Quem ama cuida (?)

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Desperto com a claridade no quarto, respiro fundo sentindo falta do oxigênio, e o mandando diretamente aos meus pulmões. Abro os olhos, mesmo sabendo que estou sozinho no quarto, ainda prefiro conferir. Sinto gosto amargo na boca e, aos poucos, minha mente é inundada por lembranças da noite passada… Angustiantes, eu diria, mas a angustia maior se dá ao fato de querer saber onde Namjoon se meteu.

Me levanto da cama e caminho descalça para fora do quarto. O corpo do, agora loiro, ocupa o sofá da sala. Ele deve ter chegado logo nas primeiras horas do dia, e sem aguentar seguir para o quarto, acabou caindo e ficando no sofá.

Me aproximo dele verificando a respiração irregular, e o cheiro insuportável de álcool misturado com drogas. Puxo a camisa vinho de gola retirando com dificuldades do corpo dele, abro a calça jeans, puxando pra baixo, mas quase desisto de tentar tirar a peça do corpo dele, visto que não sai em nenhuma das minhas tentativas, mas resolve sacanear e sair na última. Pego os dois braços dele e fico de costas para ele, tomo impulso jogando meu corpo pra frente, e puxando os braços dele junto. Namjoon fica meio debruçado sobre mim, resmungando. Arrasto ele pelo corredor, vez ou outra, trombando e quase caindo, chuto a porta do quarto, ela bate com força contra parede, sigo para o banheiro e me coloco dentro do box. Me apoio na parede e ligo o registro

— Min… tá frio — ofego tendo todo o peso do corpo dele equilibrado pelo mesmo, Namjoon pesa pra caralho.

Ele tenta abraçar minha cintura, mas eu o afasto. Pego o sabonete passando por sua pele. É literalmente como cuidar de uma criança grande. Talvez essa seja a questão, Namjoon ainda não evoluiu mentalmente, ainda acha que pode fazer as merdas dele e sair como se nada tivesse acontecido.

Não ficamos tempo suficiente na delegacia pra ele aprender.

Não dá para aceitar o que ninguém consegue entender, a sociedade está aí exatamente para isso: julgar.

Tiro a boxer preta que ele usa, completando a tarefa de limpá-lo, tanto na frente como atrás, por fim, tiro o sabão. Ele está acordado, mas não se atreve a fazer nada. Fecho o registro e pego a minha toalha, que nós dois usamos, para enxugar ele, e enrolar o tecido na cintura dele

— Sai. — murmuro, Namjoon me obedece, sendo guiado por mim e saindo do box. Mas antes de levá-lo para o quarto, faço ele escovar os dentes, e aproveito para fazer o mesmo.

O deixo sentado na cama e pego outra cueca pra ele, vestindo a peça no mesmo

— Minha cabeça tá doendo. — murmura com a voz rouca

— Que horas você tem que estar na pizzaria, Namjoon?

Ele suspira desgostoso

— As 14hrs da tarde

— Eu vou pegar um remédio pra você, espera. — me afasto dele, tirando minha roupa e enrolando a toalha em meu corpo. Saio do quarto indo a passos rápidos para cozinha, pego uma panela qualquer enchendo de água e a coloco em fogo alto, assim como preparo o pó de café no coador. Abro a geladeira, que no momento, pode ser comparada ao pólo Norte: gelada e deserta.

Eu tenho que comprar pão…

Fecho a máquina e volto pro quarto, encontro Kim deitado atravessado na cama. Tiro a toalha do corpo e busco por alguma roupa decente. Eu simplesmente não consigo agir com pressão, nada sai certo e, pra piorar, só me deixa na ansiedade pra ser perfeccionista, e isso me irrita ao extremo. Visto uma bermuda jeans e uma blusa branca

— Vai aonde?

— Na padaria. Eu não demoro. — me aproximo da cama e fecho a cortina da janela, é a desculpa perfeita para pegar o dinheiro embaixo do travesseiro. Saio pelo mesmo lugar que entrei, mas antes de sair, passo na cozinha para deixar o fogo baixo.

Caminho apressada pela rua deserta, há três ruas tem a pressa principal, até nisso temos azar. Ainda não conheço atalhos da rua, então só sigo em frente por bons 20 ou 30 minutos. O sol das 8h já começa a queimar um pouco, mas a brisa fresca impede muitos danos. Entro na padaria e entro na pouca fila que há, verificando os preços e calculando mentalmente o que posso ou não levar. Peço alguns pães, apresuntado, um pouco de queijo e sardinha enlatada.

Encerro as compras, reservando as duas notas que sobraram para emergências… talvez eu também arrume um trabalho para ajudar Namjoon.

— Oi, bom dia. Vocês estão contratando? — pergunto para uma balconista dos fundo

— Sinto muito, querido. Estamos até demitindo.

— Ok, obrigado. — a crise tá forte.

Volto pelo mesmo lugar, em alguns momentos até corro para chegar mais rápido.

Abro a porta de casa, indo direto pra cozinha, a água está na metade. Preparo o café sem açucar em uma caneca, e preparo dois pães com apresuntado e queijo. Sigo pro quarto sem pressa, Namjoon agora está deitado no travesseiro dele

— Namjoon. — balanço ele — Namjoon!

— Hm?!

— Senta na cama. — ele me olha e atende o meu pedido, não quero muita graça com ele, não até poder conversar sério com ele. O moreno come os dois pães e toma o café, por duas vezes o negando, mas bebe quando insisto, e por último, lhe dou um remédio para dor. Vai servir para aliviar e melhorar nas próximas horas em que estiver dormindo. Horas em que eu gostaria de estar fazendo o mesmo que ele, aproveitando a maciez da cama nem tão confortável, quanto a cama em que dormíamos, na casa dos meus sogros, mas estou satisfeita com o que temos e vou lutar para manter, mesmo que não seja com o que ele está acostumado.

Algumas vezes precisamos abrir mão daquilo que queremos, para aceitar aquilo que temos que seguir. Eu só não sei ao certo se essa frase cabe nas circustâncias em que vivo. Eu preciso dele e ele precisa de mim. Não é nada relacionado a sexo, dinheiro ou dependencia… talvez haja um pouco de dependencia, mas o que está em questão é: ninguém faria por ele o que eu estou fazendo. Menos ainda, o que ele fez por mim. Namjoon não é o monstro que ele mostrar ser, ele tem um coração bom, ele é uma boa pessoa… mas por breves segundos, quando a luz se apagou, Namjoon se perdeu. Foram breves segundos, talvez frações, foram suficientes para mudar o que podia ter sido evitado.

Save Me { Primeira Temporada / Reescrevendo }Onde histórias criam vida. Descubra agora