Isso Não É Real

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CAPÍTULO QUINZE

A G N E S • H E R N A N D É Z

“Triste, sozinho
(Eu sigo o meu caminho)
Maldade, delírios
(Não sei em quem confio mais)
Eu sigo o meu caminho assim
(Não sei em quem confio mais)”
Saint Lukka - Amor Não Existe.

Micheline tinha me deixado sozinha dizendo que precisava resolver uns problemas, eu estava completamente perdida.

Esse hospital não era muito diferente da clínica onde fiquei por 2 anos, acho que todos os lugares assim são iguais, nem o tratamento com as pessoas diferenciava.

Encontro a ala dos quartos masculino e começo a olhar dentro das janelinhas pra ver quem estava dentro, vai que encontro algum rosto conhecido.

– Agnes – me viro assustada e fico com o coração na boca.

– Marcelo – dou um sorriso sem graça pro psiquiatra que me olhava sério. Tô ferrada.

– Você não deveria estar aqui, não é? – ele pega um chaveiro e começa a olhar os números das chaves.

– Já tô indo – passo por ele sorrindo torcendo pra ele não me entregar.

– Espera – que mania esses cara tem de segurar no meu braço – Pode ficar aqui comigo, estou indo ver um paciente.

Fico o olhando desconfiada, mas acabo cedendo, o que tinha demais? Estou sem nada pra fazer mesmo.

Entramos em um quarto completamente escuro, estava quase saindo correndo quando Marcelo acende a luz revelando um ambiente sinistro.

Um homem estava sentado na cama olhando pra gente com uma expressão aterrorizante no rosto, ele tinha uma cicatriz horrível que ia da sobrancelha até a ponta do queixo, era horrível e eu já estava querendo ir embora.

– Opa, quarto errado – Marcelo dá um sorriso sem graça e eu me seguro pra não dar na cara dele. Fala sério.

– Acho que vou ficar aqui mesmo – falo com medo do que possa encontrar no próximo quarto.

– Melhor mesmo – ele faz uma careta e eu olho pela janelinha.

– MUDEI DE IDEIA – grito um pouco exagerada e ele nega com a cabeça.

Enquanto Marcelo conversava com o homem, eu dava voltas pelo quarto, também não ia correr o risco de ser pega no flagra.

Me aproximo da cama do homem e me sento fazendo cara de inocente, eles me olham, mas depois voltam a conversar. Ótimo, essa é minha deixa.

Cantarolando uma música qualquer eu brincava de mexer os pés, estava tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Marcelo estava concentrado no homem, estico minha mão até o local e pego o pacote o guardando dentro do meu sutiã.

Me levanto e saio de fininho, eles com certeza me viram saindo, mas não deram tanta importância, estava entediada lá dentro mesmo.

Começo a correr pra longe dali, vejo uma porta aberta e atravesso, ia parar pra tomar fôlego, mas acabo esbarrando em alguém, indo de encontro ao chão.

– Não olha por onde anda não... JACK – grito assustada vendo o estado que o loirinho se encontrava.

– Caralho, chama o Samu – ele gemia de dor e eu fiquei confusa, quem era Samu?

– Samu? Quem é esse? Não conheci ainda não.

– Porra, Agnes – ele fala de um jeito que me faz pular de medo.

Jack estava com o rosto todo machucado, algum paciente deve ter agredido ele, o que eu faço agora?

– Nicolas – ele fala e eu o olho sem entender.

– Vem, vamos dar um jeito nisso – seguro em sua mão e o levo pra dentro do hospital.

Consegui um kit de primeiros socorros com uma moça da cozinha, ela tinha arranjado gelos pro Jack também e agora ele estava com a aparência um pouco melhor.

– O Nicolas enlouqueceu, ele bateu na Alysson e eu fui defender ela porque você sabe, a considero minha irmã – lágrimas escorria dos olhos dele – Eu não quis bater nele, mas olha só loirinha, ele me quebrou na porrada.

Puxo Jack pra um abraço e digo que vai ficar tudo bem, o Nicolas não era assim e tudo ia se resolver.

– Já volto – dou um beijo na bochecha dele e saio disposta a encontrar com o Nicolas.

Já estava cansada, o primeiro lugar que achasse eu ia sentar e não tava nem aí pra nada, já andei demais.

– Agnes? – escuto a voz da Alysson e me viro encontrando ela e logo atrás o Nicolas.

– NOSSA – corro até ela ignorando o meu cansaço e vejo que estava inchada sua mandíbula, o Nicolas perdeu o juízo.

– Escuta, você tem duas opções... Ou acredita na gente, ou no Jack – Alysson fala séria e de um jeito que eu nunca pensei que a veria.

– Ele me bateu e o Nico foi pra cima dele pra me defender e...

– Tá querendo me dizer que ele apanhou atoa? Só pra eu vim aqui e brigar com vocês? – interrompo ela que assente com a cabeça e Nico faz o mesmo.

– Isso não é real – falo sentindo as lágrimas rolando.

Dou as costas para os dois e vou caminhando sem rumo, isso não tinha lógica. Sei que o Jack é problemático, mas fazer isso já seria doentio, só que eu também conheço o Nico e ele nunca bateria na Alysson.

O melhor agora é me afastar dos três.

Fico magoada porque eu e o Jack estávamos no começo de algo tão bom, ele me faz bem e me compreende do pouco que eu consigo me abrir pra ele, já está doendo o fato de ter que me manter afastada.

– Micheline, posso ir embora? – pergunto assim que a encontro conversando com outra enfermeira.

– Pode sim, venha – ela se despede da mulher e eu a acompanho com meu coração partido em pedacinhos.

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