Capítulo Vinte e Sete

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Inácio

— Só tem mais duas caixas no caminhão — Samuel fala carregando uma das tantas caixas da minha mudança.

— Pode deixar comigo — Ele assente, entrando na casa.

Peguei as últimas caixas e paguei ao motorista pelo serviço. Fechei o portão e encarei a minha nova casa. Eram tantas mudanças que eu estava cansado, fisicamente e psicologicamente.

Entrei na casa encarando a bagunça de caixas e móveis por todos os lugares.

— Tem certeza que fez um bom negócio comprando essa casa? — Samuel pergunta, um pouco desconfiado de que eu não tenha feito um bom investimento.

— Eu pesquisei muito, vai por mim. A casa passou por uma reforma a cinco anos e os filhos queriam muito vender e dividir o dinheiro entre eles depois que o velho morreu.

— Ele morreu aqui? — Samuel faz o sinal da cruz me fazendo rir.

— Não, morreu em uma casa de repouso a uns três meses e os filhos colocaram a venda. Eu não posso mais morar em um lugar apertado, e como o emprego aqui é fixo, preferi comprar uma casa. Gostei da casa pelas fotos e gostei ainda mais quando vim visitar. Você viu a vista da janela do meu quarto?

— Tá falando a janela que dá pro quarto da casa ao lado? Só vale a pena se a vizinha for gostosa — Reviro os olhos.

— Não babaca, estou falando da outra janela, aquela que dá visão para as montanhas. Você não viu? — Ele nega sorrindo.

— Já sabe quem mora aí do lado? Tomara que seja uma vizinha tarada bem boazuda, você está precisando— Rio.

— Você não vale nada e respondendo sua pergunta, acho que não mora ninguém, porque está sempre tudo fechado.

— Que pena, mas vamos trabalhar porque eu tenho que voltar hoje ainda para São Paulo.

— Por que a pressa? — Pergunto.

— Agora eu sou um homem comprometido, ou você esqueceu? — Começo a rir.

— Me desculpa senhor comprometido, mas é melhor carregarmos essas caixas para o andar de cima.

— Você que manda, capitão — Ele bate continência.

Levamos horas, mas conseguimos montar todos os móveis. A caixas seriam esvaziadas aos poucos depois. Porque seria muito trabalho para um dia só.

Cheguei uma semana antes das aulas começarem, justamente para ter tempo para ajeitar tudo.

As coisas haviam acontecido tão rapidamente. Primeiro a viagem para a Nigéria, onde eu pude aprender mais sobre a vida do que em todos os anos que estive aqui no Brasil. Foi o lugar onde me tornei pai e com toda a certeza, um ser humano melhor.

Anaya havia ficado em São Paulo com Luana, a noiva do Samuel, já que eu tinha mil e uma questões para resolver aqui. Tanto os ajustes referentes a casa, quanto ao meu novo trabalho.

Era fim de tarde, quando Samuel tomou um táxi até o aeroporto e me vi sozinho naquela casa razoavelmente grande. O primeiro andar era composto de sala de estar e jantar, cozinha, um banheiro social, cozinha e um quarto de empregada. No andar de cima havia quatro quartos, sendo todos eles suítes e uma sala ampla. O quintal era bem grande e com certeza Anaya seria muito feliz ali.

Eu queria apagar todo o sofrimento que já foi imposto a ela, e faria tudo que estivesse ao meu alcance para conseguir. Quando finalmente obtive sua guarda, resolvi que o Rio de Janeiro não seria mais minha casa, tanto pelas lembranças do meu passado, quanto pela violência. E infelizmente no passado da minha filha já havia violência demais.

Querido ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora