o outro, então eu tenho que continuar sendo assim. Porque não seria justo com você se eu fizesse de outra forma, mas é que... – Ella desviou os olhos novamente, sentindo uma dificuldade enorme de continuar. Era difícil falar em voz alta o que estava sentindo, parecia que tornaria tudo real. Real demais.
- É sobre o Daniel? – Benjamin perguntou e a menina levantou a cabeça rapidamente, encarando o rapaz com surpresa. Ele percebeu a sua reação e tratou de continuar. – Aconteceu alguma coisa entre vocês?
- Não! – a menina se apressou em responder. – Não aconteceu nada, acredita em mim.
- Eu acredito, calma.
- Como você adivinhou? - Ella se assustou com o fato de Ben ter adivinhado o assunto. Será que estava tudo tão claro para todo mundo?
- É porque é difícil não perceber que as coisas entre vocês são... diferentes. Você muda quando tá perto dele, fica nervosa, vermelha, até mesmo a sua voz fica diferente. Não sei se foi sempre assim, antes da viagem, antes do Dylan, antes de mim, mas agora...
- Não, Ben, nunca foi assim. As coisas mudaram nos últimos tempos e eu tenho me sentido muito confusa a respeito de tantas coisas. Só que eu não posso mais deixar isso se prolongar dessa forma.
- Ely, você pode falar qualquer coisa comigo, você sabe disso.
- Eu sei e é por isso que é tão difícil. – confessou, suspirando em seguida, como se o ar trouxesse um pouco de coragem. – Ben, eu sou muito grata por tudo que você fez por mim, pelo Dylan, pela minha família. Por estar por perto quando eu mais precisei, por ser essa pessoa maravilhosa, que se importa tanto com todo mundo.
- Mas... – o rapaz a interrompeu, ele trouxe o corpo para mais perto da menina e fez com que ela o olhasse. – Não é de mim que você gosta.
- É complicado.
- Não, é bem simples, vocês que fazem parecer complicado. Desde o início eu me perguntava se não estava atrapalhando alguma coisa, no meio de um relacionamento que não deveria ser meu. Mas você insistia que não tinha nada a ver, que o Daniel era seu amigo e que assim continuaria. E eu acreditei, sempre acreditei em você. Assim como acredito em cada palavra que você está dizendo agora. E agradeço a sinceridade e a preocupação de falar comigo. Só que tudo isso poderia ter sido evitado.
- Como? – Ella perguntou, com os olhos marejados, se segurando para não chorar.
- Se você fosse fiel ao que sentia desde o início, não estaríamos passando por isso agora. Mas também não teríamos tido tantos momentos bons como tivemos. Então não posso te culpa por tentar.
- Mas eu não sabia, eu não me sentia assim antes.
- Você sabe que isso não é verdade, Ely. Tudo mudou desde que o Daniel voltou. Tudo. – Benjamin ficou em silêncio por alguns segundos, mexendo nos dedos da menina. Ella queria ter o poder de ler sua mente, para saber o que se passava em sua cabeça. Se ele a odiava, se ele poderia perdoá-la um dia. Porque, independente de qualquer coisa, Benjamin seria sempre importante para ela. - Tentei não deixar as minhas inseguranças interferirem no nosso relacionamento ou qualquer ciúme que eu sentisse colocar ideias na minha cabeça. Mas já estava lá, talvez sempre estive. Qualquer um que vê percebe, menos vocês dois.
- Você me perdoa?
- Não tenho o que perdoar. Eu que tentei ocupar um espaço que nunca foi para ser meu.
- Não fala assim, por favor. – Ella pediu, colocando as mãos ao lado do rosto do rapaz e fazendo com que ele a olhasse. – Você foi maravilhoso pra mim, muito mais do que eu merecia e num momento em que eu mais precisava. Com certeza é uma das melhores pessoas que existem nesse mundo e eu tive sorte de ter você do meu lado por tanto tempo. Eu sempre foi lembrar de você, sempre vou te levar no meu coração. E, por mais que você não acredite, eu sempre vou te amar. – o rapaz sorriu, mas foi um sorriso completamente sem humor, como se tivesse ouvido uma piada sem graça.
- Pena que não da forma que eu esperava. – respondeu, colocando as mãos por cima das da menina e trazendo-as para frente, segurando-as na frente do corpo. – Só quero que você me prometa uma coisa, antes de terminarmos isso tudo e eu ir para a minha casa: Faça valer a pena. Não tenha medo, não desperdice isso tudo por nada. Tenha coragem de falar o que você sente. Porque se você não conseguir colocar tudo isso pra fora, o seu sofrimento, o meu e até mesmo o dele, não vai servir de nada.
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Dylan
RomanceElla e Daniel se conhecem desde os cinco anos de idade, melhores amigos desde que se entendem por gente, não poderiam ser mais diferentes e se amar mais. Ele é todo metódico e organizado. Ela é desprendida e sonhadora. Ele pensa no futuro. Ela quer...