O capítulo que a Mía vai pra Seattle

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 Laura acreditava que o dia não seria bom, já havia começado com maus presságios. Mia acordara com febre e tossindo bastante, dizia que talvez fosse a mudança de clima durante a noite, já que amanheceu chovendo.

Mesmo com todos os argumentos de Mia para que Laura fosse pra aula, ela acreditava fielmente que era um sinal dos cosmos para que ela não fosse.

— Talvez tenha um terremoto — dizia Laura quase histérica andando de um lado pro outro no quarto de Mia —, ou um furacão, tufão ou um apocalipse zumbi.

Mia apenas queria ignorá-la, não tinha paciência pra aquela conversa às sete da manhã nem quando estava sadia, muito menos doente. Essas ideias de maus presságios pareciam bobagens para Mia, especialmente quando se lembrava de todas as vezes que Laura dizia isso, o que não era muito raro.

No Internato se Laura encontrasse a saia amassada dizia que era um sinal para que ela não fosse pra aula pois o aquecedor podia explodir perto dela, dentre outras mil superstições sem pé nem cabeça.

A única coisa que fez Laura se arrumar para ir para a aula foi Mia dizer que, na verdade, talvez ela encontrasse o futuro namorado. Assim que o som da grande porta da entrada principal foi ouvida, Mia se virou para voltar a dormir, mas parecia estar se sentindo ainda pior, a chuva estava mais forte e o chão estava gelado.

Precisava de um remédio, era a única coisa que Mia pensava enquanto andava em direção a cozinha. Essa ideia de guardar os remédios nas prateleiras do balcão parecia ter sido péssima quando se está doente e sozinha.

O telefone começou a tocar, até o telefone fixo parecia uma péssima ideia quando se está com dor de cabeça. Mia deixou tocar esperando que, seja lá quem fosse, desistisse, mas continuou tocando até convencê-la de atendê-lo.

Mia de San Martín? Aqui é o doutor Joseph Black, do Hospital de Seattle...

Laura caminhava pelos corredores da Wellfster pensando no que Mia havia dito, quem sabe estivesse certa? Podia encontrar seu grande amor, não podia ser difícil, faziam quase dois meses que estava em Slowtown, estava quase realmente acreditando que nada acontecia nessa cidade.

Não que Laura fosse uma desesperada ou algo assim, mas dez anos num internato feminino causa esse tipo de sentimento, ao menos ela preferia acreditar que sim. Enquanto caminhava nada parecia diferente.

Enquanto assistia aula, nada estava diferente.

Nem a aula seguinte.

Nem o almoço, exceto por Ethan não ter aparecido, o que era ótimo.

Nem nas outras aulas seguintes. Estava tudo um tédio, nada excepcional, nada diferente, nada incrível.

Pensar nisso também fez Laura pensar que ao menos nada de ruim tinha acontecido também, fazendo-a fechar os olhos e soltar um suspiro aliviado.

Ao abrir, Ethan a encarava.

— Ah não! — disse Laura tapando o rosto — O que você quer?

— Nunca tinha visto teu cabelo num lugar mais claro, ele é ainda mais... — dizia ele.

— Teu cabelo é azul — Laura disse como se falasse a coisa mais evidente do mundo —, não existe nada no mundo que seja mais estranho que você.

Ethan e Laura continuaram discutindo, parecia que somente quando eles se encontraram deus inventou as línguas pra que eles não conseguissem se entender, de jeito nenhum. Somente depois alguns palavrões Laura notou que havia um rapaz atrás de Ethan, mesmo sendo mais alto que ele.

— Agora que notei, onde tá a Mia? — perguntou Ethan coçando a cabeça.

Independente de qualquer relação que Laura tivesse com qualquer pessoa, quando ela falava de Mia sempre falava séria, então contou o que tinha acontecido pela manhã e que provavelmente iria embora mais cedo para levar alguma coisa pra amiga.

Entre nós e laçosOnde histórias criam vida. Descubra agora