O Diabo

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CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

K E V I N • D I A S

"Diga que iremos juntos pelos mais escuro dos dias
O paraíso está a uma decepção de distância
Nunca te deixarei, nunca me decepcione
Oh, tem sido uma baita de uma jornada
Dirigindo a borda de uma faca
Nunca te deixarei, nunca me decepcione"
Justin Bieber - Let Me Love You (feat. DJ Snake)

Nenhuma ressaca no mundo vencia a dor do arrependimento, quando bêbado eu não tenho noção nenhuma dos meus atos, mas de manhã quando tudo vem a tona, eu só quero morrer.

Não posso ser considerado um melhor amigo e muito menos um anjo da guarda sendo que fiz o que fiz, fui um merda machucando a única pessoa nessa vida que eu amo mais que a mim mesmo e agora possivelmente ela não vai nem olhar na minha cara.

- EI - a Alysson esmurra minha porta e eu abro com cara de poucos amigos - A Agnes dormiu com você?

- Não - falo alarmado.

- Ela sumiu - penso na possibilidade nem que seja mínima possível dela estar com o Jack.

- Não tá no quintal - Jack aparece suado e minhas esperanças vão pro ralo.

- Nem lá em cima - Nicolas diz encostando na parede cansado.

- Merda - dou um soco forte na parede assustando a Alysson e saio de perto deles pra procurar ela melhor.

É tudo culpa minha, como posso ser tão burro, não saber controlar a merda da própria língua.

Começo a arrancar os meus cabelos pensando onde ela deve ter ido, será que foi embora? É possível, mas vou acreditar que não.

- Estamos péssimos - escuto aquela voz que estava tirando minha paz e fico um tempo olhando pra ver se era coisa da minha cabeça.

- Agnes - corro até ela que estava péssima - ONDE INFERNOS VOCÊ SE METEU?

- Lá - aponta pro fundo do quintal e eu nego com a cabeça.

- Você tá toda machucada, que droga, não posso nem brigar com você.

- É, não faço a mínima ideia do que aconteceu - dá de ombros e coloco minhas duas mãos nos ombros dela.

- Você - olho bem nos olhos dela e falo - Você aconteceu.

Entro com ela pra dentro da casa e todo mundo corre em nossa direção, ignoro as perguntas e subo com a Agnes pro banheiro, minha cabeça estava a ponto de explodir.

- É estranho acordar assim - fala tirando a roupa analisando seus machucados.

Ligo o chuveiro e deixo ela lá pra tomar seu banho sozinha, é muito difícil conviver com essa situação.

A Agnes tem dupla personalidade, mas não aceita isso, ela não consegue ver que é perigoso pra ela e para as pessoas que convivem com ela. Sempre que ela tá mal e tem uma crise essas coisas acontecem, pior é o dia seguinte, as marcas, os machucados, os hematomas... Coisas que ela mesma faz e não se lembra.

- Onde ela tava e o que aconteceu? - Alysson pergunta entrando no quarto.

- Sempre esteve aqui o tempo todo - falo olhando pra porta do banheiro.

- Aqui dentro? Impossível.

- No quintal, lá no fundo - ela fica em silêncio e eu tenho uma ideia - Pode reunir todo mundo lá na sala pra mim? Precisamos conversar sobre a Agnes

Posso até estar fazendo errado contando da vida da Agnes pra eles mas, eu sinto que preciso, eles precisam entender pra saber lidar com ela e quem sabe até ajudar.

- Bom, primeiramente eu quero pedir para que nenhum de vocês me interrompa.

Falo quando todos estão de pé com expressões confusas no rosto.

- Tudo começou a piorar quando a Agnes tinha 9 anos, porque desde muito nova que ela sofria com a negligência dos pais - noto que todos estavam concentrados então aproveito pra continuar - O Sr. Conte sempre foi um bom marido, mas em quesito pai, ele era péssimo. Quando nossa loirinha tinha 9 anos ela começou a ser estuprada... Pelo próprio pai dela.

- COMO É? - Nicolas levanta gritando e eu lanço um olhar mortal pra ele, odeio ser interrompido.

- A mãe dela sabia, mas nunca fez tanta questão de ver a filha bem e feliz, passou a maltratar cada vez mais até que veio a Sophie - sinto receio de continuar, mas já que comecei, vou até o final.

- Sophie? - Jack pergunta e eu suspiro impaciente.

- Sophie era filha da Agnes - ninguém esconde a surpresa nesse momento -Quando ela tinha 11 anos ela engravidou e ninguém ficou sabendo, ela engordou e mesmo assim eles acharam normal, um dia sentiu dores de barriga e quando chegou no hospital estava em trabalho de parto... Tudo foi encobrido por causa do dinheiro da família.

Sinto tanto ódio que minhas mãos chegavam a tremer.

- Quando a neném tinha 6 meses ela foi abusada pelo próprio pai da Agnes que era pai da neném também - falo - Obviamente ela não resistiu e veio a falecer com uma hemorragia interna.

- Para - Alysson já derramava rios de lágrimas e eu tentava me manter forte.

- Pior que não parou por aí - engulo em seco só de lembrar.

- Meu pai armou um teatro onde eu tive um surto psicótico e matei a minha própria "irmã", fui taxada de louca e mandada pra um hospital psiquiátrico que incendiei, já estava cansada de toda aquela merda - Agnes fala com frieza e todos os olhares são direcionados a ela.

- Você? Como nunca me contou isso? - pergunto sentindo meu coração acelerado.

- Você é patético Kevin, eu queria a minha liberdade, se não fosse tão fraca eu teria matado até o meu pai - já entendi, ela conseguiu vencer, mas não por muito tempo.

- Agnes - Alysson a chama, mas é em vão.

- Essa não é a Agnes - falo e eles me olham assustados - É a outra personalidade dela, costumo chamar de "o diabo".

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