londres era dela.

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O alho na panela ainda dourava, aromatizando toda a cozinha, quando Harry ouviu passos vindo da escada. Ele rapidamente encheu duas taças com seu vinho favorito e, ao se virar, deu de cara com a loira. O cabelo ainda pingava do banho quente o qual ela havia tomado e o vapor do banheiro ainda a seguia. O único moletom que ela vestia não era dela, antes estava na gaveta do garoto.

Ela sorriu e envolveu os dedos na taça com vinho. Espiou a bancada da cozinha com o rabo de olho assim que Harry se virou de costas pra ela novamente.

- Eu deveria imaginar que você não quis dizer uma "simples macarronada" quando se ofereceu para fazer o jantar. – Astrid comentou ao revirar os olhos. Harry puxou o canto do lábio em um sorriso torto e continuou a fatiar os legumes.

A faca estava amolada e a lâmina dela era afiada, mas Harry sabia que ele tinha talento. Não só em fatiar os legumes com rapidez ou dourar o alho, mas também com o ravióli que cozinhava e com qualquer comida que ele punha as mãos.

Ele jogou o punhado de brócolis e aspargos na frigideira e os observou estalarem no ferro quente. Enquanto sua mão direita mexia nos legumes, a outra preparava o molho vermelho.

Um pouco distante, Astrid o observava encostada em um pilar. O vinho dançava na taça enquanto a garota rodava o vidro na sua mão. Ela não ousou falar e arriscar interromper a bela arte que acontecia bem na sua frente. Harry era uma máquina, ágil como tal. Mas criativo como nunca vira. Ele levava o talher que mexia a comida até a boca e analisava o que faltava na comida.

A sua cozinha era uma mistura de um laboratório, onde ele fazia experimento com os ingredientes, usava gelo seco para fazer novas bebidas, e também era como sua sala de estar quando a lareira estava acesa. Era o seu lugar confortável, onde a partir de seus erros comidas diferentes e originais saíam do forno.

Ele demorara para perceber, mas tinha nascido para a culinária.

- Vou preparar a mesa. – disse a garota depois de alguns minutos. Ela repousou a taça sobre o balcão. – Você chamou sua mãe para jantar?

Desde que Harry voltara para Londres, sua mãe não perdia um minuto sequer com o filho. Depois de tanto tempo viajando, Harry prometeu à família que passaria mais de uma semana com eles. Afinal, o apartamento que ele havia alugado para morar com Astrid ainda estava vazio e no contrato ainda tinha seu nome.

Ele morava sozinho, mas as roupas de Astrid insistiam em ficar misturada com as dele nas gavetas, a escova de dentes sempre estava jogada na pia, e sua xicara de café favorita fazia companhia para os utensílios de cozinha de Harry.

- Não, eu disse que queríamos jantar sozinhos hoje. – Harry respondeu depois de alguns segundos. Astrid abriu a boca em surpresa, era estranho ouvir isso de Harry depois de tudo o que acontecera.

Sem questionar, Astrid abriu os armários e pegou os pratos e os talheres. Ela encheu a taça de Harry após encher a sua. Naquele ponto, o apartamento inteiro cheirava à molho de tomate e à torta que estava no forno. As janelas estavam abertas, isso queria dizer que em menos de meia hora os vizinhos de Harry bateriam na porta esperando que o cozinheiro os convidasse para entrar e experimentar um pouco de sua nova criação.

- Você fez torta o suficiente? – Astrid perguntou. Harry checou sua sobremesa de longe e sorriu ao ver que a loira pensava o mesmo que ele.

- Fiz, e se não der, tenho mais massa na geladeira. A senhora do 407 está com os netos em casa, e eles adoram doce.

O prédio inteiro conhecia Harry e, principalmente, suas comidas. Os vizinhos viraram muito próximos de Harry assim que ele começou a chamá-los para experimentar suas receitas. Às vezes, ele estava na garagem tirando compras do carro e dava de cara com o adolescente do 309, aproveitava e chamava toda a sai família para jantar. Outras vezes encontrava uma família inteira no elevador, e todos subiam direto para o andar dele.

AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora