Capitulo 1

1.8K 100 13
                                    

Max Bierens

Senti minhas pernas tremerem pela segunda vez. Praticamente 15 horas de viagem, 10 de avião e 5 de carro, sem parada. Estava morto de fome e cansado de tanto silêncio. Suspirei aliviado quando vi a placa de Boerne no final da estrada ao mesmo tempo que meu celular começou a tocar. Conectei com o som do carro e a voz de mamãe ecoou pelo local.

- Zoon, porque não estava me atendendo ? - Mamãe era um tanto dramática. Papai já estava acostumado e sempre ria quando eu quase enlouquecia com os surtos dela.

- Estou dirigindo mamãe, quase chegando na cidade. Quando me acomodar e estiver descansado te ligo.

- Fiquei preocupada, eu te disse que não deveria ter ido dirigindo. - ela exclamou estarrecida. - O que seria de mim se algo acontecesse com você ?

- A única forma de chegar em Boerne é de carro, como queria que eu viesse ? E não precisa se preocupar estou chegando na cidade.

- O jatinho estava disponível pra você !

- Fora de cogitação usar o jatinho para vim em um lugar como esse. - revirei os olhos. Tão exagerada, mas tudo isso era zelo e preocupação. Mamãe sempre cuidou de todos, desde nós até os filhos dos nossos empregados.

- Tudo bem, já está tarde. - suspirou e saiba que estava sorrindo. - Estou esperando seu pai, hoje iremos ter uma noite especial.

- Mãe ! - ralhei e ri em seguida. - Não preciso saber do que você e o papai vão fazer.

- Bobinho, irei desligar. Tenha cuidado querido, mande mensagem quando chegar. Te ligo amanhã.

- Tchau mamãe, te amo. - desliguei sorrindo.

Agora éramos apenas nós três. Óbvio que senti que depois da morte de Sven a preocupação dos meus pais dobraram sobre mim, mesmo em meio aos meus 28 anos e isso tinha mais haver com a empresa do que qualquer outra coisa.
Papai criou a MVB quando ainda morava na Holanda, estava na faculdade de agronomia e namorava minha mãe que cursava arquitetura. Se mudaram para Washington ainda jovens e foi quando a empresa começou a decolar cada vez mais alto, hoje em dia mesmo depois de 30 anos ainda somos a maior empresa de fertilizantes do mundo.
Meu irmão Sven e eu nos formamos em administração e começamos a trabalhar na empresa com papai, juntos criamos outros produtos e os tornamos acessíveis aos menores agricultores. A empresa doa 30% do ganho para família carentes que sobrevivem com as pequenas plantações e visam o crescimento das mesmas.

Entretanto, meu irmão faleceu durante uma viagem. Voltava da França em um jatinho de um dos sócios da empresa, que morreu juntamente na tragédia. Fazem 2 anos e só agora tomei coragem para ler a carta que ele tinha entregue para mim, meses antes de morrer. Nela dizia que Sven era pai de um garoto chamado Thomás e que depositava todo mês o valor de 15 mil reais na conta da mãe do garoto, ele pediu para que o valor continuasse sendo depositado caso algo acontecesse com ele, também pedia que parte das ações dele empresa fossem transferidas para o garoto assim que ele tivesse idade o suficiente para assumir. Contei tudo aos meus pais, de início ficamos indignados com o fato de Sven nunca ter tocado no assunto, nem sequer ter dado indícios que tínhamos um mini herdeiro na família e ter escondido o garoto de todos nós, foi então que tomei a decisão de achar a mãe do garoto para que tudo pudesse ser resolvido.
Papai e mamãe estavam radiantes com a ideia de ter um neto, de conhecê-lo e apresentar para todos. Mas acalmei o ânimo dos dois e disse que cuidaria de tudo com calma, de acordo com a carta do meu irmão a mulher não fazia a mínima ideia do peso que o nome do filho carregava e eu estava disposto a deixá-la ciente de tudo.

Parei a caminhonete preta na frente de um restaurante no início na avenida principal da cidade. A fachada verde com letras douradas chamava atenção a quilômetros de distância e só o cheiro vindo daquele lugar fazia minha barriga roncar. Desci da caminhonete sentindo minhas pernas doerem e parei na frente da porta que exibia uma placa aberto e empurrei a porta. O burburinho e as mesas cheias me fizeram ter esperanças de que meu jantar seria muito, muito bom ou seria só porque aquele era o único restaurante da cidade ?

- Boa noite. - uma moça desejou se aproximando com uma caderneta. - Deseja uma mesa ?

- Sim, por favor. - pedi e ao adentrar o local senti todos os olhares dirigidos para mim. Continuei caminhando calmamente até a mesa um pouco afastada daquele barulho e sentei. A garçonete me entregou o cardápio e logo fiz o pedido.

- Trago em 1 minuto. - disse antes de sair apressada até a cozinha. Olhei para o bar do restaurante e de lá uma senhorinha me encarava. Cheguei arrasando corações ! Vi que ela começou a vir na minha direção com um olhar curioso.

- Boa noite, querido. - ela desejou sorridente. - Sou a senhora Taylor, mãe da dona do restaurante.

- Sou Max Bierens. - estendi minha mão.

- Novo na cidade ?

- Acabei de chegar. - sorri e ela sorriu de volta.

- Creio que não tenha um lugar para dormir. - supôs e sorri achando graça. Estaria ela querendo me levar para a casa dela ? Pobre senhora, vovó surtaria se soubesse. - Deus do céu, não é nada disso que está pensando ! Sou dona de uma pousada no final da rua, ia pedir que fosse lá e se hospedasse.

- Agradeço senhora, irei lá com certeza.

- Não é como se tivesse muita opção. Ou é lá ou a pensão velha da senhora Trinton e acredite, você não vai querer nem chegar perto.

- Não se preocupe, irei na sua pousada. - garanti e a garçonete chegou com o meu prato. - Obrigada.

- Deixarei você comer em paz rapazinho, se precisar de algo é só me chamar.

- Chamarei com todo prazer, senhora Taylor. - disse fazendo a velha rir enquanto caminhava para longe.

Zoon: "filho"em holandês

Amor - Série Sentimentos ( COMPLETO )Onde histórias criam vida. Descubra agora