O capítulo do dilúvio

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 — Não sei se é minha ressaca ou esse dia está horroroso — disse Lucas afastando a cortina para olhar o céu cinzento, bocejando. Mas logo saíra e se sentou no sofá junto com Laura e Angel.

— Como foi teu trabalho ontem, Angel? — perguntou Laura.

— Trabalhoso — ela suspirou se esticando no sofá —. Às vezes me questiono por que faço certas coisas na minha vida.

Não demorou muito para que começasse a chover, o ano não tinha começado há tanto tempo assim, mas aquela já era a pior tempestade — o suficiente para sair nos jornais locais.

Toda a população acabou ficando ilhada devido à quantidade de chuva que não conseguia escorrer a tempo pelos bueiros. Plantas mexiam de um lado para o outro e restaurantes estavam fechando.

ATLANTA, GEÓRGIA, ESTADOS UNIDOS.

O céu estava lindo em Atlanta quando Julieta e Abraham chegaram ao aeroporto e foram buscados pela equipe da série. A temperatura estava amena e um sol aparecia no céu azulado, altos prédios e arranha-céus mostravam por que aquela cidade era considerada uma cosmopolita, explicava também porque pessoas do interior estavam sempre querendo se mudar para as capitais estadunidenses.

Abraham olhava a cidade fascinado pela janela do carro sedan que estava. Viadutos, túneis, prédios que pareciam cortar as nuvens, rasgar o céu brilhoso e bonito que estava naquele dia, aquilo era incrível demais e o fazia sentir um embrulho de estômago por nervosismo, nunca tinha vivido aquilo, nunca tinha visto uma cidade como aquela.

Não demorou para serem explicados que o set das filmagens era em uma cidade vizinha e assim seguiram até finalmente encontrarem o restante do elenco, produtores, e todas as pessoas que colaboravam para aquilo ser possível. Depois de todas as devidas apresentações Julieta fora pessoalmente apresentada ao amigo americano de Abraham, Larry Jordan, um rapaz de quase trinta anos que já havia criado algumas obras anteriores.

Fazia filmes que, como aquela série, eram obras independentes que recebiam patrocínios de empresas, etc. Seguidamente Abraham já fora vestido para fazer seu papel: um jovem russo que fugiu para o "Tio Sam" para fugir da homofobia soviética dos anos trinta. Ele não seria um dos protagonistas, apenas um coadjuvante de três episódios que explicaria alguma coisa para os personagens no tempo atual.

Julieta assistiu o primeiro contato que Abraham teve com isso, ele parecia demasiado desconfortável em atuar "contra" o próprio país, mas fora logo incentivado pelos outros colegas de que isso era ser um ator, às vezes ele teria de estar até contra ele mesmo.

NOVA IORQUE, ESTADOS UNIDOS.

Não tão longe dali Mia e Ethan chegaram a mansão dos San Martín. Ambos foram recebidos pelos empregados do senhor San Martín e foram levados para a vasta sala com piso de madeira e grandes janelas que davam para a vista mais bonita de Nova Iorque. Don estava sentado em uma poltrona cinza de uma parte dos três grandes salões que ali eram divididos, tomando café e lendo um jornal.

Ethan sentia no peito um sentimento que ele acreditava que não existisse — nem sequer havia pensado sobre ele —, o medo. Não que ele fosse o mais corajoso dos homens, porque não era nem de longe, mas sempre lidou da maneira que pôde com as coisas, exceto a ideia de fingir ser alguém que não era e ainda ter que fazer isso na frente do sogro.

Sogro. Ethan sorriu de lado tentando conter a, em parte, excitação que sentia ao conhecê-lo, mas não pôde deixar de reparar até no chão que pisava. Ele conhecia Scar, é claro, sabia quanto dinheiro ele tinha, mas não conseguia imaginar Scar morando num lugar como aqueles — apesar de que se dependesse de seus pais ele moraria.

Entre nós e laçosOnde histórias criam vida. Descubra agora