Por Mim E Pra Mim

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CAPÍTULO DEZOITO

A G N E S • H E R N A N D É Z

"Por um momento eu achei que tava melhorando
No outro momento eu vi, tudo se acabando
E no final eu não sabia onde tava
Porque tudo que eu sabia era que não sabia nada mano"
LetoDie - Eu Sou o Erro.

Estava no modo automático, não comia, não falava, não dormia, não saia da cama, não tomava banho... Apenas ficava deitada encarando o nada com medo de tudo aquilo voltar.

- Vamos lá Agnes, você precisa se alimentar - Micheline tentava a todo custo me reanimar, mas sabia que era inútil.

Eu estava a um passo de me perder, a um passo de voltar a ser o que tanto temia. Havia parado com os remédios então era questão de tempo. Sim a culpa é minha e eu tenho total consciência disso, mas o que posso fazer se tudo o que eu faço de melhor é isso, acabar comigo mesma.

A Alysson e o Nicolas tentaram falar comigo infinitas vezes, porém, eu não queria vê-los, não queria ver ninguém. Nem mesmo o Jack. Esse eu fiquei sabendo estar sendo punido por ter feito algo, mas não quis saber a punição e muito menos o que foi que ele fez.

Só quero acabar com tudo isso de uma vez por todas.

Era noite e estava muito quente, como de costume eu estava deitada encarando o nada e com uma dor infernal na cabeça.

- Chega - Micheline exclama cansada - Vou te dar um banho, sem protestos e agora mesmo.

Tentei protestar claro, mas de nada adiantou, Micheline não iria me dar trégua. Infelizmente dela eu não podia me livrar, e também nem queria, ela nunca foi um problema.

- Amanhã você vai ver o seu pai, imagina se continuar nesse estado - no momento que ela fala isso eu sinto todo o meu corpo perder o fio de força que o restava.

Não podia ir ver o meu pai, eu sei bem o que ele quer e não posso permitir isso. Ele também deve estar igual o capeta por causa do Jack, preciso fazer alguma coisa.

- Acho que estou doente - sussurro me encostando na parede.

- Depois passamos na enfermaria - ela sorri e eu consigo ver preocupação.

- Tudo bem - digo desligando o chuveiro - Eu posso continuar sozinha, obrigada.

Após Micheline sair do banheiro dizendo que ia preparar o meu jantar, corri até o guarda-roupa e vesti um pijama qualquer, precisava agir e rápido.

Eu não podia fazer ligações com esse celular, pois era grampeado e isso era óbvio, mas o notebook eu consegui hackear e configurar pra ninguém ter acesso, sim eu sei, sou uma gênia.

Não sabia o número dele de cor, começo a procurar na internet e fico nervosa por ter todos do mundo, menos o dele.

- Eu preciso de você - falo quase chorando.

- Menina eu caprichei na sua comida - Micheline entra no quarto no momento em que eu estava quase conseguindo.

- QUESTO - grito dando um pulo da cama, tinha acabado de encontrar a minha salvação.

Micheline me olha estranho e eu disfarço dando um sorriso torto, ninguém pode saber dele ou eu estou ferrada.

Termino de comer com muita insistência, eu não tinha fome, mas se pra Micheline sair do meu quarto eu precisava comer, então eu fiz mesmo sem vontade.

- Até amanhã - ela pega a bandeja e caminha até a porta me olhando relutante.

- Buonanotte - me despeço sorrindo pra parecer que estou bem.

Tranco a porta e corro pro banheiro com o notebook em mãos, pra não arriscar e deixar rastros eu prefiro mandar um e-mail, espero que ele me responda.

Sento no vaso nervosa e começo a roer minhas unhas, o tempo passava e nada de respostas, talvez eu esteja me precipitando porque não faz nem 5 minutos que mandei o e-mail e já quero respostas, mas fazer o que? Eu tenho ansiedade.

Levanto num impulso e começo a puxar o meu cabelo, estava desesperada. Me lembro dos remédios que peguei na enfermaria e os pego decidida, coloco várias cápsulas na boca e as engulo no seco mesmo, preciso relaxar.

Foi questão de tempo pro mal-estar aparecer, eu queria vomitar, mas nada saia, minha vista embaçada eu já estava dopada. Me encosto no vidro do box e fecho meus olhos, um zunido insuportável começou a me perturbar, coloco as mãos no ouvido e me jogo no chão sentada.

Isso tinha que parar.

Depois do que parece ser a eternidade consigo escutar o barulho de uma notificação do notebook, ele havia me respondido.

Levanto cambaleando e puxo o notebook com uma das mãos, grito com raiva quando ele cai no chão, que merda eu faço comigo mesma? Me destruindo como se não fosse merda nenhuma.

Começo a rir com os meus pensamentos e percebo o quão vazio é o som da minha risada, pelo menos agora ele iria me ajudar, eu espero.

Meus olhos percorrem sobre a tela do notebook, havia um texto e eu estava com muita pressa de ler, não posso me decepcionar agora, tudo tem que dar certo.

Três palavras, uma frase e um significado inimaginável.

"Estou chegando aí..."

Esqueci texto, esqueci tudo. Somente essas três palavras fizeram meu coração palpitar. Ele está vindo, ele está vindo por mim e pra mim.

Mesmo com as vozes, os vultos, as lembranças, as dores... Eu nunca fui dormir tão bem.

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