Lembranças Malditas

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CAPÍTULO TRINTA E UM

A G N E S • H E R N A N D É Z

“O que a gente sente
Nem sempre da pra explicar
Pessoas não tem culpa
Por nossa culpa em nos sabotar”
Tuono - Não sei dormir.

Eu observava de longe o quanto todos estavam felizes com a liberdade, Alysson e Nicolas finalmente se pegaram, Jack e Kevin deram uma trégua no ódio mortal e agora estavam conversando e rindo sobre o quão louco foi tudo o que fizemos.

Estávamos na casa da Alysson que ela comprou sem os pais saberem, não íamos ficar muito tempo aqui porque precisamos ir pra longe, na verdade, eu e o Kevin precisamos ir pra longe, o resto do pessoal vai tudo se separar e isso é uma pena.

– Vem comigo? – Jack fala no meu ouvido me assustando.

Um pouco relutante, mas cheia de vontade eu decidi ir, peguei em sua mão e ele me levou pro cômodo de cima onde ficava os quartos.

– Sabe, estive pensando e não quero me afastar de você – fala trancando a porta.

– Pena que vai, não é mesmo? – minhas palavras saem mais amargas do que eu imaginava.

– Não meu amor, longe de você eu não fico – ele beija minha boca e eu logo me afasto respirando ofegante.

– Jack, é ridículo você falando assim, não combina – dou uma risada e ele me olha bravo.

– Poxa Agnes, me leva a sério, eu amo você – solta frustrado e eu não posso acreditar nisso.

– O pessoal tá planejando uma comemoração hoje, topa ir comigo? – noto que ele tinha um brilho no olhar diferente.

– Tudo bem – não tinha mal nenhum em acompanhar ele ou tinha? Bom, não me importo.

Ficamos em silêncio apenas nos observando, quando menos espero o Jack já tá em cima de mim pronto pra me fazer sua, mas não era isso que eu queria… Pelo menos não agora.

– AGNES – Alysson bate na porta e eu começo a rir da careta que o Jack faz.

Me levanto um pouco sem jeito e vou abrir a porta, após me analisar de cima a baixo e depois da uma olhada geral pra dentro do quarto, Alysson dá de ombros e me puxa pela mão correndo corredor adentro.

– Maluca – falo assim que ela para em frente a um quarto onde só pode ser o dela e abre pra nós entrarmos.

– Temos que escolher nossas roupas e infelizmente não podemos sair pra ir no shopping – ela faz uma carinha triste – Então eu espero que o meu closet ajude.

O estilo dela não era muito o meu, mas as roupas até que eram lindas, começamos a experimentar várias até eu me sentir cansada e me jogar na cama enorme e macia que ela tinha.

– Vou escolher uma bem menininha pra você hoje – fala e eu apenas levanto meu dedão em sinal de joinha.

– Me acorde somente quando for noite – digo antes de cair em um sono profundo.

Essa música, essa maldita música, corro até a caixa de som e a desligo causando a ira da mulher que me colocou ao mundo, mamãe podia ser tudo de ruim, mas eu não conseguia odiar ela.

– Venha dance com a sua mãe – mamãe liga a música novamente e me puxa pela mão guiando os meus passos em uma dança calma e envolvente.

– Fiquei tonta – solto uma gargalhada quando ela me gira e eu sem querer acabo me desequilibrando.

– Vá tomar banho, o seu pai chega hoje de viagem – ela muda a expressão e eu sinto um aperto no peito.

Eu não conseguia entender a minha mãe, quando o papai não está ela é totalmente diferente de quando ele está, por quê? Na presença dele ela me trata como se eu fosse a pior pessoa desse mundo e na ausência, parece que eu sou o mundo dela.

– Sim mamãe – falo sem ânimo e subo pro meu quarto pra separar uma roupa.

– Soph – ando até o berço da coisinha mais fofa desse mundo e a vejo tentando se levantar.

– Que apressada neném – pego ela no colo e começo a dançar sorrindo por sua gargalhada gostosa.

– AGNES – minha mãe adentra o quarto com os olhos vermelhos e uma expressão brava no rosto – EU JÁ NÃO MANDEI VOCÊ TOMAR BANHO?

Eu só tava brincando com a Soph.

– VÁ PRA MERDA DO BANHEIRO E NÃO QUESTIONE SUA MÃE – ela estava alterada e eu sabia bem o porque, aquele pó branco que já vi ela cheirando algumas vezes.

– VERME – ela grita pra Sophie que começa a chorar.

– CALA A SUA MALDITA BOCA – ela se aproxima de Sophie e eu não consigo segurar a minha raiva.

– NÃO GRITA COM ELA – grito e minha mãe avança até mim me dando um tapa na cara.

Acordo com lágrimas nos olhos e percebo que já anoiteceu, minha vontade de sair pra essa festa com o Jack era 0%, essas lembranças acabam comigo e sugam todo o fio de energia que eu ainda tinha pra viver.

– Me pediram pra vim te acordar – Jack abre a porta e dá um sorriso pra mim.

– Desculpa, mas não vou ir mais – falo torcendo pra ele me entender.

– Por quê? – ótimo agora ele fica chateado comigo.

– Não tô me sentindo bem – suspiro fechando os olhos.

– Tá – ele dá as costas e sai batendo a porta com raiva.

Porque é tão difícil ser eu? Sério, daria tudo pra nascer outra pessoa, mas já que não rolou, tá demorando demais pra chegar minha hora de morrer.

Em um dilema entre levantar da cama ou continuar deitada, continuar deitada venceu. Fecho os olhos, mas não tenho a intenção de dormir, fico apenas me torturando com minhas lembranças.

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