A estrada passava correndo pelos olhos de Anna. O sol estava se pondo e os postes das ruas começavam a acender. Harry estava calado desde que eles saíram do jardim, e Anna estava tão incomodada com o seu silêncio que passou os últimos minutos tentando montar um pedido de desculpas na sua cabeça. Vez ou outra, ela o encarava esperando que ele cedesse e falasse com ela, mas Harry nem sequer desviou o olhar da pista.
O que ele havia dito mais cedo pegou Anna de surpresa. Ela não sabia que Harry pensava daquela forma. Que Harry pensasse que ela fosse daquele jeito. E ela se sentia mal por ter passado essa imagem para ele em algum momento, que sentia seus olhos encherem de lágrimas.
- Eu não acho que você seja uma distração para as minhas dores. – ela quebrou o silencio, com a voz baixa, fitando suas mãos entrelaçadas no colo. De repente, o silêncio parecia melhor do que ela falando sozinha. – Eu não sei se isso é bom pra você ou não, mas... Estar com você me ajuda a superar. E isso é bem diferente de usar você como uma distração.
Harry não falou nada, então Anna continuou:
- Não dói mais como doía antes, porque eu conheci você. – Anna parou de falar por um momento, e engoliu o nó na garganta que havia se formado. Ela não queria chorar. – O que levaria meses para melhorar, levou pouco menos de uma semana. Porque você apareceu, e me levou para conhecer a Itália. – ela fechou os olhos para que as lágrimas não caíssem. – Eu não posso dizer que não penso no Brad, Harry, porque eu penso nele todos os dias. Mas são só por alguns minutos, até que eu perceba que você está no quarto ao lado do meu, então tudo o que eu consigo pensar é em quantos minutos faltam para a gente se ver de novo. – Harry diminuiu a velocidade do carro, mas continuou com os olhos fixos na estrada. Se ele olhasse para Anna, não tinha certeza do que faria a seguir. A garota encostou no vidro, e sussurrou: - Você não é uma distração pra mim, porque eu sei que quando eu estiver pronta para voltar para casa, quando não tiver medo de lidar com a realidade, eu voltarei. Mas eu sei também que eu me lembrarei de você para sempre, porque você é muito mais do que um entretenimento para minha dor.
Anna não tinha superado Bradley, e não tinha certeza se algum dia iria superar. E ela não ia se sentir mal por estar fugindo dele por um tempo, até que tudo tivesse claro em sua mente. Mas ela não queria, nunca mais, que Harry pensasse que ele era tão insignificante para ela.
No início, ela pôde ter pesando que Harry seria aquele que ela usaria para amenizar sua dor; por mera coincidência ele foi escolhido por ela assim que entrou na cafeteira, mas poderia ter sido qualquer um. Até que ela o conheceu, e tudo mudou.
Harry chegou no hotel com seus pensamentos a mil. Anna não falou mais nada o caminho inteiro, e nem ele. Quando o garoto estacionou o carro, Anna abriu a porta e pegou sua bolsa, se perguntando se havia estragado o que tinha acabado de construir. Antes que ela saísse, Harry segurou seu braço, a fazendo ficar.
- Eu... não sei o que você tem, Anna. Mas você tem alguma coisa que me fascina, que eu acabo ficando cego para tudo que está ao seu redor. Então, eu aceitaria ser sua distração se isso significasse ficar perto de você por mais tempo. – Harry riu, ouvindo o que estava falando era a mais pura verdade. – Às vezes eu me pergunto quando é que você vai parar de falar do Bradley, mas a verdade é que eu prefiro que você fale comigo sobre ele do que sobre mais nada.
Harry finalmente olhou para Anna, que sorria. E então ela começou a rir, e Harry não entendeu.
- É que tem uma coisa aqui, em você. – Anna apontou para o canto da boca, e Harry passou a mão para limpar. – Espera, eu posso tirar pra você.
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Anna
Ficção AdolescenteAnna não gostava de ficar sozinha, e Harry não estava procurando por uma acompanhante. O que ele foi descobrir depois foi que ninguém era capaz de deixar para trás aquela triste, divertida e fascinante garota que ele conhecera em uma cafeteria na...