— Ei, olhem para esse rosto — dizia um menino com fisionomia asiática, o que ele falava não era muito compreensível —, ele não merece uma cicatriz por causa dessa cara de desentendido?
Fora o locutor havia outros três garotos que riam e também tinham os mesmos traços asiáticos. Era um beco e havia fumaça no céu de algum provável restaurante ali perto, os quatro garotos vestiam roupa de um colégio qualquer, eles riam entre uma frase e outra.
O beco estava entre duas ruas que não pareciam pertencer a bairros muito abastados da cidade, os quatro riam e desdenhavam.
— Eu não entendo muito bem o que dizem, falem devagar, por favor — dizia um garotinho tentando se levantar do chão que havia caído e ralado o joelho instantes antes.
Um dos garotos tinha o cabelo cortado reto e ia até o meio da testa, ele vestia um pequeno short de tecido que fazia parte do uniforme do colégio, ao ouvir o garotinho pronunciar aquelas palavras ele soltou a mochila que carregava nas costas, furioso.
Num minuto ele puxou o garotinho pelo colarinho e abriu um canivete que estava no bolso.
— Eu vou arrancar esse olho fora para você aprender a falar com a gente — disse ele.
Scar acordou assustado mas não se moveu um centímetro, o coração parecia que ia sair pela boca a qualquer instante. O sofá de couro do quarto do hospital não era lá confortável, mas depois daquela porcaria de sonho Scar não sabia mais se o problema era o sofá.
Ethan estava deitado na cama hospitalar na sua frente, a noite havia sido terrível pois Scar não conseguia dormir — também pelo fato de que médicos e enfermeiros entraram o resto da madrugada para fazer exames.
Pequenos feixes de luz entravam pela janela de vidro que era coberta por uma grossa cortina branca, de alguma maneira o céu estava aberto mesmo sendo meados de janeiro.
Scar levou a mão ao peito, o coração ainda estava acelerado, às vezes acreditava que jamais pararia de ter pesadelos como aquele, ele suspirou ao ver que ainda estava no mesmo quarto da noite passada.
Na noite anterior Mia de fato fora embora sem se despedir ou dizer algo que fizesse sentido, mas as palavras de Scar talvez tenham causado, ainda que minimamente, alguma coisa em quem ouvira já que logo após aquilo todos foram embora.
Ele passou a mão nos cabelos e coçou a cicatriz que latejava, até se sentiu melhor depois que todos foram embora, eram vozes demais ao mesmo tempo que o estavam deixando impaciente.
O médico responsável também apareceu no tardar da noite anterior, perguntou se Scar sabia algum número de contato dos familiares de Ethan mas ele mentiu dizendo que não. A pobre família Rodgers estava tentando superar um luto, não seria muito sensato "presenteá-las" com mais uma notícia.
Antes que ele pudesse pensar sobre isso a senhora Rodgers e Aimée, a irmã mais nova de Ethan, adentraram dentro do quarto com um buquê de rosas. Senhora Rodgers estava envelhecida e cheia de olheiras pela provável noite inteira chorando o que lhe era merecido já que o senhor Rodgers era o marido que ela havia escolhido.
Aimée nada parecia com Ethan fisicamente mas estava terrivelmente abalada junto com a mãe, ao ver Ethan ela pareceu sentir-se ainda pior — e deveras.
— Scar — a jovem disse se aproximando com os olhos tom de mel nadando em lágrimas —, obrigada por tê-lo trazido, o médico disse que se não fosse pra cá ele teria morrido.
Scar franziu a testa e apertou o ombro por cima da camisa de algodão que Aimée vestia numa tentativa de consolo. Ele não era o melhor naquilo e ainda estava pensando como diabos elas souberam disso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre nós e laços
Storie d'amore"Entre nós e laços" conta a história de nove jovens que estão descobrindo sobre a vida adulta com amizades, paixões, intrigas, inveja, sexualidade e muito drama na cidade interiorana fictícia de Slowtown, que parece que nada acontece. Mia, também co...